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Sinopse

Um detetive particular é contratado para investigar as atividades de um conquistador. Ele não contava, no entanto, com o fato de sua filha acabar se apaixonado pelo sedutor.

Crítica

Obra menor da filmografia de qualquer um dos seus principais envolvidos, Amor na Tarde (1957) é um filme feito cheio de boas intenções, mas que, no entanto, falha na maioria delas. Porém, por outro lado, é uma obra que possui duas grandes armas: a presença luminosa de Audrey Hepburn e os diálogos afiados de Billy Wilder. A despeito de um roteiro novelesco – co-escrito pelo diretor ao lado de seu parceiro habitual I.A.L. Diamond, a partir do romance Ariane, de Claude Anet – os dois artistas conseguem, sem muito esforço, oferecer um vislumbre de brilhantismo que nem a presença equivocada de Gary Cooper consegue atrapalhar. Um romance à moda antiga, com sérios problemas de desenvolvimento e um final atropelado, mas que por um acaso do destino acaba funcionando melhor até do que deveria.

Em certo momento, Cooper, apaixonado pela garota interpretada por Hepburn, a elogia sem ressalvas. “Bela, eu?” – ela responde – “Sou magra demais, com um pescoço muito comprido, sobrancelhas grossas e desajeitada”. “Pois é, mas de algum jeito o conjunto me encanta”, rebate ele. Essa justificativa pode ser aplicada também à Amor na Tarde: separadas, as partes parecem erradas, mas juntas elas combinam inesperadamente. Billy Wilder havia recém feito duas outras comédias românticas muito mais bem sucedidas – Sabrina (1954), com a própria Audrey Hepburn, e O Pecado Mora ao Lado (1955), com Marilyn Monroe. A estrela feminina havia recém saído dos sets de Cinderela em Paris (1957), sendo que ambos os filmes se passam na capital francesa. E Gary Cooper, velho demais para o papel, começou a adoecer durante as filmagens do câncer que o mataria poucos anos depois. Mesmo assim, estes três elementos, quando colocados lado a lado, formam um conjunto quase inexplicável, o que talvez justifique o charme que essa obra tem até hoje, mais de cinquenta anos após seu lançamento.

Ariane (Hepburn) é uma jovem violoncelista que passa as noites estudando música. Filha de um investigador privado (Maurice Chevalier) especializado em descobrir traições amorosas, ela acaba se envolvendo com um dos maiores galanteadores da cidade, o americano Frank Flannagan (Cooper). Decidida a impedir que o forasteiro seja assassinado por um marido injuriado – avisado após uma investigação do próprio pai – ela vai até o hotel dele, e tal qual nos contos de fada, a atração entre os dois se dará quase que instantaneamente. Só que ela está por dentro do histórico dele, e fará de tudo para se manter inalcançável, aceitando encontrá-lo apenas durante a tarde e inventando uma lorota atrás da outra, apenas para soar tão conquistadora quanto ele. E como mentira tem perna curta, não durará muito até que a verdade venha à tona, forçando-os a mudar de vez suas vidas para abrirem espaço ao outro.

Fracasso de público e de crítica em seu lançamento, Amor na Tarde acabou, aos poucos, conquistando um espaço entre os fãs. Premiado como Melhor Roteiro de Comédia no Sindicato dos Roteiristas de Hollywood e indicado como Melhor Direção no Sindicato dos Diretores da América, foi lembrado ainda em três categorias no Globo de Ouro – Melhor Filme, Atriz (Hepburn) e Ator (Chevalier), todos na divisão Comédia ou Musical. E se os dois protagonistas tinham quase 30 anos de diferença, essa estranheza inicial logo se torna mero detalhe, ainda mais que era um costume da época e que a estrela estava acostumada a ter como companheiro astros mais maduros (como Gregory Peck, Humphrey Bogart, Fred Astaire e Henry Fonda, por exemplo).

Os maiores problemas são a ingenuidade da trama – tudo se resolve muito fácil e sem conclusões mais elaboradas – a teatralidade do desenrolar da história – são apenas quatro personagens e dois ou três cenários na maior parte do tempo – e a longa duração – são 130 minutos, o que inevitavelmente se mostra desnecessário e exagerado – para um enredo simples e bastante óbvio. Tropeços que, após o término, soam menores diante de uma química que somente nomes como os aqui reunidos poderiam superar sem maiores percalços. O tipo de magia que Hollywood não está mais acostumada a produzir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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