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Crítica


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Sinopse

Harley faria qualquer coisa por Ilya, pois o ama. Em meio a um jogo de comprovações amorosas, Ilya tem de lidar com seu vício em drogas.

Crítica

Depois da breve cena de amor, vemos o martírio da garota em busca do perdão do rapaz por quem é apaixonada. Harley (Arielle Holmes) implora atenção de Ilya (Caleb Landry Jones), propondo, inclusive, suicídio para provar arrependimento. A navalha corta a carne e faz jorrar o sangue após um ato tão desesperado quanto imaturo. Em Amor, Drogas e Nova York jovens perambulam pelas ruas da Big Apple pedindo esmola para sustentar o vício nas drogas e, só secundariamente, para garantir subsídios às necessidades que deveriam ser priorizadas. O sentimento que quase acaba em morte ensaia ser o condutor da trama, paradoxalmente uma luz, mesmo frágil, servindo de alívio à barra dos personagens que, sem perspectivas e muito menos forças para mudar de vida, transitam como zumbis, saindo do anonimato apenas quando arrumam encrenca ou algo assim.

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Amor, Drogas e Nova York é baseado no livro autobiográfico de Arielle Holmes, ela que interpreta a protagonista e, portanto, revive em cena eventos marcantes da própria trajetória. O olhar perdido da menina é mantido pela droga, consumida não importando a hora do dia ou a companhia. No que diz respeito à imagem e à sua expressividade, a câmera de Ben e Josh Safdie atua como testemunha ora colada ao corpo das pessoas, procurando capturar a textura de suas misérias, ora distanciando-se como observadora, evidenciando dessa maneira a solidão e a tristeza inerentes à atual condição delas. Não há uma visão paternalista ou moralista das figuras que subsistem à autodestruição em curso. A trilha sonora de Paul Grimstad e Ariel Pink se encarrega de sobrecarregar ainda mais o clima do filme.

Longe de sustentar discursos ou teses, Amor, Drogas e Nova York segue Harley e Ilya, mas sobretudo ela, num cotidiano marcado pela efemeridade. Mantendo-se por meio do tráfico, da mendicância ou de pequenos furtos, os personagens vivem um dia de cada vez, vislumbrando o próximo pico, esbanjando o pouco dinheiro ganho com a compra de bebidas e deixando para depois as responsabilidades. Nesse cenário, o amor do casal protagonista é um sinal de resistência, mesmo que esteja invariavelmente fadado à derrota pelas condições do entorno. Ben e Josh Safdie investem na noção da casualidade, rechaçando idealizar o romance como uma força que derruba qualquer barreira. A verossimilhança alcançada, principalmente em virtude das interpretações e do registro visual do longa, é imprescindível para que tudo não caia num lamaçal de sentimentalismos e superficialidades.

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Os pontos de virada são sutis, pois não há intenção de sublinhar as eventuais mudanças no caminhar de Harley e dos demais, pelo contrário. Ben e Josh Safdie enfatizam a inércia daqueles corpos cujo movimento é apenas aparente e enganoso, quando muito circular e reiterativo. A situação de total abandono não é imputada aos pais, à sociedade excludente ou a outro fator. Os motivos pouco importam nessa trama empenhada em constatar. As emoções são embotadas pelo entorpecimento diário, ou seja, a droga funciona como um placebo que provoca falso distanciamento dos problemas. Harley e Illya não representam uma geração, tampouco suas histórias se prestam a mensagens edificantes ou lições de moral. É um tipo de cinema que olha e vê. A observação, por certo não desprovida de pontos de vista, prescinde de apontar direções ou de impor opiniões, sem com isso perder a contundência.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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