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Sinopse

Dois grandes amigos decidem explorar uma ilha que fica próxima às suas casas. Lá eles encontram um homem foragido que está à espera do grande amor de sua vida.

Crítica

O interior dos EUA não é uma paisagem que costumamos ver no cinema. Nosso imaginário é muito mais íntimo das grandes cidades estadunidenses, das avenidas nova-iorquinas, das ladeiras de São Francisco, das vielas de Chicago, enfim, da urbanidade. Geralmente são os filmes menores que perscrutam as paisagens periféricas, estas muito estranhas aos nossos olhos estrangeiros. Em Amor Bandido, Jeff Nichols, diretor cujo trabalho anterior, o forte O Abrigo (2011), havia lhe credenciado como digno de atenção em meio aos inúmeros que surgem, circunscreve a trama num desses lugarejos onde o progresso parece alienado ante a tradição capital da vida interiorana. O efeito mais evidente é não sabermos ao certo a época na qual o longa se passa.

Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) são dois garotos às voltas com problemas familiares e questões inerentes à puberdade. Ao transgredir os limites de sua navegação no rio, eles encontram o enigmático Mud (Matthew McConaughey) numa ilha. Ellis e Neck passam, então, a servir de elo entre esse contador de grandes histórias e a cidade que, além de ter os suprimentos necessários, fervilha de perseguidores ávidos por vingar-se do tal homem guiado pela devoção à paixão de sua vida, a bela Juniper (Reese Witherspoon). O sentimento que a tudo busca vencer, responsável por transformar o apaixonado num aventureiro destemido, seduz especialmente Ellis, para quem Mud soa heroico, modelo a ser seguido e, portanto, ajudado.

Mesmo batizado originalmente com o nome do personagem de McConaugheyAmor Bandido é protagonizado por Ellis, menino que encontra uma causa pela qual lutar em meio a separação de seus pais e a iminente mudança para a cidade. Nichols injeta em seu filme uma leve aura fantástica, não por qualquer intrusão de elementos acima da compreensão humana, mas ao revestir quase todas as figuras com fina camada de mistério. O faz, também, remontando alguns filmes oitentistas, principalmente Conta Comigo (1986), de Rob Reiner, com o qual guarda diversas semelhanças. Aliás, a década de 1980 foi fértil para o cinemão discutir a juventude americana num espectro que nos dizia respeito, pois calcado em certa universalidade da adolescência. Amor Bandido promove resgate nesse sentido.

Ellis, sobretudo, parece entender sua ligação com Mud tal se ajudasse um amigo pirata a recolocar caravela ao mar para resgatar sua amada presa pelos malfeitores que a fazem refém da vilania. Essa percepção entre a imaginação infantil e o ímpeto adolescente perpassa o filme e possibilita, por exemplo, que entendamos os personagens apenas como metáforas, mas também no que são literalmente. É importante em todo esse processo a figura paterna, espécie de âncora representada pelos pais biológicos ou por aqueles cujo comportamento serve de referência. Amor Bandido é, assim, sobre o inevitável crescimento, partindo da infância lúdica em direção aos mares, por vezes revoltosos, da mais pura realidade adulta.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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