float(5) float(1) float(5)

Crítica


7

Leitores


1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

Três amigos na casa dos 30 anos lidam com as incertezas da vida adulta. Eles moram no mesmo prédio e acabam se apoiando diante de dilemas comuns, tais como romances turbulentos e as eternas desavenças com os pais.

Crítica

Roteirista de filmes como À Deriva (2009) e Serra Pelada (2013), ambos dirigidos pelo marido Heitor Dhalia, Vera Egito estreia como realizadora com o drama Amores Urbanos – renovando sua parceria profissional com seu companheiro de vida, que dessa vez assina como produtor. Segundo declarações da realizadora, essa obra é resultado de sua insatisfação em conseguir os recursos suficientes para o mais ambicioso Rua Maria Antônia: A Incrível Batalha dos Estudantes – longa que deveria ser o seu primeiro e que agora encontra-se em pré-produção, com previsão de lançamento para 2017. Cansada de ficar com os braços cruzadas, Egito reuniu alguns amigos próximos, imaginou uma trama centrada nas relações humanas e fez esse trabalho com cara de exercício de estilo, mas que felizmente vai além de uma pretensão mais convencional.

03-amores-urbanos-papo-de-cinema

Amores Urbanos reúne as histórias de Julia (a revelação Maria Laura Nogueira, a melhor do elenco), Micaela (Renata Gaspar) e Diego (Thiago Pethit, assumindo na ficção a mesma imagem que defende como cantor). Os três são melhores amigos e moram praticamente juntos, em dois apartamentos vizinhos. A primeira tem 30 anos, recém descobriu que seu namorado está noivo de outra garota, não sabe bem que carreira pretende construir – publicitária, estilista ou doceira? – e está tendo que lidar com uma gravidez inesperada, ao mesmo tempo em que começa a se envolver com outro rapaz comprometido. A segunda é uma lésbica assumida que sofre com as exigências da namorada (a também cantora Ana Cañas), uma atriz em início de carreira que prefere esconder dos colegas e conhecidos sua orientação homossexual. E o rapaz é a típica ‘bicha má’, jovem gay abandonado pela família que preza sua liberdade acima de tudo, inclusive desprezando as exigências de qualquer eventual namorado. Porém, quando a mãe decide lhe procurar com notícias preocupantes sobre o pai, ele terá que decidir como lidar com esses antigos fantasmas que acreditava estarem enterrados.

Melhor do que as histórias que ligam seus personagens, é a naturalidade como se dão os diálogos e pela forma convincente como cada um destes tipos circulam pelos cenários e condições apresentadas que fazem de Amores Urbanos um trabalho acima da média. As relações se desenrolam de forma tão tranquila e orgânica que o espectador chega a se questionar se está diante de atores em ação ou de uma versão documental de suas próprias realidades. Encarados inicialmente como clichês estereotipados, os três protagonistas aos poucos vão revelando outras camadas de leitura, o que possibilita percepções além do óbvio. Julia, por exemplo, pode ser vista como mimada por todos ao seu redor, mas há um motivo para isso, além de suas argumentações para defender esse tipo de imagem que ela insiste em projetar. Ao revelar aos pais que vai ser mãe, a conversa que se estabelece entre eles, que tinha tudo para ser redundante e previsível, aos poucos vai adquirindo outros contornos, resultando em um processo de identificação até entre àqueles estranhos a esse tipo de contexto.

Vera Egito deixa claro seu carinho por cada uma de suas criações, ainda que umas pareçam lhe interessar mais do que outras. Quem mais sofre nesse processo comparativo é Thiago Pethit e seu Diego, um tipo facilmente encontrável em qualquer balada LGBT, e que acaba reduzido a conflitos comuns ao gênero, como indiferença familiar e falta de laços afetivos. Fica evidente que o músico precisaria de uma maior orientação por parte da diretora para se dissociar da sua própria imagem pública e criar, assim, algo particular. Um processo que Renata Gaspar não enfrenta, em parte por não ser tão popular, e também por Mica ser uma criatura que não se conforma em ser reduzida a estereótipos, por mais que os meios ao seu redor insistam em enquadrá-la.

01-amores-urbanos-papo-de-cinema

A prévia experiência por trás das câmeras de Vera Egito ao lado de cineastas de talento comprovado lhe serviu como uma boa escola para descobrir não apenas a extensão de suas habilidade neste mesmo campo, como também lhe oferecer a coragem de ousar neste momento por conta própria. Amores Urbanos é um filme de passagem, que deverá render frutos maiores de acordo com os esforços futuros dos aqui envolvidos. Mas nem por isso se contenta com uma posição descartável. É um trabalho completo, que brinca com os clichês pelos quais discorre com maturidade, sem empregá-los de forma irresponsável. Mas acima de tudo, tem-se aqui um discurso assumidamente humano, envolto por figuras críveis e defendidas com paixão por seus intérpretes. Um filme pequeno, sim, mas nunca menor.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *