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Crítica


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Sinopse

Ami Shushan, jogador de futebol israelense, é forçado pelo chefe da máfia local a se passar por homossexual como punição por flertar com sua namorada. Shushan é rejeitado por jogadores e fãs de sua equipe, mas se torna um herói da comunidade gay.

Crítica

O único atrativo de Amor em Jogo – provavelmente o que o está fazendo chegar ao circuito comercial brasileiro – é a presença de Gal Gadot no elenco. Este longa-metragem israelense foi rodado antes da atriz se transformar na Mulher-Maravilha do Universo DC. E, curiosamente, se no blockbuster baseado nos quadrinhos ela interpreta uma mulher forte, nesta comédia torta e recheada de vulgaridades Gadot encarna uma personagem bastante questionável pela forma como lida, apenas da boca para fora, com a subserviência aos machos circundantes. É por flertar com essa jovem “comprometida” com um gângster local que o protagonista, o astro do futebol Ami Shushan (Oshri Cohen), se mete numa enrascada daquelas. O bandido o obriga a convocar uma entrevista coletiva para “anunciar” a sua homossexualidade. E o que poderia, mesmo bem simploriamente, se transformar numa jornada de real aprendizado, vira um desfile de bobagens.

São tantos os problemas de Amor em Jogo que fica difícil estabelecer uma hierarquia deles. Claro que há a homofobia decorrente da “punição” imputada a Shushan, com os colegas de vestiário fazendo troça da orientação sexual recém-assumida e os torcedores hostilizando o atacante nas arquibancadas, independentemente do seu desempenho em campo. Embora isso seja infelizmente crível, não há um ímpeto de criticar, mesmo que superficialmente, a conjuntura preconceituosa na base da discriminação. O próprio boleiro está mais preocupado com perdas e ganhos financeiros, passando longe de exatamente criar empatia por uma população constantemente agredida. Quando a fama de “jogador gay” rende dividendos, o rapaz nem mais se incomoda tanto com a mentira sustentada para sobreviver. O filme poderia afrontar essa conduta, mas prefere fazer ouvido de mercador e, inclusive, entender o twist como uma compensação bem-vinda.

Amor em Jogo tem diálogos constrangedores, como quando o contraventor Kushi Bokobza (Eli Finish) se refere desta forma à amada, em meio à imposição de uma cirurgia para implante de prótese mamária: “Você é como um belo apartamento, mas sem sacada para a gente tomar um sol”. É compreensível que a jovem vivida por Gal Gadot tenha medo de contrariar o pretendente agressivo, mas a falta de substância da personagem aponta a uma sujeição não completamente delineada pelo medo. Sequências tolas, tais como Shushan vencendo a resistência de ortodoxos com suas habilidades futebolísticas, são frequentes, o que torna o longa um desperdício quase completo. A comunidade LGBTQI+ é vista de modo absolutamente tipificado. E, irônico, o que mais deflagra isso é a campanha dos ativistas gays contra “os estereotipados”. Ora, ao invés de abraçar a diversidade dos seus integrantes, o grupo, para “vender-se”, está em busca de padronização?

Ami Shushan, mesmo discursando publicamente em favor dos homossexuais, num encerramento bobo, apenas consegue de volta seu status outrora perdido por, imaginem, voltar a "ser" heterossexual. Dentro das circunstâncias apresentadas, seria querer demais do cineasta Shay Kanot que colocasse, ao menos um pouco, em perspectiva as condutas homofóbicas dos demais jogadores do time e da torcida. Tudo se resolve, como num passe de mágica, quando o protagonista volta a encaixar-se no padrão mais aceito socialmente. Ele pode até ter apoiado a causa gay num ato isolado, para poucas pessoas, mas retorna aos braços da mídia por desmentir o que o desgraçara diante da opinião pública. Amor em Jogo passa muito distante de afrontar o preconceito, utilizando-o como catapulta para o esportista reencontrar o caminho da fama, nem bem apostando num possível aprendizado. Além disso, as cenas do jogo são tão mal filmadas que não convencem.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
2
Francisco Russo
1
MÉDIA
1.5

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