Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
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David Yates
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Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore
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2022
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EUA / Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
Ciente de que o feiticeiro das trevas Gellert Grindelwald se move nas sombras para assumir o controle do mundo bruxo, Alvo Dumbledore confia no magizoologista Newt Scamander para liderar a sua equipe numa missão.
Crítica
A saga Harry Potter foi um fenômeno tão grande que era, de fato, difícil dar sequência aos seus passos. Muitos foram os que se aventuraram por esse caminho, e raros os que alcançaram algum resultado digno de nota. É curioso perceber que entre essas tentativas há uma da própria J.K. Rowling, criadora do menino bruxo de óculos redondos e cicatriz em forma de raio na testa. Animais Fantásticos representa um esforço desesperado para dar sequência aos acontecimentos de um universo compartilhado, por mais que seu primeiro capítulo – Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) – pouco tivesse em comum com o que fora exibido antes, além de varinhas mágicas e uma ou outra citação pontual. Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, o terceiro episódio dessa segunda franquia, tem méritos visíveis – acerta em diversos pontos nos quais o seu antecessor, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018), havia se equivocado – por mais que continue resvalando em problemas graves e impossíveis de serem ignorados. O mais gritante deles? A crescente irrelevância de seu protagonista, o magizoologista Newt Scamander.
Se no primeiro filme Scamander chegava a Nova York com uma missão clara – devolver um dos seus animais resgatados ao habitat natural – e, a partir disso, acabava se envolvendo uma confusão maior do que poderia esperar, na sequência imediata os desdobramentos destes eventos deslocaram o foco da ação para uma relação iniciada muitos anos antes: Alvo Dumbledore (Jude Law) e Gellert Grindelwald (que já se disfarçou como Colin Farrell, foi desmascarado como Johnny Depp e agora tem as feições de Mads Mikkelsen, que se impõe com facilidade frente a seus antecessores). Os dois, colegas na juventude, desenvolveram uma atração especial, a ponto de acordarem um pacto de sangue que os impossibilita de agirem contra si mesmos. Com o passar do tempo, no entanto, foram se afastando e assumindo posições antagônicas dentro do chamado “mundo bruxo”: enquanto o primeiro se tornou cada vez mais admirado a ponto de se ver como responsável pela mais importante escola de magia do mundo, a britânica Hogwarts, o segundo foi alçado à condição de defensor da “pureza” da identidade bruxa, pregando, entre outras coisas, que esses não mais deveriam se esconder dos NoMajs (ou Trouxas) – todos os demais, as pessoas comuns – e que qualquer interação entre as duas raças deveria ser não apenas desestimulada, mas até mesmo proibida. Em lados tão opostos – um de postura pacífica, o outro pronto para a guerra – não causa espanto imaginar que cedo ou tarde seus destinos voltariam a se encontrar, mas agora questionando os votos feitos tanto tempo atrás.
Ou seja, se Newt serviu como porta de entrada para uma nova narrativa – importante destacar que ambientada décadas antes do nascimento de Harry Potter e seu duelo contra o temido Voldemort – agora segue presente mais como um coadjuvante de luxo, mas com pouco poder decisório e quase nenhum efeito prático no ditar dos rumos a serem seguidos. Como Eddie Redmayne, seu intérprete, se tornou um nome em alta em Hollywood – principalmente após ganhar o Oscar por A Teoria de Tudo (2014) – não é fácil descartá-lo. Diferente do que acontece com seu interesse romântico nos dois segmentos anteriores, a auror norte-americana Tina Goldstein (Katherine Waterston), que possui participação mínima em Os Segredos de Dumbledore. Assim, Scamander acaba por assumir a função de líder de um esquadrão comandado pelo personagem-título. Em relação à referencial saga Harry Potter, esse terceiro Animais Fantásticos poderia ser comparado ao quinto longa original, A Ordem da Fênix (2007). A questão política está no cerne do debate – há, literalmente, uma eleição em curso, e os paralelos com o que se vê hoje na sociedade contemporânea são evidentes – o Ministério da Magia está dominado por um viés tendencioso e os rebeldes, tomados pela certeza de suas intenções, partem para planos secretos no objetivo de alcançá-las. O que se faz a partir disso, porém, é o mais nebuloso.
Pois são todos não mais do que peças à disposição de algo que apenas Dumbledore parece discernir – uma visão que não demonstra interesse em compartilhar com ninguém, sob a desculpa de que tamanha confusão irá servi-los contra esse inimigo declarado. Há duas linhas a serem desenvolvidas, portanto. Na primeira, a tal promessa precisa ser rompida e, com isso, o único capaz de fazer frente à ameaça poderia, enfim, se impor com toda a sua força. Em paralelo, há o personagem de Creedence (Ezra Miller), que também viu seu envolvimento ser esvaziado. Responsável pelas mais importantes reviravoltas nos dois longas anteriores, ele agora se tornou um incômodo, um problema a ser rapidamente resolvido e, com isso, retirado do caminho. Os paralelos com a vida real do ator – que vive se metendo em problemas, chegando a ser preso em mais de uma ocasião – não podem ser desprezados. O que dele é feito no âmbito da ficção não pode ser acusado como insatisfatório, ainda que haja um certo anticlímax pela facilidade com que seu desfecho é introduzido.
Isso posto, restam Dumbledore, Scamanter e seus colegas de um lado, assim como Grindelwald e asseclas do outro. Esse, uma vez liberado das acusações que sobre ele recaíam, se revela adepto a um jogo político que acredita ter cartas marcadas, enquanto que o professor parte para ação através de um intrincado quebra-cabeça. Nesse meio tempo, desencontros e missões aleatórias são distribuídas, como que apenas para preencher as mais de duras horas de duração do longa. Senão, qual o motivo de Teseu (Callum Turner), irmão de Newt, ser trancafiado em uma masmorra apenas para ser resgatado logo em seguida, como num videogame com diferentes graus de dificuldade? Ou a presença do nomaj Jacob Kowalski (Dan Fogler, um alívio cômico em meio à tamanha sisudez), que não só tomou para si a responsabilidade romântica da trama, como também se esforça para criar identidade com uma plateia cada vez mais alheia ao que se passa na tela? Entre acertos e tropeços, importante destacar o maior envolvimento da ótima Jessica Williams (A Incrível Jessica James, 2017), como a desenvolta Lally, uma adição de peso para a brigada do professor.
Ainda que o desenrolar dos acontecimentos seja mais direto – o que é ótimo – e alguns personagens continuem sem uma função definida (como exposto acima), há elementos que merecem um comentário apurado. Um deles diz respeito à abordagem do relacionamento entre Dumbledore e Grindelwald. Por mais que a orientação sexual do diretor fosse dissimulada tanto nos filmes quanto nos livros, a autora J.K. Rowling afirmou, ao ser questionada por um fã, com todas as letras: “Dumbledore é homossexual”. Em Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, essa realidade deixa, portanto, de ser um... segredo. O assunto é exposto de maneira direta e simples, sem volteios ou reações exageradas. A naturalidade com que a questão é abordada é salutar. Por fim, não se pode esquecer do envolvimento da brasileira Maria Fernanda Cândido, que surge como a candidata Vivência Santos. Após dois longas na Itália e um na França, a atriz estreia com o pé direito em Hollywood com uma participação pequena – possui apenas uma frase de diálogo – mas altamente importante. Sua presença – e o que a personagem dela representa – é um alento diante tempos – e temas – tão sombrios. E um reflexo desse universo: ainda sem acertar todos os eixos, mas demonstrando forte interesse em se colocar na melhor direção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Lucas Salgado | 5 |
MÉDIA | 5.5 |
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