Crítica
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Sinopse
Ana e Vitória se reencontram em uma festa, e após ouvir Vitória cantando, Ana oferece para gravarem uma música juntas. Isso marca o início da dupla que faz um sucesso arrebatador. As duas precisam aprender a lidar com fãs e fama, ao mesmo tempo em que ainda estão tentando encontrar quem elas realmente são.
Crítica
Inspirado na carreira do duo Anavitória, Ana e Vitória, contudo, não é uma cinebiografia, exatamente por distanciar-se da especificidade dos fatos, ainda que tangencie os meandros da trajetória dessas cantoras que surgiram na internet, alcançando considerável sucesso de forma meteórica. Longe de se ancorar desesperadamente numa popularidade prévia, o longa-metragem de Matheus Souza tem predicados suficientes para respirar sozinho, inclusive por conservar a espontaneidade das (agora) atrizes principais, o que evidentemente pode criar uma confusão entre vida e obra. Ana Caetano e Vitória Falcão não reproduzem ipsis litteris vivências nas telonas, mas flagrantemente transportam seus carismas naturais dos palcos ao quadro de cinema. Desde o princípio, sobressai a vontade diretiva de contextualizar as idas e vindas, bem como os passos que levaram as meninas ao estrelato, situando-as como fruto de uma geração bastante específica, hiperconectada, assolada por questionamentos constantes, o que dificulta, em semelhante medida, a construção de vínculos e a satisfação existencial/amorosa.
Boa parte de Ana e Vitória se desenvolve dentro da esfera afetiva, com as cantoras tentando desatar alguns nós emocionais, incorrendo em contradições relacionais, encadeadas de maneira simples, mas organicamente. Ana começa como a jovem crente no amor, nesse sentimento que deve perdurar, independentemente das dificuldades. Vitória, por sua vez, embora sinta carência e necessidade de estabelecer laços, não parece disposta a jogar-se sem proteção numa dinâmica fechada. Com habilidade, o realizador vai demonstrando a volatilidade de tais convicções, especialmente a dos jovens, que reagem às circunstâncias ao sabor dos ventos. Visualmente conectado com a saturação de imagens e ícones a que somos sujeitos todos os dias, o filme se vale de mensagens de celular, redefinições de aspecto para adequar-se às dimensões do Instagram, sorvendo com propriedade um mundo em que a informação e a conectividade extrapolaram as mais astutas previsões de outrora. Essa prevalência de signos da contemporaneidade é um sintoma claro da decisão de ser atual.
Ana e Vitória, como era de se esperar, possui diversos excertos centrados nas canções de Anavitória, tornando-se ocasionalmente um musical rasgado, com pessoas confessando amores e angústias por meio de melodias, ao invés de simplesmente falar. Clarissa Müller, que interpreta uma das namoradas de Ana, frequentemente transforma em cantoria as dificuldades de interação com alguém cuja fama lhe suga a rotina. Aliás, é louvável como Matheus Souza não dá ares de questão a ser resolvida, ou algo que a valha, ao fato de tanto Ana quanto Vitória nutrirem interesse por homens e mulheres, escolhendo parceiros por uma afinidade que transcende o gênero. Embora, às vezes, chamem demasiadamente atenção para a própria “esperteza”, os diálogos funcionam no sentido de alinhavar as costuras desse universo celerado e mutante, em que interesses amorosos do passado e do presente ocorrem em meio ao registro periférico de uma escalada ficcional que encontra rimas na realidade. Filme gostoso de ver, principalmente pela forma como é conduzido e interpretado.
Ana Caetano é goiana. Vitória Falcão é tocantinense. Na trama do longa, ambas as personagens nasceram no Tocantins e chegaram a estudar juntas. Valendo-se de uma estrutura narrativa competente e criativa – com destaque para as elipses e os clipes que demonstram uma passagem considerável de tempo ou a alteração da saúde de um namoro, por exemplo – Ana e Vitória exala um charme especial que deriva do carisma das atrizes-cantoras protagonistas. Elas dão totalmente conta do recado, delineando personagens críveis, que não escondem suas incoerências e medos, sendo uma espécie de símbolo dessa juventude cheia de perguntas, inquieta o suficiente para não se contentar com a perpetuação de dogmas e preconceitos. Focando menos na ascensão profissional, deixando o espaço maior às vicissitudes amorosas e sentimentais das garotas, Matheus Souza, mesmo incorrendo em certos maneirismos, captura os contrastes da geração que não sabe bem como agir, sobretudo chegada à vida adulta, mas determinada a construir suas histórias, vivendo um dia de cada vez.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Robledo Milani | 3 |
MÉDIA | 5.5 |
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