Crítica
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Sinopse
Cinco histórias de amor acontecendo em São Paulo. Da mulher enrolada com um taxista, mas que deseja um marido rico, ao publicitário que pretende reconquistar a amada, há evidências de que, sim, existe amor na capital paulistana.
Crítica
O que mais incomoda em Bruna Lombardi é a falta de coerência em seu discurso. Ao mesmo tempo em que a ex-pin up da Playboy critica seu passado como sex symbol, numa busca constante para se firmar como pessoa intelectualizada, ela segue escrevendo bobagens descartáveis como Amor em Sampa, em que não só aproveita para explorar o próprio corpo como sexualiza também o marido e o filho. Ou seja, é uma família que no discurso afirma “ser muito mais cérebro do que corpo”, porém a verdade de suas ações aponta exatamente o contrário. Afinal, esse filme pode apontar para vários lados sem uma direção específica, menos para um discurso inteligente e original.
Além de ser uma das protagonistas, Bruna é a voz determinante do projeto: é dela a autoria do roteiro. Já o marido Carlos Alberto Riccelli mais uma vez ficou atrás das câmeras, porém dessa vez com duas importantes mudanças: dividindo os créditos da realização com o herdeiro Kim Riccelli e, assim como ele, aparecendo também como um dos personagens principais. Essas são as principais diferenças em relação aos dois projetos familiares anteriores, o drama O Signo da Cidade (2007) – ainda o melhor esforço da família – e a comédia romântica Onde Está a Felicidade? (2011) – tão constrangedora quanto essa seguinte. Nos três casos Riccelli pai foi o diretor, Lombardi escreveu e protagonizou, e Riccelli filho atuou, além de servir como assistente de direção. Além destes quesitos técnicos, fica claro no conjunto a percepção do trio em investir em tramas corais, com vários tipos se cruzando em histórias similares, porém com pouco em comum entre eles.
Em Amor em Sampa, tudo se resume ao título genérico: histórias de amor em São Paulo. Cosmo (Riccelli) é um taxista solteirão convicto envolvido com uma garota com idade para ser sua neta (Miá Mello), uma suburbana que o usa para não ter que pagar pelas caronas. Ele é amigo de Mauro (Rodrigo Lombardi), um publicitário em crise de consciência que deseja fazer algo válido para a cidade em que vive, ao mesmo tempo em que conhece e se aproxima da artista plástica Tutti (Mariana Lima). Na agência dele trabalha Ravid (Marcello Airoldi), que planeja se casar com Raduan (Tiago Abravanel). O primeiro acredita que ninguém desconfia de sua condição sexual (apesar de toda a sua afetação), enquanto que o segundo não se importa em dar pinta. Ainda temos Aniz (Bruna), a dona de uma grande empresa internacional que vira alvo das investidas galanteadoras de um dos seus executivos (Edu Moscovis), indecisa em relação às verdadeiras intenções dele. Por fim, Matheus (Kim) é um diretor de teatro envolvido com duas candidatas a atriz (Letícia Colin e Bianca Müller).
Os problemas começam ao mesmo tempo em que as tramas tem início. Além de um rápido encontro entre Cosmo e Mauro e outro seguinte entre o motorista e Aniz, revelando passados em comum, pouco há de ligações entre os supostos romances. O enredo sobre o casal gay é o mais estereotipado possível – eles planejam casamentos de cachorros – e o trio teatral não possui conexão alguma com os demais personagens (é de se perguntar se não estão ali apenas por um deles ser filho do diretor e da roteirista). Pra piorar, o filme demonstra fragilidade também nas motivações internas de cada núcleo narrativo. Em nenhum momento entendemos o porquê da depressão de Mauro, sendo que tudo que ele consegue fazer é um mero audiovisual publicitário sobre a capital paulista. Já a dupla de empresários tenta recriar uma relação no estilo gato e rato, discutindo o tempo inteiro até um ir parar na cama do outro, mas falta química entre eles. Bruna Lombardi parece estar mais preocupada em mostrar suas belas pernas ou feições que indicam uma mulher com a metade da sua idade (essa, sim, encontrou a fonte da juventude!) do que em desenvolver melhor as histórias que cria.
Salva-se um ponto em Amor em Sampa: o filme, surpreendente, é um musical! Quando menos se espera, os apaixonados – ou nem tanto – começam a entoar canções donas de boas melodias e defendidas com humor. As letras fazem sentido no contexto em que são apresentadas, os atores/cantores estão à vontade em suas interpretações vocais e o estranhamento inicial acaba funcionando a favor do projeto, que ousa até onde consegue para proporcionar uma versão nacional de um gênero tipicamente hollywoodiano. Porém Bruna e Riccelli não se contentam com a paródia ou com a inspiração: eles querem a reprodução. E sem oferecer um toque pessoal à iniciativa, tudo que conseguem é uma cópia sem cores próprias e desprovido, vejam só, de coração.
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Fui todo animado assistir o filme na Netflix com a minha esposa. Somos seguidores e admiradores da Bruna nas redes sociais. Aliás, foi por uma chamada dela que soubemos da estreia no Netflix. Decepção logo na largada com a reprodução de clichês anacrônicos e emprego de padrões sociais já exaustivamente rejeitados. Impera o que chamo de “paraíso dos brancos” x “inferno dos pretos”, tendo aqueles como chefes e esses como empregados. O primeiro musical surge com conteúdo machista e cambalhotas chaplinianas. Eu e a minha esposa nos olhamos surpresos, desligamos a TV e fomos dormir. O texto? Não lembro, não se impôs.
Muito boa crítica. Só vi esse filme agora, mas achei constrangedor. Estereótipo na veia. Daí fiquei procurando, na web, um texto que se coadunasse com o que pensei...