Crítica
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Sinopse
Do dia para a noite, Raphael acorda em um universo paralelo no qual nunca conheceu Olivia, o amor da sua vida. Agora, ele precisa reconquistar a sua esposa, mesmo sendo um completo estranho. Enquanto tenta entender exatamente o que aconteceu, corre contra o tempo para não perdê-la.
Crítica
Raphael ama Olivia. E Olivia ama Raphael. Mas nem sempre foi assim. Quando jovens, ainda colegas de escola, ele sonhava com ela imaginando os dois em grandes aventuras. Na fantasia, ele era Zoltan, o herói destemido, e ela era Shadow, tão poderosa quanto ele. Juntos, eram invencíveis. A realidade, no entanto, não foi tão certeira. A paixão veio, mas também se foi. Não de imediato, mas com o passar dos anos. Ficaram juntos, se casaram, e fizeram sacrifícios. Bom, ela mais que ele, que se tornou famoso com os livros que escreveu, enquanto ela meio que deixou de lado muitas das suas ambições, resignando-se em permanecer ao lado dele. Porém, quando no último livro, ele decide pela morte de Shadow, não era só à personagem que dava adeus. Era a uma vida em comum. Amor à Segunda Vista mostra não apenas o que ele estava perdendo, mas também o quão difícil seria recuperar aquilo que não mais reconhecia seu valor.
Raphael tem no melhor amigo, Félix, seu ponto de mais forte apoio. Os dois, que na adolescência eram unha e carne, agora possuem uma nova dinâmica: um é a estrela, enquanto que o outro é o assistente, aquele que lhe alcança o café sempre quente e vai buscá-lo em casa na hora certa. Ou seja, as duas pessoas mais importantes de sua vida – a esposa e o fiel companheiro – se tornaram meros detalhes de uma existência que oscila entre o enfado e a excitação simulada. Não será nenhuma novidade ao espectador que encontra esse quadro logo no começo do filme escrito e dirigido por Hugo Gélin (Uma Família de Dois, 2016) perceber que uma mudança faria bem ao protagonista. A surpresa vem, no entanto, quando essa se dá, literalmente, da noite para o dia. Ele adormece e, ao acordar, sua vida mudou por completo. A única coisa que permanece igual é ele mesmo, o único a recordar do que tinha e, portanto, obrigado a lidar com o novo cenário que encontra.
E o que mudou, portanto? Absolutamente, tudo. A mais importante de todas: Olivia nunca chegou a entrar na vida dele. Algo radical, mas suficiente para fazê-lo se dar conta da importância dela em sua própria existência. Se antes haviam chegado a um ponto de não mais valorizá-la, agora tem a nítida visão de como seria sua existência sem ela por perto: assim como o amigo, se tornou um professor do ensino médio, frustrado e emocionalmente instável, trocando de namorada a cada semana, ao mesmo tempo em que jogou no fundo da gaveta as aspirações de um dia virar escritor. Enquanto isso, é ela a famosa da vez: se realizou como uma pianista celebrada no mundo inteiro, além de estar noiva de um homem declaradamente apaixonado. Ela, portanto, parece ter se virado muito bem sozinha. O que sobra para ele, então?
É nesse ponto que a comédia romântica, no esforço de se encaixar aos padrões pré-formatados do gênero, atropela a lógica em busca de uma conclusão tão óbvia quanto desprovida de razão. Ele se dá conta de que a única maneira de ter sua vida de volta aos eixos e conquistando-a novamente. Ou seja, é o egoísmo que o move. Afinal, ela está muito bem nessa realidade alternativa – melhor, aliás, do que quando estavam juntos. O infeliz é ele, e por isso irá fazer o que estiver ao seu alcance para recuperar o que já teve, e do qual não consegue esquecer. Mas, enfim, o que ele tanto busca: um amor que antes havia desaparecido, e que aqui sequer existiu, ou um sucesso que o encheu de louros, na mesma medida em que esvaziou sua alma e coração?
Talvez seja por esse questionamento que Amor à Segunda Vista consegue escapar da vala comum a que se destina a grande maioria das produções similares que, tal como ela, parece relevar qualquer incongruência desde que, no final, o casal anunciado nas primeiras cenas termine um nos braços do outro. Raphael estava errado antes, e continua assim. É ele que precisa mudar, portanto. François Civil, uma das revelações do momento no cinema francês, se sai bem como esse tipo em crise, e convence tanto na faceta arrogante, como ao se arrepender dos passos dados em falso. E ele cresce por contar ao seu lado com o talento de Joséphine Japy, eficiente em transmitir apenas no olhar a sutil complexidade em que sua personagem habita. Os dois funcionam bem juntos, e o conjunto se mostra válido menos pelo que mostra, e mais por tudo aquilo que deixa apenas encaminhado, sem ter que, necessariamente, explicitá-lo. A linha entre os dois caminhos é tênue, mas acaba fazendo toda a diferença.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6 |
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