Crítica
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Crítica
Comédia romântica é o gênero mais maltratado do cinema moderno. A fórmula tem se repetido quase sempre de forma idêntica nos últimos anos, no esquema “casal do pôster se apaixona – casal do pôster briga e se separa – casal do pôster faz as pazes e fica junto para sempre”. E como o público segue dando bilheteria para produções medíocres como Jogo de Amor em Las Vegas (2008) ou A Verdade Nua e Crua (2009), seus similares seguem sendo feitas em profusão, como numa linha de montagem. Mas de tempos em tempos surge, desse meio, um suspiro de originalidade, como esse Amor Impossível, uma obra simpática e, principalmente, discreta o suficiente para conquistar pelo charme e originalidade. Ponto a favor!
Amor Impossível é um título absurdo e oportunista para o original Salmon Fishing in the Yemen, algo como Pescando Salmão no Iêmen. A denominação nacional deixa claro apenas o interesse em captar a atenção de desavisados durante o mês dos namorados no Brasil. No entanto, ele desrespeita não somente a trama – que, de fato, apresenta alguns elementos aparentemente impossíveis, mas não o romance em si – como também a criatividade da história, que aposta no exótico para cativar a audiência, fugindo de clichês mais óbvios. Muitos dos atrativos estão também no delicioso humor inglês empregado, que aposta muito na ironia e no estranho das situações para despertar o interesse do público.
Ewan McGregor (um verdadeiro camaleão, construindo um personagem que em nada lembra o que já vimos dele em filmes como Trainspotting, de 1996, ou mesmo o blockbuster Star Wars: Episódio 1 – A Ameaça Fantasma, de 1999) é o burocrático funcionário do governo britânico que é chamado para uma reunião às pressas com uma representante (Emily Blunt) de um sheik do Oriente Médio. Ela deseja realizar um desejo do patrão, que é tornar possível o título original, ou seja, a pesca de salmão em pleno Iêmen. Porém esse é um peixe de água fria, típico da Inglaterra e de terras do Norte, e sua viabilidade no meio do deserto é algo praticamente impensável. McGregor, à princípio descrente, logo é conquistado pelo mesmo sonho – não exatamente o da pesca, mas sim de realizar algo considerado absurdo, para assim sair de sua vida modorrenta e conquistar um feito histórico. É claro que durante o processo os dois personagens irão se apaixonar, e o fato dela estar namorando um militar desaparecido em conflito não ajuda em nada.
Dirigido com sensibilidade por Lasse Hallström, cineasta indicado ao Oscar pelos emocionantes Minha Vida de Cachorro (1985) e Regras da Vida (1999), Amor Impossível ganha muito pelo carisma dos protagonistas, pela competência dos coadjuvantes (como o egípcio Amr Waked, visto também em Syriana, de 2005, que constrói um soberano árabe distante dos clichês, e a sempre excelente Kristin Scott Thomas, como aquela que é o braço direito do Primeiro Ministro inglês e responsável por algumas das melhores tiradas do filme) e pela falta de ousadia. De forma humilde e despretensiosa, se encaixa numa linhagem que vai de Aconteceu Naquela Noite (1934) até Quatro Casamentos e um Funeral (1994), mostrando mais uma vez que, em casos assim, menos definitivamente significa mais.
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