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Sinopse

Um grupo trabalha subaquaticamente a onze mil metros de profundidade quando algo causa a destruição da estação e expõe a equipe ao risco de morte. Eles são obrigados a se aventurar pelas profundezas marítimas, com quantidade insuficiente de oxigênio para sobreviver. No entanto, conforme se deslocam pelo fundo do mar, descobrem a presença de uma criatura mortal.

Crítica

Se a distribuidora brasileira quisesse encontrar um título alternativo ao pouco memorável Ameaça Profunda para nominar o novo filme estrelado por Kristen Stewart, poderia muito bem ter utilizado Quero Ser Alien: O Oitavo Passageiro. Desde a tipografia do original, Underwater, até lógicas narrativas bastante específicas, a serem sinalizadas em seguida, muito remete ao longa-metragem paradigmático de Ridley Scott. Tanto que, após a boa sacada das manchetes contextualizando rápida e suficientemente a atuação da megacorporação mineradora em profundezas aquáticas nunca dantes exploradas, há o sintomático plano fixo de um corredor longilíneo, alusivo à fonte de inspiração de tal forma ostensiva que parece ser possível ouvir o diretor pensando: “vocês não conseguem saber se estão submergidos ou no espaço sideral, não é?”. Conjecturas à parte, é exatamente essa lógica de uma escalada gradual de horror num ambiente hostil, inclusive pelas dificuldades decorrentes de qualquer evasão ao exterior, na qual se edifica esse filme totalmente genérico.

Os personagens de Ameaça Profunda são cascas, arquétipos, algo que poderia ser funcional desde que o cineasta William Eubank não insistisse em tentar preenche-las com estofos surrados, vide a perda de entes queridos e a paixão por colegas de trabalho. Norah (Stewart), mulher de ação obviamente decalcada da protagonista de Sigourney Weaver na Saga Alien, é convenientemente uma engenheira entre os sobreviventes do colapso que atinge a estação de perfuração no fundo do oceano. Suas habilidades mecânicas são vitais para que colegas desesperados tenham suporte em máquinas quebradiças, ajuda com portões que teimam em não abrir nas horas inoportunas e com trajes dos quais depende a manutenção da vida dos trabalhadores. Ao seu redor, um time de figurantes que valem o quanto pesam suas características pessoais mal enjambradas pelo realizador. Há o superior nobre, a amedrontada que pode colocar tudo a perder e o alívio cômico (sem graça).

Ainda sobre essas figuras ocas, ocasionalmente com alguma subjetividade que minimamente as distancia do mero decalque sem personalidade, existe o sujeito meio neutro servindo de objeto romântico para alguém importante. Em Ameaça Profunda os criadores apostam todas as fichas na naturalidade da tensão oriunda desse confinamento ameaçado por um agressor de proporções e feições desconhecidas. Porém, se esquecem de criar o terreno próprio à instauração de uma atmosfera genuinamente asfixiante. Sobram planos desconexos e vislumbres de intérpretes pouco expressivos, cuja representação de angústia, por exemplo, é insuficiente para gerar empatia no espectador. A questão espacial, tão pontuada como essencial ao êxito dos intentos de sobrevivência, é absolutamente negligenciada ao longo da trama, com distâncias não sendo devidamente estabelecidas enquanto elemento de pressão. Disso deriva a pouca adesão emocional e o enfado crescente.

Ameaça Profunda também é completamente comum quando acena ao horror. Ainda dentro da ligação umbilical com Alien: O Oitavo Passageiro (1979), há a morfologia do filhote capturado, praticamente igual aos extraterrestres gestados na barriga dos hospedeiros. Para completar essa cópia sem, ao menos, áreas de reverência aberta, lá pelas tantas Kristen Stewart percorre os caminhos estreitos e molhados vestindo trajes sumários, emulando as passagens da Saga Alien em que Ellen Ripley desafiava, assim, pouco vestida, os estereótipos atrelados aos heróis de ação masculinos. O filme de William Eubank vai somente empilhando circunstâncias limítrofes, delineando-as bem mais a partir de simples dispositivos de exposição do que se esforçando para construir um clima autêntico de urgência e tensão. Chega-se ao cúmulo de, na iminência de um ato heroico, o equipamento milagrosamente garantir que a mocinha abnegada acabe fazendo a coisa certa.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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