Crítica
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Crítica
A cineasta holandesa Aliona van der Horst promove com Amor é Batatas uma claudicante exumação do próprio curso familiar, por ela até então ignorado. Sua mãe padece de uma doença degenerativa, sendo impedida de comunicar-se, embora tenha lucidez para compreender o entorno. A morte de uma tia na Rússia leva ao encontro paulatino com o passado duro de sua linhagem que, como tantas, sofreu sob o jugo do governo de Josef Stálin. Quase todo longa-metragem transcorre entre as quatro paredes da casa prestes a tombar, deixada como espólio a três primos, entre eles a realizadora. Em meio à investigação física do imóvel, do revirar de caixas e do interior em busca de algo a salvar, ela dialoga com Sasha e Tanya no intento de desenhar a retrospectiva dos seus, acessando a história da Rússia, especialmente o período controverso em que muitos foram vítimas de barbaridades, tais como entregar a colheita ao Estado para alimentar o exército, com isso passando fome.
Alguns procedimentos formais são bem explorados inicialmente, porém perdem força dramática ao longo de Amor é Batatas, seja em virtude da repetição ou da frágil exploração de suas tantas possibilidades. É o caso das animações que dão conta do aspecto lúdico da reconstituição de episódios pontuais, como os camponeses trabalhando a terra sem poder lograr dela sustento. É realmente uma pena que Aliona não consiga estabelecer um crescendo dramático a partir da expressividade visual dos desenhos. Eles denotam o estado de melancolia vigente outrora, desvelado nesse processo simples de arqueologia, inclusive afetiva. As nódoas temporais, visíveis na casa carcomida, são como uma herança desse regime malfadado que, segundo as palavras de alguns remanescentes, oprimiu o povo em prol de uma ideia sobressalente de nação. Contudo, o mais relevante instrumento, enquanto fluxo narrativo, é a “voz” da mãe de Aliona, reproduzida graças as cartas escritas.
As palavras pretéritas da genitora, encadeadas para estabelecer uma dinâmica cronológica reconhecível, contrastam com sua atual incapacidade de conversação. Mesmo contendo potenciais de diversas naturezas, da pessoal à histórica, o recurso é utilizado de maneira ordinária pela cineasta, que não lhe oferece variações. Amor é Batatas demonstra pouca inventividade cinematográfica, especialmente por conta da submissão aos ditames de um roteiro estanque e engessado, marcado pela mera ilustração dos excertos epistolares, com instantes de exceção que acabam confirmando a regra. A entrada em cena da tia Liza, que nega veementemente a penúria de antes, ou seja, contradiz as irmãs e vizinhas, testemunhas de uma infância repleta de dores, permite a inserção de novas camadas. Mas, elas são exploradas superficialmente, corroborando a dificuldade diretiva de aproveitar oportunidades valiosas no âmbito familiar e, principalmente, no social, este deflagrado tímida e banalmente.
A presença de Aliona van der Horst diante da câmera reforça a tendência à consanguinidade como elemento nuclear, via pela qual ela passa a conhecer profundamente a mãe. Em dado momento, a prima Tanya menciona que todas as mulheres da geração anterior possuem em comum o traço da frieza, provavelmente fruto da sucessão de dificuldades impostas por um regime que colocou a coletividade acima do indivíduo, custasse o que fosse. Esse é outro exemplo de desperdício, já que, assim como vários componentes, surge na telona somente enquanto curiosidade, ocasionalmente atingindo patamares emocional ou discursivamente relevantes. Amor é Batatas possui uma estrutura que não favorece a conexão profunda com a trajetória dessa família, tampouco a dimensão menos rasteira das atrocidades cometidas em nome de Stálin. Politicamente, acaba sendo mero apontamento, sem profundidade. Intimamente, se atém aos contornos primários e básicos.
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