Anna Karina: Para Você Lembrar
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Dennis Berry
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Anna Karina, souviens-toi
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2017
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França
Crítica
Leitores
Sinopse
Uma das principais musas da Nouvelle Vague, movimento de vanguarda do cinema francês, Anna Karina tem sua visa revisitada pelo cineasta Dennis Berry, seu companheiro.
Crítica
Quem foi Anna Karina? Sim, infelizmente, o verbo empregado no passado está correto: a atriz e diretora faleceu, aos 79 anos, em 14 de dezembro de 2019, em Paris, França. De acordo com a notícia publicada no Papo de Cinema na ocasião, ela “foi uma das estrelas mais importantes da Nouvelle Vague”. No entanto, poucos recordam da sua trajetória atualmente. Por isso mesmo, vem mais do que em boa hora um documentário como Anna Karina: Para Você Lembrar, que já deixa claro o seu propósito no título: servir como registro de uma trajetória nunca menos do que brilhante. Afinal, além da carreira no cinema, ela também alcançou sucesso como escritora de livros infantis e como cantora. Ou seja, um nome consagrado. No entanto, o filme do diretor Dennis Berry – não por acaso, companheira da diva até sua morte – é por demais didático, servindo, sim, como um relato, mas nunca ousando alçar voos mais ousados. Tem sua relevância, e essa é inegável. Mas não muito mais do que isso.
O filme escrito por Berry em parceria com Jean Breschand (La Papesse Jeanne, 2016) e Sophie Pouleau (que assumiu também a função de montadora) parte de uma ideia bastante simples, mas eficiente: a própria Anna Karina foi convidada para ir até uma pequena sala de cinema no Quartier Latin, em Paris. Uma vez lá, o que se projetou na tela foram os melhores momentos da sua própria história. Ao mesmo tempo, ela é a única voz em cena, e vai narrando os eventos e suas lembranças, as impressões que permaneceram e as histórias que se tornaram maiores até mesmo do que ela. Da infância infeliz, que atravessou uma guerra mundial – ela nasceu em 1940 – e o abandono do pai – que traiu a esposa quando essa estava grávida – até a saída de casa, aos 17 anos, para tentar uma melhor sorte no mundo, o desenrolar dos acontecimentos vão progredindo de forma cronológica, ajudando tanto o espectador a se situar no tempo e espaço, como também a protagonista a ir se acostumando com a proposta de mergulhar no seu passado.
Anna Karina chegou muito jovem em Paris. Queria ser atriz, mas acabou sendo descoberta por ninguém menos do que Coco Chanel, que ao saber do seu nome de batismo – Hanne Karin Blarke Bayer – a renomeou no mesmo instante: “nada disso, você se chamará a partir de agora Anna Karina”. O apelido pegou, assim como a carreira de modelo. Chamada para desfilar para Pierre Cardin, outro olhar abençoado ficou hipnotizado pela beleza singular da garota: Jean-Luc Godard, que a chamou para uma participação mínima no curta-metragem que estava fazendo. Como o papel exigia uma cena de nudez, ela recusou. Foi o que bastou para Godard ficar ainda mais impressionado. Precisava tê-la. Não apenas em cena, mas também em sua vida. Os dois acabaram fazendo juntos O Pequeno Soldado (1963), produção polêmica que foi proibida de ser exibida nos cinemas. Quando as filmagens terminaram, ele a pediu em casamento. E um novo capítulo ali começava.
Premiada como Melhor Atriz no Festival de Berlim por sua atuação em Uma Mulher é uma Mulher (1961) – do próprio Godard, feito depois mas lançado antes de O Pequeno Soldado – e no Festival de Faro Island por A Religiosa (1966), de Jacques Rivette, ela foi musa dos principais nomes da Nouvelle Vague, com Agnés Varda (Cléo das 5 às 7, 1962), mas também além, tendo trabalhado com o italiano Luchino Visconti (O Estrangeiro, 1967), o inglês Tony Richardson (A Noite Infiel, 1969), o alemão Rainer Werner Fassbinder (Roleta Chinesa, 1976) e até com mestres de Hollywood, como George Cukor (Justine, 1969). O fim da relação com Godard, a aproximação com outro ícone, o cantor Serge Gainsbourg, a aproximação com a literatura e a redescoberta de um antigo sonho através da música, tudo acaba virando pauta.
No entanto, o mais estranho em Anna Karina: Para Você Lembrar é justamente a ausência de uma maior intimidade na narrativa. Afinal, temos a própria biografada em cena, e quem está por trás das câmeras é o marido dela. Mesmo assim, além de um breve desenho do contexto familiar maternal e dos seus relacionamentos amorosos mais notórios, com Godard e Gainsbourg, há quase nada sobre a Anna Karina que passou por todos esses episódios e seguia viva e na ativa até aquele momento. Inclusive, nada é dito a respeito de sua união com Berry. Enfim, talvez seja consequência da curta duração do projeto, praticamente um média-metragem com 55 minutos. De qualquer forma, tem-se um documento de inegável importância histórica, que pode e deve ser visto como fonte de estudo e referência cultural, mas que também peca ao deixar de preencher uma lacuna de devida importância a respeito de uma mulher que, além de uma beleza arrebatadora, foi também uma fonte criativa inesgotável durante toda a sua existência.
Filme visto online no 7o BIFF: Brasília International Film Festival
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