Crítica
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Sinopse
Phillip é um homem rico que fica tetraplégico após sofrer um acidente. A situação o deixa desgostoso com a vida, ainda que esteja sempre rodeado de enfermeiros e pessoas para ajudá-lo. Até que um dia, durante a seleção de um assistente, simpatiza com Dell, um jovem com registro criminal que não tem a menor experiência na função. Philip decide contratá-lo e, ao seu lado, reencontra o prazer pela vida.
Crítica
Remake do sucesso francês Intocáveis (2011), que, por sua vez, baseia-se numa história verídica, Amigos Para Sempre traz mudanças significativas em relação ao filme original. O longa-metragem de Éric Toledano e Olivier Nakache é centrado na improvável amizade de um imigrante africano, atualmente em situação de miserabilidade na França, com um ricaço tetraplégico. Ao invés de conflitos, essa aproximação gradativa causa mútua ressignificação de vida, ou seja, afeta a ambos. É possível encontrar em tal interação inesperada uma metáfora do próprio país europeu, com o homem branco representando a estagnação da nação, então dirimida pelos atos contínuos do imigrante que, portanto, promove uma bem-vinda integração por meio da ação. No longa-metragem de Neil Burguer, essa camada simbólica é perdida, dando lugar para uma banal trajetória de redenção familiar. A nova versão não se fundamenta no elo entre os protagonistas, mas na jornada de Dell (Kevin Hart) para reconquistar o respeito e o afeto do filho e da ex-esposa. Os problemas começam por aí.
Amigos Para Sempre reforça, sobremaneira, o estereótipo do pai negro negligente, cuja conduta passa pelo tratamento distante de seu rebento num outrora nem tão remoto. Para o realizador estadunidense é, assim, mais relevante investir nas tentativas reiteradamente frustradas de retomar o carinho filial que necessariamente oferecer consistência ao percurso encarregado de levar o ex-presidiário a ganhar a confiança e a afeição do deficiente vivido por Bryan Cranston. Aliás, essa operação de deslocamento, numa comparação com Intocáveis, restringe demasiadamente Phillip a momentos bem pontuais de importância visível. Tudo relativo a ele carece de peso dramático, da forma como reage à mudança do status de seu romance epistolar à frustração que advém do encontro malfadado pelas expectativas. Nicole Kidman é outra personalidade apagada no decurso da trama, restrita a um par de cenas nas quais desempenha, sem variações e/ou nuances, o papel de funcionária sisuda, aquela a quem Dell precisa ”dobrar” para se estabelecer no novo emprego.
Se Intocáveis é nutrido, especialmente, pelo carisma de Omar Sy, o mesmo não se pode dizer de Amigos Para Sempre, especificamente por conta do trabalho somente mediano de Kevin Hart. Comediante de origem, ele até se esforça para imprimir solenidade ao personagem em momentos estratégicos, mas passa longe de gerar magnetismo e empatia como o colega francês. Sua composição se alimenta dos lugares-comuns acerca de sujeitos que tomaram caminhos errados no passado, empenhados em mostrar uma mudança significativa. Aliás, Neil Burguer investe nas convenções, suprimindo das pessoas as suas singularidades em prol dos papeis que elas ocupam dentro de uma sociedade pouco escrutinada pelo roteiro. O amor de Phillip pelas artes eruditas e a inicialmente cômica reação de Dell ao que ele considera riscos sem valor ou sonoridade soporífera acabam perdendo espessura pela forma leviana com que os dados são dispostos. Nem a apresentação de Aretha Franklin ao sério bilionário alcança notas suficientemente resistentes a uma mirada criteriosa.
Não bastasse a perda significativa de estofo com a transposição do enredo para os Estados Unidos, isso sem o mínimo esforço para temperar o vínculo entre Dell e Phillip com algo para além do superficial, outras mudanças soam canhestras e contraproducentes. Os demais empregados são meras peças mal enjambradas, inclusive a fisioterapeuta interpretada por Golshifteh Farahani. Porém, ninguém desempenha uma função mais tortuosa que a figura encarnada por Nicole Kidman. Ela chega a ganhar um desfecho muito insuspeito, movimento que deveria funcionar como virada surpreendente, mas que acaba sendo apenas outro passo em falso. Amigos Para Sempre erra a mão ao abordar frivolamente algumas discussões sérias, incorrendo em chavões, melosidades e afins para falar sobre a história factual que inspirou, até agora, três filmes – além do francês e do norte-americano, há Inseparáveis (2017), versão argentina. O dirigido por Neil Burguer é bastante frágil por si, e ainda mais prejudicado se ladeado com o ótimo Intocáveis.
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