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Sinopse

Vários personagens em busca do amor sincero. Jessie é contratada para organizar um casamento grandioso. Lawrence concorda em ter um encontro com uma mulher cega e espirituosa, isso após ter desistido da paixão.

Crítica

É preciso muita boa vontade para aproveitar qualquer um dos supostos pontos de atração de Amor, Casamentos e Outros Desastres, longa escrito e dirigido por Dennis Dugan. Para se ter uma ideia, esse é o primeiro filme do veterano cineasta após uma série de seis trabalhos feitos em sequência, todos estrelados por Adam Sandler (entre esses, estão Zohan: O Agente Bom de Corte, 2008, e Cada um Tem a Gêmea que Merece, 2011). Ou seja, são exemplos mais do que suficientes para que se tenha ideia do tipo de humor que o realizador procura. E o que faz questão de encontrar também por aqui, apesar dos níveis serem, ao menos num primeiro momento, mais elevados. Afinal, no elenco estão dois vencedores do Oscar – Diane Keaton e Jeremy Irons – e a trama parte de uma ideia criada pela roteirista Eileen Conn, duas vezes indicada ao Emmy pela série Mad About You (1993-1995). Sem esquecer que a estrutura assumida é a coral, a mesma que fez o sucesso de nomes como Robert Altman e Paul Thomas Anderson. Pois bem, mesmo com tudo isso, o recomendado é deixar de lado qualquer expectativa, pois por pior que se imagine, o resultado é ainda mais constrangedor.

Há, em tese, quatro linhas narrativas se desenvolvendo em paralelo. Porém, uma delas é não mais do que um argumento, servindo somente como ponto de partida e desfecho. Ritchie (Andrew Bachelor, de A Babá, 2017) é um guia turístico de boa lábia que se apaixona à primeira vista por uma garota após ela participar de uma das excursões coordenadas por ele. No final do passeio, os dois se desencontram e o rapaz fica sem seu contato ou como encontrá-la. A paixão aparentemente perdida cai nos ouvidos de uma jornalista, que leva ao caso para a televisão, gerando uma busca pela Cinderela desconhecida por toda a cidade. Nada de muito novo acontece entre um ponto e outro – o momento no qual se conhecem e a data que é divulgada para que a possível candidata, caso tenha ouvido o chamado, reapareça no lugar marcado e divulgado. E se algum desavisado por questão de segundos imaginar que talvez um dos casais propostos pela história fique sem sua metade, saiba de antemão que esse toque de realidade está longe de se aproximar do contexto aqui proposto.

Aquela que melhor se aproxima da condição de protagonista é Jessie (Maggie Grace, de Busca Implacável, 2008), uma planejadora de casamentos mais conhecida por destruir esse tipo de festa do que por organizar tais comemorações. Mesmo assim, é contratada para cuidar dos ajustes necessários para as bodas do futuro prefeito, causando desgosto no experiente – e mais tradicional – cerimonialista vivido por Jeremy Irons. Ele, como é de praxe aos personagens interpretados pelo ator, é um homem rígido e exigente, mas como o tom almejado é mais leve, há também aqui um ajuste. Sendo assim, bastam poucos argumentos contrários para que mude de ideia, seja a respeito de onde a fonte de taças deve ser colocada ou sobre uma possível candidata a namorada que lhe é arrumada por um casal de amigos, participação constrangedora de Diane Keaton. Isso porque a eterna Annie Hall surge com uma fotógrafa cega que, a despeito de sua condição, vive batendo nas coisas por onde passa e derrubando lustres, cadeiras ou enfeites. Visão curta, pelo que se percebe, tem os roteiristas, por imaginarem que uma deficiente visual serve apenas para piadas de encontrões e tropeços.

Nenhum dos personagens apresentados em Amor, Casamentos e Outros Desastres chega a ser minimamente elaborado. Todos são basicamente aquilo que apresentam num instante inicial, como se os estereótipos que lhes são servidos fossem o bastante. Um é tenso, a outra é descolada, há a desorganizada e o certinho, o nerd e a prostituta, e assim por diante. Em comum, como se percebe, há também a facilidade que possuem em se apaixonarem. Bastam uma troca de olhares ou duas linhas de diálogos para já estarem envolvidos com promessas de amor eterno. Quando é tudo tão superficial assim, não há como evitar uma sensação de artificialidade. O que até não seria tão problemático se, ao menos, o conjunto ficasse restrito a isso. Mas há mais. A participação de Keaton é a mais problemática, porém a competição é acirrada. O que dizer, por exemplo, dos participantes de um reality show que são literalmente amarrados um ao outro – quem resiste mais tempo junto, vence – sendo que ele é o bobo atrapalhado, e ela a malandra de bom coração que quer dar um golpe, ainda que no fundo revele ter um bom motivo para tanto?

Sem esquecer do músico que é deixado pela própria banda – e acaba caindo nos braços da única de todo o elenco que até aquele momento ainda não havia encontrado seu par – o mais previsível aqui é perceber que os outros desastres apontados pelo título é o longa como um todo, pois absolutamente nada que se tente consegue provocar o efeito desejado. É tanta coisa desconjuntada colocada lado a lado que nem mesmo os menos exigentes sairão incólumes dessa sessão. De provocações marqueteiras – o que é o desajeitado “momento bombom” entre Keaton e Irons? – a releituras improvisadas de velhos clichês – o fato do único personagem negro ser justamente o que mais sofre para se encontrar poderia ter sido revisto – este é um grupo de tipos e situações que sob nenhum aspecto demonstra habilidade ou encantamento, deixando a desejar tanto na graça como nas fracas tentativas de emular emoção. Se fosse apenas fraco, seria até um elogio. Mas vai além, percorrendo modelos preconceituosos e ultrapassados. A única certeza, portanto, é que qualquer um dos envolvidos poderia ter passado sem essa vergonha. Independente do lado da tela em que se esteja.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
1
Alysson Oliveira
1
MÉDIA
1

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