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Sinopse

Após 5 anos de estudos em Paris, Arash não se habitua à vida francesa e decide retornar ao Irã. Com a esperança de fazê-lo mudar de ideia, seus dois amigos o convencem de partirem juntos em uma última viagem pela França.

Crítica

A mistura de viagem e amizade costuma dar certo na vida e na arte. Poucas coisas são tão divertidas do que desbravar novos caminhos ao lado de alguém que nos conhece e entende nossos sonhos e angústias. Afinal, quando não temos pouso certo, é o momento propício para revelar o que há de melhor e pior dentro de nós. A diretora suíça Maryam Goormaghtigh buscou inspiração nesse eterno tentar, que é a vida entre amigos, para fazer um dos melhores diários de viagem em forma de filme dos nossos tempos. Antes do Fim do Verão foi exibido em Cannes e na Mostra de São Paulo e tem seu grande diferencial por não querer ostentar o rótulo de ficção ou documentário. É ambos e também é nenhum. Parece confuso, mas já nos primeiros minutos o filme deixa claro o que irá oferecer ao seu espectador.

Arash, Hossein e Ashkan são estudantes iranianos que vivem em Paris. Os três são apresentados na tela de forma despreocupada, conversando no apartamento bagunçado de Arash. O rapaz acaba de se formar no curso de direito e está decidido a voltar para o Irã. Preocupados com a solidão dele, Hossein e Ashkan fazem uma proposta tentadora: aproveitar os últimos dias do amigo em solo francês para uma viagem pelo litoral. O “sim” de Arash é extensivo ao público, que embarca junto graças à câmera acolhedora de Goormaghtigh, que também é responsável pela direção de fotografia. Nem sempre quem fala está no quadro e isso é parte da ideia de que estamos diante de um registro informal. Ao lado de planos contemplativos, em que a câmera permanece parada, registrando os três homens cochilando, organizando acampamentos ou tomando banho de mar, temos um bom tempo em que a lente se debruça sobre a paisagem, seja a chuva na janela do carro ou as filas de árvores movendo-se ao sabor do vento.

Antes do Fim do Verão apresenta momentos que lembram um pouco a Trilogia da Estrada, do alemão Wim Wenders, porém com menos poesia e mais reflexões sobre a condição do imigrante na Europa. Cada nova cidadezinha visitada pelos viajantes demonstra como há um tratamento insólito dispensado a eles, pois o trio é quase sempre bombardeado com perguntas sobre seu país de origem, além dos olhares curiosos lançados sobre seus modos de vestir e se portar. A verborragia, tão comum no cinema francês, aqui ocorre em persa, já que os homens fazem questão de usar a língua-mãe quando estão reunidos. O filme mostra seu humor em elementos como o figurino. Arash é fiel às tradições iranianas, mas usa camisetas com personagens das animações dos estúdios Pixar. Oriente e Ocidente unidos em detalhes.

No quesito roteiro, não há alguma reviravolta ou acontecimento marcante no longa. Tudo é muito sutil, inclusive a transformação do trio protagonista, que passa a questionar escolhas e questões familiares a cada curva percorrida. Há um ritmo que se instaura dentro do filme e que permanece em quem o assiste mesmo depois dos créditos finais. Somos absorvidos por aquela viagem sem grandes percalços, mas repleta de descobertas. A direção feminina é sentida não nos personagens, mas no olhar que a diretora orienta que tenhamos sobre eles. Um olhar que liberta os homens das cobranças pela virilidade inabalável e o choro contido. O que os homens do filme de Goormaghtigh fazem diante de sua câmera, é o que fariam longe dos olhos do mundo. Só por esse feito, ela já merece o nosso aplauso.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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