Crítica
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Sinopse
Recordações e saudades daqueles que presenciaram o auge do movimento contracultural no Píer de Ipanema, durante o verão de 1972. Em cena, lembranças pessoais de amigos sobre aquele verão mágico - que almejava mudar o mundo e acabou transformando para sempre os que participaram dele.
Crítica
O que quer Conceição Senna com Anjos de Ipanema, seu anunciado último trabalho como realizadora? Diretora de Brilhante (2005), ela volta para atrás das câmeras com este documentário, apresentado na mostra competitiva do 28º Cine Ceará, em Fortaleza, mais de uma década após o seu esforço anterior como cineasta. Mesmo assim, está longe de poder ser considerada uma novata. Aos 81 anos de idade, é uma atriz consagrada – foi premiada no Festival de Brasília como coadjuvante por Iracema: Uma Transa Amazônica (1975) e possui diversos sucessos no currículo, como Ópera do Malandro (1986) e Chega de Saudade (2007) – além de, claro, ser esposa de Orlando Senna, que esteve envolvido em mais de 30 filmes premiados no Brasil e no exterior, além de ter sido secretário do audiovisual do Ministério da Cultura entre 2003 e 2007. Ou seja, é uma dupla que tem experiência até de sobra. Pena que esse trabalho mais recente não esteja à altura de tais históricos.
Anjos de Ipanemase propõe a registrar o movimento contracultura dos anos 1960 no Rio de Janeiro, tendo como ponto de partida os jovens hippies da zona sul carioca, que se agrupavam nas dunas ao redor do Píer de Ipanema e, assim, conseguiam driblar a constante vigilância da Ditadura Militar. Agora, é preciso se perguntar: trata-se de um olhar saudosista, preocupado apenas em mostrar como antes era muito melhor do que hoje? Ou há uma intenção de resgatar aquela situação específica como reflexo dos tempos de agora? Ou ainda, por um outro viés, o objetivo seria mostrar as consequências de tudo aquilo, identificando como estão aqueles protagonistas atualmente? O que fizeram daquilo, como sobreviveram a todos aqueles excessos e o quanto suas vidas foram influenciadas por aquilo que passaram juntos?
Todas essas linhas poderiam, caso fossem perseguidas, render um bom – talvez até mesmo grande – filme. No entanto, não é o que verificamos. A impressão, após acompanhar os noventa minutos de projeção, é de ter participado de um encontro entre amigos do qual você não foi convidado. E, para piorar, daquele tipo que só se desenvolve através de conversas internas, piadas e causos que só fazem sentido para quem os viveu – sem ninguém paciente o suficiente para oferecer as explicações necessárias para que o alcance de cada relato seja mais abrangente. Fala-se de pessoas apenas pelo primeiro nome, de lugares pelos apelidos, de atividades marcadas por uma época. Os entrevistados estão a todo instante dando muitas risadas. Como foram felizes, percebe-se. Mas, afinal de contas, o que nós, do lado de cá da tela, temos a ver com isso? Por que não serem generosos e dividirem de forma equânime a mesma alegria? O clubinho estava fechado, e não há espaço para mais ninguém. Não houve antes, e muito menos agora.
Pior, no entanto, é mesmo o amadorismo absoluto que toma conta da realização. O trabalho de direção de fotografia, por exemplo, praticamente inexiste. Ajustes de foco, enquadramentos falhos, alinhamentos aleatórios – tudo de errado que se possa imaginar, pois bem, acontece. E nada parece ter importado durante a edição. Até mesmo relatos internos, que talvez caíssem bem em um olhar pelos bastidores, acabam inseridos. E quando supostos (d)efeitos especiais começam a ser empregados, com recortes de imagem, sobreposições e desenhos, estes servem apenas para confirmar o constrangimento. A trilha sonora, exagerada e intrusiva, apesar de ser assinada pelo DJ Dolores – o mesmo de títulos como O Som ao Redor (2012) e Tatuagem (2013) – se revela um tormento extra em algumas passagens.
Não há, de fato, uma direção por trás de Anjos de Ipanema. Tem-se, aqui, um filme que não diz a que vem, e o que entrega é tão mal executado a ponto do único sentimento possível de ser depreendido a partir da sua visualização é o lamento pelos envolvidos e o pesar pelo ânimo depositado por aqueles que talvez até imaginassem atingir algum tipo de excelência, sendo que essa permanece apenas na intenção, sem nunca ser sequer vislumbrada. Pobre inclusive nos depoentes – Gal Costa e Gilberto Gil, por exemplo, são citados nominalmente, mas aparecem apenas em fotos e vídeos antigos – e careta no formato – as entrevistas são expostas uma atrás da outra, sem nenhum respiro entre elas – ainda se exime de se aprofundar em assuntos relevantes, como a homossexualidade, vida profissional, efeitos das drogas, construção de família, potencial artístico etc. Atira-se, como se percebe, para absolutamente todos os lados. E não acerta nenhuma dessas miras.
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