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Sinopse

Arnaud, cineasta de 45 anos, pretende finalmente realizar seu segundo filme. Porém, faltam ideias para tal e nenhum dos temas pensados agrada o produtor.

Crítica

Embora seja alusivo aos principais elementos que compõem a trama, e adequado para atrair o já estabelecido público consumidor das dezenas de comédias francesas comerciais que chegam às salas do Brasil todos os anos, o título nacional Amor, Paris e Cinema não deixa transparecer, de imediato, como o original – Arnaud fait son 2e film (Arnaud faz Seu Segundo Filme, em tradução livre) – a verdadeira essência da obra: a carga autobiográfica. Mais conhecido em território francês por personagens cômicos de séries televisivas como Que du bonheur!, com trabalhos cinematográficos esporádicos, vide o recente Paris Pode Esperar (2016), o ator Arnaud Viard retorna às funções de diretor e roteirista de um longa-metragem mais de dez anos após exercê-las pela primeira vez, em Clara et moi (2004), assumindo também o papel protagonista.

Partindo da premissa clássica do artista em crise criativa, Viard interpreta uma versão de si próprio, um cineasta de 45 anos que planeja realizar seu segundo filme, mas não encontra inspiração para escrever um roteiro que agrade seu produtor. Essa incapacidade de concepção acaba se estendendo também à sua vida íntima, já que, mesmo após diversas tentativas, Chloé (Irène Jacob), noiva de Arnaud, não consegue engravidar. Sem o filho tão desejado, a relação do casal é abalada, resultando na separação, que ocorre justamente no momento em que ele começa a trabalhar como professor de artes cênicas na Academia Florent. Dividida em capítulos de duração e relevância variáveis, e que em determinados momentos soam como esquetes independentes, a própria estrutura narrativa transmite a sensação de uma criação em curso, não acabada, com a conexão entre as partes nem sempre apresentando a fluidez esperada.

Ao investir em um retrato tão íntimo, Viard, inevitavelmente, se expõe ao risco de resvalar no narcisismo, algo que busca evitar através do humor. Se valendo de sua figura extremamente carismática, que facilita a identificação com seus anseios, o ator/cineasta se mostra aberto à autocrítica, sabendo rir de si mesmo, quando necessário, para provocar o riso do público, sem, contudo, cair na degradação pessoal exagerada. A metalinguagem é outro recurso ao qual Viard recorre para extrair a comicidade desejada: quebrando a quarta parede e se dirigindo diretamente ao espectador, com as referências recorrentes a O Último Metrô (1980), de François Truffaut, longa que aborda o universo do teatro, com os momentos de suspensão da realidade, como aquele em que interpela um estranho na rua sobre a pressão de dirigir um novo filme, ou ainda no inesperado número musical protagonizado por Gabrielle (Louise Coldefy) e pelos outros alunos de Arnaud.

A interação, que inclui os diversos exercícios coletivos de classe, entre o personagem principal e os jovens aspirantes a atores, por sinal, rende algumas das sequências mais divertidas do longa, além de proporcionar um novo arco dramático, através do envolvimento de Arnaud com a bela Gabrielle. Em meio à leveza da comédia e do romance, alguns conflitos mais densos se interpõem no caminho do cineasta, como a doença da mãe (Nadine Alari), cujo desfecho se configura como um ponto de virada para o personagem, e do qual Viard extrai passagens delicadas, como o diálogo no vagão do trem. Todos esses elementos, contudo, se mostram complementares ao tema central, que remonta àquilo já exposto no título original, sobre o bloqueio criativo e os desafios de se fazer cinema de forma independente.

Contrastando com a visão idealizada presente na letra da canção interpretada por Gabrielle no citado número musical, em que diz almejar a fama e o sucesso como atriz a qualquer custo, Viard retrata a realidade bem menos glamorosa vivida por grande parte da classe artística, lidando com a rejeição, com as dificuldades de encontrar espaço ou financiamento para demonstrar seu talento, com escolhas que podem alavancar ou afundar uma carreira etc. No conselho dado a uma das alunas a respeito de prosseguir no curso ou no encontro com o amigo roteirista disposto a desistir de tudo para ir trabalhar com o irmão empresário, Viard exemplifica a insegurança e a instabilidade que cercam o cotidiano de quem escolhe viver de arte, aproveitando ainda para tocar em questões que lhe são próximas, como a espécie de discriminação sofrida por ser um “ator de televisão”.

Com sua duração enxuta, atingida por meio de uma montagem ágil, Amor, Paris e Cinema busca abraçar muitos tópicos, exibindo uma cadência elíptica que, se por um lado evoca uma sensação de liberdade criativa, por outro, reforça a impressão descrita anteriormente de estar trabalhando com ideias que não foram plenamente lapidadas. Nesse ímpeto de dar vazão ao desejo de dirigir, Viard não escapa também de certos lugares-comuns em sua realização – das inevitáveis consultas do artista atormentado no psicanalista até a cena, embalada por trilha sonora emotiva, do protagonista correndo pelas ruas ao encontro do clímax – algo que o próprio acaba assumindo, como verbaliza no jantar com o dramaturgo em que Arnaud diz estar ciente do clichê “professor se envolve com aluna mais nova” de seu relacionamento com Gabrielle. Essa sinceridade, ao menos, contribui para a aura simpática de um longa que sustenta seu viés metalinguístico até o literal “corte final” e que, mesmo não fugindo completamente ao convencionalismo, possui um charme particular.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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