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Sinopse

Determinados a impedir que Annabelle crie mais caos, os demonólogos Ed e Lorraine Warren trazem a boneca possuída à sala de artefatos de sua casa, isolada em um local “seguro”, protegida por um vidro sagrado e com a benção de um padre. Porém, o que os espera é uma noite de horror, à medida que Annabelle desperta os espíritos malignos na sala, que voltam suas atenções a um novo alvo – a filha de 10 anos dos Warrens, Judy, e suas amigas.

Crítica

Parte da saga Invocação do Mal, Annabelle 3: De Volta Para Casa sofre por conta de uma considerável falta de ideias – haja vista o resultado soporífero e genérico –, algo que diz respeito tanto à trama quanto à forma de desenhar o horror na telona. Após o prólogo que mostra o confinamento da famigerada boneca num armário localizado na sala dos artefatos amaldiçoados dos demonólogos Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), a produção fica dando voltas em torno da babá Mary Ellen (Madison Iseman), personagem cujos conflitos maiores são com a asma, utilizada enquanto elemento de intensificação pelo cineasta Gary Dauberman, e com a timidez diante do garoto por quem é apaixonada. Somente com a entrada em cena de sua amiga, Daniela (Katie Sarife), as coisas engrenam, ainda que seguindo caminhos exageradamente antecipáveis. Um deles concerne ao aviso, escrito com letras estilizadas, que solicita a não violação, em hipótese nenhuma, do esquife no qual o brinquedo possuído se encontra trancafiado. Claro que alguém vai abri-lo.

Em que pese a absoluta previsibilidade do filme, Annabelle 3: De Volta Para Casa ainda se ressente da falta de intensidade dramática. É pífia a construção atmosférica, inclusive porque o cineasta lança mão de recursos como as névoas artificiais que visam empurrar goela abaixo do espectador o clima de apreensão relativo à comunicação com o além. No mais das vezes, o surgimento dos fantasmas e afins é basicamente repetitivo. As ameaças surgem no segundo plano, ou seja, são visíveis à câmera, mas imperceptíveis às figuras centralizadas, e desaparecem “misteriosamente” quando a imagem se desloca ao outro lado da pessoa prestes a ser atacada ou futuramente exposta ao mal. É o tipo de procedimento que funciona se não explorado à exaustão. Aqui ele é quase onipresente. Frequentemente ressaltando o poder da fé contra o sobrenatural macabro, o longa naufraga ao tentar instilar medo e, na mesma medida, ao almejar a sedimentação das camadas “complexas”.

Annabelle 3: De Volta Para Casa mostra uma jovem punida por sua inconsequência. O pano de fundo familiar, com a morte do pai supostamente servindo para explicar a abelhudice de quem coloca em risco a vida da amiga e da filha dos Warren, Judy (Mckenna Grace), é apenas uma tentativa vã de conferir profundidade psicológica a uma personagem de importância residente na imprudência, nada mais. De maneira semelhante, a dificuldade da criança com o bullying dos colegas, que dela se afastam ao saber da profissão insólita dos pais, é uma desculpa esfarrapada, pois parcamente articulada para justificar o fato da menina estar mais cabisbaixa em determinados instantes. Indício evidente da frouxidão, a resolução desse impasse pretensamente complexo se dá convenientemente próximo ao encerramento do filme, numa mudança permitida por algo não mostrado e/ou contextualizado. Em suma, os contornos das jovens têm pouca espessura e, assim, perdem relevância.

Lento e moroso, Annabelle 3: De Volta Para Casa chega a criar passagens de humor involuntário, especialmente por conta da orquestração desajeitada de planos que intentam causar pavor. Ainda que seja bem-vindo o emprego circunstancial de jump scares, a vontade de delinear o medo simplesmente por meio da aparição surpreendente de entidades malignas, de sombras que evanescem ao menor sinal de atenção dos humanos e de deslocamentos inexplicáveis de objetos (a priori) inanimados não é exitosa. Pelo contrário, há a instauração de um aborrecimento gradativamente sufocante. Annabelle, a grande vedete dentre as ameaças que pintam e bordam na ausência do casal Warren, perde terreno aos demais espíritos por ela magnetizados como um imã demoníaco. Quando tudo parece já anódino o suficiente, eis que aparece na trama Bob (Michael Cimino), o pretendente sem graça que serve para disponibilizar à babá a instância de um romance vindouro, algo tão deslocado e descartável quando a participação banal de Patrick Wilson e Vera Farmiga.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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