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Crítica


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Sinopse

Annie vive num orfanato comandado por uma verdadeira megera. Sua sorte muda drasticamente ao ser convidada para passar uma temporada na mansão de um milionário.

Crítica

Adaptado do clássico da Broadway de Charles Strouse, Martin Charnin e Thomas Meehan, que por sua vez foi inspirado pelos quadrinhos de Harold Gray publicados a partir de 1924, Annie já possuía uma longa e bem-sucedida carreira antes de chegar aos cinemas. Com John Huston escalado para a direção e o orçamento de US$ 60 milhões, algo impressionante para a época, o filme tinha tudo para dar certo. Mesmo assim, suas duas longas horas de duração não apresentam quaisquer momentos memoráveis além da canção Tomorrow – que na estridente voz da pequena personagem-título permanece com o espectador além da sessão geralmente pelos motivos errados.

Annie (Aileen Quinn) e sua triste infância são apresentadas em Maybe, canção de abertura na qual a garota revela sua esperança em reencontrar os pais que a abandonaram ainda bebê num orfanato. Algumas notas melodramáticas depois, descobrimos que ela e as meninas da instituição são tratadas a pulso firme – e alguma violência – pela alcoólatra Miss Hannigan (Carol Burnett), no ótimo número musical embalado pela divertida It’s The Hard-Knock Life. Quando descobre a oportunidade de passar uma semana na casa do bilionário excêntrico Oliver Warbucks (Albert Finney), a garota aproveita a ocasião para descobrir mais informações sobre sua família. Por trás de seu tipo inocente reforçado pelas canções pueris, Annie esconde uma vertente manipuladora e rebelde. Ela prevalece sobre suas amigas quando lhe convém e rapidamente as descarta assim que consegue ser levada para a casa do Sr. Warbucks. Com seu jeitinho delicado, porém oportunista, pouco a pouco ela cativa todos ao seu redor e ganha tudo aquilo que deseja, como conhecer o então presidente Franklin D. Roosevelt (Edward Herrmann). Sendo assim, Annie nunca deveria servir como modelo para outras crianças, já que sua personalidade é um tanto quanto questionável – o que no entanto soa plausível considerando sua irregular criação.

Aileen Quinn, intérprete de Annie, tem algum carisma e funciona em suas múltiplas funções como cantora, bailarina e atriz, e é uma pena que sua carreira esteja inteiramente resumida neste papel. Com Albert Finney e Tim Curry como os nomes de maior destaque no elenco, quem efetivamente tem o melhor papel e performance é a hilária Carol Burnett e sua personificação para Miss Hannigan. Alcoólatra e hipersexualizada, a severa administradora do orfanato é o alívio cômico do musical, e Burnett rouba para si qualquer sequência na qual aparece. Ainda que fosse colaborador habitual do produtor Ray Stark, é no mínimo estranho pensar que John Huston foi escalado para dirigir uma produção como Annie e que o mesmo tenha aceitado, considerando suas obras precedentes e o fato deste ser o único musical a figurar entre os 47 filmes que o diretor realizou. Sua escolha para tal posto se mostra equivocada quando o diretor insiste em empregar realismo para uma história inocentemente fantasiosa – o que acaba por evidenciar toda a fraqueza de uma narrativa irregular que serve apenas como fio condutor para sequências musicais engraçadinhas. Especialmente quanto aos números musicais, toda a competência de Huston desaparece nestes registros, que não revelam qualquer inventividade para além do que poderia ser visto nos palcos.

O roteiro de Carol Sobieski faz o que pode com um enredo e personagens incorretos, intercalando pontualmente as sequências musicadas a outras de menor relevância, mas o resultado final parece ambicionar mais do que pode efetivamente atingir, soando repetitivo e um tanto quanto previsível em suas resoluções. O ritmo de Annie, que deveria ser seu principal atrativo, apresenta um descompasso errático que intercala momentos alegres com outros pretensiosamente mais sérios, como um insistente subtexto político, algumas críticas econômicas e outras sobre a grande depressão, que obviamente se perdem em meio a trama infantil. No início dos anos 1980 o gênero musical já era mais do que decadente e os últimos reais sucessos de bilheteria nos Estados Unidos ainda eram Grease: Nos Tempos da Brilhantina (1978) e The Rocky Horror Picture Show (1975) – realizados para públicos totalmente díspares daqueles que Annie pretendia atingir. O resultado amargo foi que o filme sequer arrecadou seu custo de produção em ingressos vendidos e frustrou público e crítica. História que pode/deve se repetir com o remake produzido por Will Smith, que chega aos cinemas no Natal de 2014.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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