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Sinopse

Pássaros e porcos, arqui-inimigos, precisam viabilizar uma trégua quando bolas de gelo gigantes começam a cair do céu. A ameaça pode colocar em risco o futuro de ambos os povos, então os mais mal-humorados emplumados e os mais espertos suínos vão unir forças para derrotar essa ameaça misteriosa.

Crítica

Levando-se em conta o público infantil ao qual Angry Birds 2: O Filme é destinado, a premissa dessa segunda aventura dos pássaros e porcos saídos dos jogos eletrônicos carrega uma mensagem importante. Depois de reafirmar as animosidades das espécies, com ataques trocados entre as ilhas rivais, há a constatação de uma ameaça a ambos os povos, o que torna urgente a aliança momentânea em função da sobrevivência geral. Em tempos de acirramento entre âmbitos polares – política, ideológica, clubística, acadêmica e todos os demais “mente” que se possa imaginar – é vital que os espectadores pequenos se deparem com as turmas deixando as desavenças de lado e compreendendo que não é possível subsistir sem o outro, sendo as diferenças menos importantes do que o bem comum. Todavia, no decurso do plano conjunto para vencer Zeta, a águia cansada de viver num espaço gélido e sem o clima tropical dos vizinhos, os suínos acabam desempenhando uma função bem coadjuvante, quando muito sendo relevantes por conta de seu avançado aparato tecnológico.

Entremeando a junção improvável dos antes inimigos, há a jornada pessoal de Red, considerado um herói local, mas que treme diante da possibilidade de uma trégua. Isso ocorre porque se não há guerra, os salvadores tampouco são requisitados. Com bom humor, os cineastas Thurop Van Orman e John Rice apontam a essa carência ao remontar a episódios de isolamento e solidão no passado. Sempre quer alguém questiona o protagonista sobre a dificuldade para dividir os louros, há um rápido flashback, embalado por alguma música bem conhecida, a fim de demonstrar esse estado de espírito que alimenta uma personalidade inquieta, beirando o egoísmo. Tal procedimento, assim como vários outros, perde rapidamente a eficácia, pois repetido dentro de uma fórmula desgastada precocemente. A aventura transcorre num ritmo acelerado, com piadas que funcionam melhor isoladas do que efetivamente em conjunto. Mesmo assim, a criatividade visual e o carisma dos personagens garante uma sessão, senão totalmente empolgante, à prova de bocejos ou do que os valha.

Voltando à trilha sonora, ela é recheada de hits essenciais à série de alusões funcionais dentro da proposta narrativa. Quando um personagem demonstra paixão, toca Hello, de Lionel Richie. A utilização da canção gera uma clareza benéfica à faixa etária do público-alvo. O mesmo acontece quando os filhotes atingem o espaço sideral, ocasião emoldurada por Space Oddity, de David Bowie. A obviedade da utilização da trilha não chega a incomodar, principalmente porque atrelada a essa vontade de provocar uma inequívoca identificação. Pena que os realizadores não abracem com vontade a emulação do esqueleto dos filmes de espionagem, cujos códigos podem ser vistos na apresentação da equipe encarregada da dificílima missão e em alguns esparsos instantes de mimese afiada. Red é um líder logo confrontado pela esperteza de Silver, a pássara brilhante com quem cria uma dinâmica amorosa previsível. As rusgas apenas pavimentam o caminho para o envolvimento.

Angry Birds 2: O Filme oscila quanto aos lugares-comuns da representação feminina. Por um lado, a vilania de Zeta é atrelada ao desgosto amoroso, o que a delimita num espaço muito utilizado a fim de asseverar a ideia reducionista de desvario causado pela falta de um macho para chamar de seu. Por outro, Silver é desenhada como a mais capacitada entre pássaros e porcos para triunfar. Ainda que precise da aquiescência do representante masculino para finalmente ser reconhecida por todos, inclusive no círculo científico almejado, essa sagaz emplumada carrega uma bandeira de independência. Entre mortos e feridos, há um filme tecnicamente ótimo, com desperdícios pontuais e um andamento descolado levemente do seu enunciado, que pulveriza seus predicados em sequências de eficiência instável, dramática e comicamente falando. Menção honrosa à participação dos filhotes, respiros graciosos em meio à missão quase impossível dos adultos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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