Ande Comigo
Crítica
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Sinopse
Crítica
Durante missão no Afeganistão, o dinamarquês Thomas (Mikkel Boe Følsgaard) pisa numa mina irrastreável, perdendo ambas as pernas. A cena é construída pela cineasta Lisa Ohlin com o intuito de expressar o drama do momento, com a câmera lenta, o close no rosto ensanguentado do soldado, sem inicialmente recorrer à espetacularização de mostrar o membro amputado. Mas, Ande Comigo utiliza o pano de fundo da guerra apenas para justificar a condição física de seu protagonista. Durante boa parte da primeira metade do filme, embora haja subsídios para uma discussão aprofundada acerca dos mecanismos perversos do militarismo fanático, pouco se chega perto de algo relevante. Nem a absurda teimosia de Thomas que, mesmo traumatizado, verbaliza constantemente a vontade de recuperar-se rapidamente a fim de retornar ao campo de batalha, possui tons substanciais de crítica. Somos limitados a observar as dificuldades de conformidade desse rapaz privado de locomover-se.
A verdadeira natureza de Ande Comigo começa a aparecer quando Thomas passa a interagir com Sofie (Cecilie Lassen), bailarina acompanhante de uma tia internada no mesmo hospital em que ele se recupera. De maneira esquemática, Lisa Ohlin estabelece a aproximação entre os dois, criando um vínculo benéfico bilateralmente. A mulher que vive de comunicar-se através do corpo se interessa pela causa do homem revoltado em virtude de sua condição física. Thomas não consegue relacionar-se a contento com os demais, tampouco com a própria namorada. Então, a presença da desconhecida significa mais que ajuda motora. A amizade com ares de interesse romântico se torna predominante, sepultando toda e qualquer ambição, digamos, mais ampla, como a já mencionada possível reflexão sobre as heranças deixadas por conflitos, tais como os travados contra o Talibã, em grande escala, no Oriente Médio.
Lisa Ohlin se detém nas frequentes tentativas de Thomas de retomar a mobilidade. Porém, falta estofo a essa obstinação, para além do óbvio. Não existe, sequer, o enfrentamento do provável dilema amoroso do protagonista, uma vez que as atitudes forçadas da namorada dão conta de simplificar as coisas, de praticamente deixar o caminho livre para Sofie. Ande Comigo demora bastante para assumir-se como um filme de romance, no qual este aspecto é imprescindível, a despeito dos desvios provocados pelas abordagens superficiais de outros elementos. Desde o começo pode-se constatar que estamos diante de uma narrativa afeita a transformações, especialmente as alusivas ao comportamento de Thomas. Todavia, o fato do personagem passar repentinamente de soldado padrão a paciente sensível, sem que a mudança represente algo, configura uma intenção malograda de deflagrar os benefícios das evoluções.
Ande Comigo não investe na poesia inerente à arte de Sofie. O ballet, que poderia servir como inspiração ao homem agora sem pernas, aparece como um penduricalho cênico, sem ganhar atenção suficiente de Lisa Ohlin. Embalado pela trilha sonora que busca a todo o instante reforçar dramas insuficientemente revelados pela encenação, o filme empilha lugares-comuns, equilibrando-se como pode sobre a fina camada da ligação entre Thomas e Sofie. Contudo, ao invés de aferrar-se a isso, Lisa Ohlin retoma tropegamente o questionamento em torno do “acidente” de Thomas, sem ao menos fazer dos desdobramentos traços importantes. Ainda que possua a boa interpretação de Mikkel Boe Følsgaard, e, principalmente, a de Cecilie Lassen, que a dinâmica amorosa seja absolutamente crível, a inserção desajeitada de componentes externos ao envolvimento central e a inclinação à facilitação fazem desta realização uma refém das exceções, de lampejos bem ocasionais.
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