Crítica
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Sinopse
Katrina e Fernando são dois influenciadores digitais que bombam na internet. Ela é uma das blogueiras de moda mais famosas do país, e ele, falando sobre games e tecnologia, está à frente de um canal com um fiel público nerd. Os dois se conhecem quando Fernando usa suas habilidades tecnológicas para salvar Katrina de uma situação complicada. A partir daí, os universos se misturam e, para ficarem juntos, terão que enfrentar situações inimagináveis.
Crítica
Cada vez mais, a internet tem se confirmado como uma terra de ninguém. Seja no jornalismo, nas relações virtuais, e, de uns tempos para cá, também no cinema. E isso tanto na área de quem escreve sobre como quem também produz. Filmes nacionais recentes, como É Fada (2016), Eu Fico Loko (2017), e, obviamente, Internet: O Filme (2017) nasceram primeiro no mundo online. E se um ou outro conseguiu ter um retorno positivo junto ao público – principalmente entre os fãs já iniciados – é quase unânime o descaso por parte da crítica em relação a esses títulos. Bom, essa corrente tem tudo para mudar de rumo com Amor.com, longa que pode não partir da pseudo-fama das webcelebridades, mas faz desse universo o cenário de uma trama que habilmente joga com seus elementos para construir algo novo e, acima de tudo, eficiente em cada um dos seus objetivos.
Katrina e Fernando são youtubers. Ela construiu uma legião de admiradoras falando do mundo fashion, exibindo seus figurinos, abrindo as portas do seu guarda-roupa e divulgando marcas de roupas, acessórios e cosméticos que a deixem ainda mais bonita. Ele é um legítimo nerd, que vive enfurnado em seu quarto lendo histórias em quadrinhos, brincando com jogos de tabuleiro e action figures, e grava dicas de videogames que reúnem um grupo de seguidores fiel, ainda que não muito expressivo. Uma crise os coloca frente a frente e, contrariando qualquer expectativa, acabam se apaixonando. Em situações assim, qualquer cinéfilo que se preze já sabe o que irá acontecer: o namoro começa, apenas para que uma bobagem logo em seguida os separe e, após um tempo afastados, terminem um nos braços do outro declarando juras de amor eterno.
Anita Barbosa, diretora de Amor.com, não pretende reinventar a roda. E, felizmente, isso é algo bom. Sua longa experiência como diretora assistente de diversos sucessos recentes a deixou calejada suficiente para evitar exageros e clichês, navegando por eles de forma destemida, sem aspirar mais, ao mesmo tempo em que não se contenta com menos. Ela entrega exatamente o que dela esperam, porém atenta aos pormenores, preocupada com cada um dos detalhes que precisam funcionar para que uma produção do gênero atinja o efeito esperado. Para tanto, aposta numa dupla de protagonistas muito bem entrosada, em diálogos rápidos e precisos e numa ambientação que combina bem um ar contemporâneo e antenado com um discurso que não foge de questões fundamentais, como confiança, entrega e amizade.
Ísis Valverde já havia demonstrado ser mais do que apenas um rostinho bonito de novela em Faroeste Caboclo (2013). Em Amor.com, ela cria um tipo muito mais leve e solar do que a Maria Lúcia do drama inspirado na canção de Renato Russo. Isso não quer dizer, no entanto, que não se acredite nos dilemas que ela enfrenta, no que sente pelo namorado em confronto com seus anseios profissionais. E o melhor: ela funciona muito bem ao lado de Gil Coelho – os dois possuem uma química quase palpável. Ele, que até então só havia vivido personagens coadjuvantes na tela grande, tem aqui sua grande oportunidade, respondendo à altura do que dele se espera, compondo uma figura deslocada, porém não desajeitada por completo, que é possível enfrentar as mudanças pelas quais se sujeita, seja em nome de uma ambição no trabalho ou mesmo pelo desejo de fazer que a relação dê certo.
Amor.com é comédia romântica, sim, e sem vergonha nenhuma disso. E o melhor: é uma que funciona. Katrina fala de moda, mas não é superficial ou fútil, e tem consciência de suas opções e atitudes. Nando pode usar óculos, entender de informática e parecer um crianção, mas sabe o que está fazendo e tem noção das responsabilidades que vai assumindo. São pessoas reais e com as quais podemos nos identificar. E, acima de tudo, na viabilidade de uma atração concreta entre dois mundos tão distintos. E é por isso que filmes como esse são feitos, para reafirmar a fé dos eternos apaixonados de que, mais cedo ou mais tarde, poderão encontrar seu par perfeito. E ainda que recicle velhas fórmulas, faz isso com desenvoltura, sintonizado com os novos tempos e falando a língua de hoje, sem subestimar ninguém, nem demonstrar condescendência pelo tema. E isso, diante do atual cenário, já tá bom demais!
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Cecilia Barroso | 2 |
MÉDIA | 4.5 |
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