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Sinopse

A profissão de Ryan é demitir pessoas. E, para isso, ele se tornou alguém de temperamento frio. Mas, as coisas mudam quando seu chefe contrata uma mulher que desenvolveu um método de demissão por videoconferência.

Crítica

Depois de um começo promissor com Obrigado por Fumar, em 2006, e com o premiado (e superestimado) Juno, no ano seguinte, Jason Reitman acerta em cheio em Amor sem Escalas, seu filme mais maduro até então. Com um elenco afiadíssimo, encabeçado por um George Clooney em seu melhor momento, o longa-metragem é delicioso, conseguindo passear muito bem tanto pelo drama quanto pela comédia. Como já é de praxe, Reitman usa como pano de fundo para seu filme um assunto relevante. Se em Obrigado por Fumar o mote eram os perigos do cigarro e Juno falava sobre gravidez na adolescência, Amor sem Escalas coloca a crise mundial e o alto número de desempregos nos Estados Unidos como um oportuno ponto convergente na vida do personagem principal, Ryan Bingham (Clooney). Assim como já aconteceu em seus filmes anteriores, Jason Reitman não aborda o “assunto sério” de forma invasiva dentro da narrativa. Pelo contrário. Este é incluso na trama de forma orgânica, condizendo com a história a ser abordada. Portanto, Amor sem Escalas não é um tratado sobre a crise econômica ou um manifesto contra a taxa altíssima de desemprego. É a história de um homem que está sempre cercado de pessoas, mas que, na verdade, vive uma vida solitária.

Ryan Bingham trabalha para uma empresa especializada em demitir pessoas. Ou seja, quem não tem coragem de fazê-lo, contrata os serviços desta agência. Ela, por sua vez, manda seus funcionários para os quatro cantos dos Estados Unidos para fazer o trabalho sujo. E, como se pode imaginar, aquele momento era de expansão para a empresa. Bingham adora o que faz, já que sempre pode estar viajando de um lado para o outro, nos mais diversos aeroportos, se hospedando nos mais diferentes hotéis. Em meio a estas viagens, Ryan conhece a bela Alex (Vera Farmiga), uma mulher tão ou mais prática do que ele no que tange a vida na estrada. Os dois logo começam uma espécie de relacionamento, sem os laços fortes de um namoro propriamente dito. Essa rotina que Bingham tanto é afeito pode terminar, no entanto. A novata Natalie Keener (Anna Kendrick) oferece ao chefe da empresa, Craig (Jason Bateman), uma chance de demitir pessoas pela internet, reduzindo seus custos e aumentando seus lucros. Contrariado pela decisão, Bingham decide levar Natalie em suas viagens para mostrar a garota o quão é difícil seu trabalho – e, com isso, seguir viajando para juntar suas tão sonhadas 10 milhões de milhas.

Essa é a melhor performance de George Clooney em um longa-metragem. Suas caricatas atuações nos filmes dos irmãos Cohen têm seu charme e seu trabalho em histórias mais sérias, como Syriana (2005), Conduta de Risco (2007) e Os Descendentes (2011), é soberbo. Mas em Amor sem Escalas, o ator conseguiu se superar, mantendo um equilíbrio exato entre o drama e a comédia. Seu Ryan Bingham é um sujeito inteligente, charmoso, mas extremamente solitário. Sua fobia de contatos mais próximos é muito bem representada pela sua conduta – e sua palestra pouco motivacional é uma ótima forma para expor os pensamentos do personagem. O jeito com que o ator se movimenta, passando seus valiosos cartões e meticulosamente montando sua mala, mostram o quanto Ryan Bingham é um sujeito metódico e dono de seu mundo. E a sua mudança de comportamento e pensamento no decorrer da trama é muito bem pontuada por Clooney. Uma excelente performance que, caso não caísse no mesmo ano de um Jeff Bridges iluminado em Coração Louco (2009), poderia ter papado o Oscar. Por falar em premiação, as duas atrizes coadjuvantes de Amor sem Escalas, Vera Farmiga e Anna Kendrick, foram indicadas ao prêmio da Academia. A primeira tem uma excelente atuação, segura de si e fazendo uma dobradinha perfeita com Clooney. Mas aparece menos do que deveria. A segunda mostra ter bastante potencial, e surpreende em algumas cenas – como a da primeira demissão via web. Quem pensava que a saga Crepúsculo não apresentava nada positivo, pode repensar, visto que a cinessérie revelou uma atriz promissora.

A atuação do trio principal, atrelado ao ótimo roteiro assinado por Jason Reitman e Sheldon Turner – baseado no livro de Walter Kim – é certeza de um bom programa. Cheio de boas piadas e momentos dramáticos interessantes, o roteiro faz bom uso da premissa e não cai nas armadilhas fáceis do gênero. Por ser corajoso em não se entregar a um final banal, Jason Reitman ganha mais pontos. E sua direção está cada vez mais segura, misturando momentos de total controle sobre a situação (as cenas iniciais, nos aeroportos em que Bingham viaja, são bons exemplos disso) a trechos nos quais o diretor deixa os acontecimentos saírem de suas mãos (como a cena do casamento, na qual o diretor gravou como se estivesse presenciando uma cerimônia de verdade).

Outro bom ponto a se destacar é a ótima ideia de trazer pessoas que sofreram demissões na vida real e usar seus depoimentos no filme. Grande parte dos empregados demitidos por George Clooney durante o longa-metragem foi escolhida depois de um anúncio no jornal. Reitman explicou aos não-atores que deveriam falar para a câmera o que gostariam de ter dito para o sujeito que os demitiu. E assim surgiram as impagáveis – e tristes – cenas do trabalho de Ryan Bingham. Um pequeno toque, mas que mostra o quanto Reitman é cuidadoso no momento de esculpir sua obra. Com um final agridoce, totalmente apropriado, Amor sem Escalas é altamente recomendável. História bem tramada, atores em ótima forma, coadjuvantes interessantes (Zach Galifianakis está impagável e J.K. Simmons é sempre ótimo, repetindo a duradoura parceria com o diretor), cinematografia caprichada, edição modernosa. Diversos bons motivos para conferir este belo trabalho, indicado a seis prêmios da Academia, incluindo Melhor Filme.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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