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Crítica


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1 voto 10

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Sinopse

No campo de cultivo ou no campo de futebol, Fabiano precisará encontrar sua própria essência.

Crítica

Uma partida amadora de futebol. Fabiano joga com os amigos no campo, mas ele ostenta alguma forma de preocupação no rosto que jamais abandona a narrativa de Ando me Perguntando. Quando desenha num caderno, sob as árvores, ele se separa de um grupo de trabalhadores para ficar sozinho. Quando o pai lhe pergunta sobre a origem do talento para o desenho, ele desconversa. Enquanto isso, observa com frequência um colega do grupo, meio à distância. Como sugere o título, o curta-metragem gira em torno de uma dúvida, um questionamento, focado sobretudo na possível homossexualidade do garoto.

Por um lado, é louvável que estas indagações sejam abordadas dentro de um trabalho efetuado por adolescentes, demonstrando respeito pela figura do protagonista. O roteiro critica a construção de uma masculinidade tóxica, representada pela figura autoritária do pai e pela obrigação tácita de se tornar um jogador de futebol, além da proibição de demonstrar interesse pelas artes. A oposição entre futebol e desenho enquanto ícones da virilidade e da sensibilidade pode soar óbvia, mas funciona enquanto proposta de uma sugestão que jamais se concretiza: o filme permanece no domínio das pulsões, sem passar à concretização dos desejos. A diretora Clara Leal está mais interessada em descrever o ambiente opressor do que fornecer ao personagem possibilidades de libertação do mesmo.

Deste modo, o curta-metragem se conclui de forma abrupta, sem alguma metáfora capaz de acenar ao futuro do personagem. Permanecemos no domínio da constatação: uma dúvida existe, assim como o sentimento de inadequação. Mas de que modo isso afeta o garoto silencioso? Que dores ou transformações estes sentimentos gerarão? Por mais pertinente que seja o final em aberto, ele ganharia em apontar possibilidades do futuro, ao invés de apenas suspender a trajetória. A interrupção repentina se reproduz na estética, como atestam os cortes ríspidos no final de cada cena, sem deixar tempo para que cada ação se consolide e abra espaço ao incômodo, ou à solidão. A introdução de uma trilha sonora em volume alto, logo após os cortes violentos, sublinha a ruptura pouco fluida dentro da narrativa.

Outros aspectos técnicos poderiam ser apontados, como a luz estourada nas cenas externas, mas Ando me Perguntando chama mais atenção ao seu discurso do que à construção estética. Existe uma vontade de abordar temas graves com delicadeza, trabalhar com sugestões ao invés de explicações, algo bastante louvável na construção audiovisual. Leal sabe trabalhar com a construção de clima e com o princípio da gradação. Falta-lhe, no entanto, a explosão implícita em qualquer construção gradativa, ou seja, alguma válvula de escape, seja ao personagem, seja à estética do filme. Constrói-se um belo personagem dentro de um cenário plausível, porém uma vez dispostos os peões e o tabuleiro, o jogo se encerra.

Filme visto na 6ª Mostra de Cinema de Gostoso, em novembro de 2019.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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