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Sinopse

Após sofrer uma tragédia pessoal, o escritor Ben decide se tornar um cuidador. Depois de seis semanas de treinamento, conhece o seu primeiro cliente, Trevor, um adolescente com distrofia muscular. Os dois embarcam em uma viagem improvisada para todos os lugares que Trevor tornou-se obcecado assistindo ao noticiário local de TV.

Crítica

Você certamente já assistiu a incontáveis filmes de estrada, desventuras geralmente narradas em um automóvel e também classificadas como road movies. São igualmente populares os dramas com protagonistas que sofrem de alguma doença grave, e atualmente temos dois deles em exibição nos cinemas brasileiros: Como Eu Era Antes de Você (2016) e Truman (2015). Amizades Improváveis, lançado diretamente no serviço de streaming Netflix, reúne essas duas premissas com a difícil proposta de escapar do moralismo ou melodrama excessivos e recorrentes a estes subgêneros. O filme de Rob Burnett é razoavelmente feliz nestes aspectos, mesmo que não traga nada de novo ao segmento “comédia dramática independente de autoajuda edificante”.

Ben (Paul Rudd) ainda se recupera da perda de seu filho e empilha formulários de divórcio nunca assinados quando decide se tornar cuidador profissional de pessoas com necessidades especiais. Ele, então, abandona suas antigas aspirações como escritor e passa a cuidar de Trevor (Craig Roberts), jovem portador de uma doença degenerativa rara, tão incomum quanto seu senso de humor ácido e depreciativo. Como o título nacional da produção antecipa e haveria de ser, os dois se aproximam enquanto superam suas diferenças. E logo partem em uma viagem de carro pelos pontos turísticos mais peculiares do sudeste dos Estados Unidos. Na jornada de autodescoberta e superação – algo que a maioria dos road movies contempla – eles cruzam com Dot (Selena Gomez), uma garota em fuga, e Peaches (Megan Ferguson), que está grávida e precisa de uma carona.

Com diálogos afiados e divertidos, a relação entre Ben e Trevor segue os dilemas comuns às relações intergeracionais, algo que é amplificado por conta de suas condições singulares. Enquanto um procura pela expiação da culpa e da dor causada por uma perda, o outro tenta suprimir suas incapacidades motoras a partir das novas experiências que a viagem lhe proporciona. Adaptado do romance The Revised Fundamentals Of Caregiving, de Jonathan Evison, este é o segundo filme escrito e dirigido por Rob Burnett, que foi roteirista do programa de David Letterman por muitos anos. Ele intercala grandes momentos emocionais e cômicos, que gradativamente se tornam um pouco formulaicos. Algumas gags parecem originais em suas primeiras apreciações, porém a insistência em repeti-las a cada 10 minutos de projeção torna a experiência um pouco cansativa – como no humor (literalmente) de banheiro que percorre a realização de um antigo sonho de Trevor. A piadinha do doente que finge o próprio óbito, por sua vez, já está cansada desde A Cura (1995).

Paul Rudd é o maior trunfo de Amizades Improváveis. O carisma e charme característicos do ator servem muito bem ao seu personagem, que varia da fragilidade de um trauma ao escapismo das provocações que faz com aqueles ao seu redor. Craig Roberts, o simpático protagonista de Submarino (2010), tem timing e química equilibrados ao de Rudd, numa composição delicada possível apenas a um ator muito seguro de seu alcance dramático. A cantora pop Selena Gomez, limitada ao papel de coadjuvante, não faz muito além de ser o interesse romântico de Trevor; numa caracterização pouco convincente como rebelde sem causa, é interessante perceber sua inabilidade para fingir que está fumando ou para inserir pontuais palavrões entre suas frases.

Amizades Improváveis é muitos filmes em um só. O de estrada, o de amigos incomuns, o da disfuncionalidade paternal, o sobre o personagem encantador prestes a morrer, o edificante sobre redenção. São temas que permeiam tantas produções independentes norte-americanas que costumeiramente ganham o selo de qualidade Sundance – Amizades Improváveis foi o filme de encerramento do festival este ano. Trata-se de uma comédia dramática agradável e divertida, que, se não propiciar muitas lágrimas ou risadas, ao menos convida o espectador a fazer um checklist de todos os elementos supostamente necessários para uma inspiradora e graciosa sessão da tarde. A variação sobre o mesmo tema, e bastante superior, que você deve assistir se chama Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer (2015).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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