Crítica
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Sinopse
Anderson é um jovem indígena em conflito com os líderes de sua comunidade, localizada na periferia de Manaus. As tradições mantidas por seu povo parecem ultrapassadas em relação à vida contemporânea que leva. Em busca de autoafirmação, Anderson abandona a comunidade para viver sozinho no centro da cidade, onde experimenta novos sentimentos e enfrenta outros desafios.
Crítica
São raros os filmes que retratam o povo indígena sem cair em clichês que só desenvolvem ainda mais um imaginário errôneo do público. Se diferenciando nesse aspecto, o segundo longa-metragem do amazonense Sérgio Andrade, desta vez dividindo a direção com o montador Fábio Baldo, Antes o Tempo Não Acabava, trata da história do jovem Anderson (Anderson Tikuna), de seu conflito ao decidir deixar para trás suas raízes indígenas e se inserir por completo numa cultura branca.
A relação conturbada do garoto com os costumes de sua origem é o ponto de partida de uma necessidade de autoafirmação. Se dividindo entre o trabalho em uma fábrica de ar-condicionados e o de cabeleireiro em um pequeno salão, Anderson volta para casa diariamente para constatar condições miseráveis de vida junto de sua irmã e da sobrinha que está à beira da morte. Nas andanças pela pequena favela em que mora, acaba abordado por membros de sua tribo decididos a retirar dele esse “espírito” que parece ter se apossado de seu corpo e de sua mente. E, com isto, Anderson se mostra cada vez mais revoltado e cético quanto às crenças e aos rituais religiosos do seu povo, os índios saterês.
A vida em uma metrópole como Manaus coloca gradualmente o personagem frente à cultura hegemônica branca. Tanto que o primeiro passo da mudança é reformular sua própria identidade, adotando um nome de branco, Anderson, no caso. O personagem parece não compreender muito bem como se inserir nesse universo, mas deseja de qualquer forma e que o mantenha distante de sua tribo. Na autodescoberta e no amadurecimento sexual, experimenta relações casuais com um homem e flerta com a coordenadora de uma ONG.
Diante de simbolismos e de dificuldades reais da comunidade indígena que vive nas regiões periféricas de Manaus, é necessário assistir ao filme com um olhar crítico do avanço da cultura branca e o quase desaparecimento dos costumes dos índios. No longa, existe um equilíbrio que foge do vitimismo. Se há o radicalismo dos rituais indígenas que pregam dar fim a uma criança enferma, por exemplo, a cultura branca também nega acessibilidade para o básico e de direito, como a saúde. O ceticismo de Anderson, mal sabe ele, não tem origem no extremismo de sua cultura, mas no descaso do homem branco com o seu povo.
Voltando ao desenvolvimento da narrativa sobre o amadurecimento do personagem principal, nota-se certa similaridade de Antes o Tempo Não Acabava com Mãe Só Há Uma (2016), de Anna Muylaert, devido, obviamente, à emersão desse sentimento de revolta em meio a descobertas sexuais. Anderson se assemelha muito, dentro de suas particularidades, a Pierre. A ambiguidade e o caráter explosivo das ações sem meios termos de ambos são pontos que os aproximam.
Se o filme de Muylaert parece raso por desenvolver o temperamento de seu personagem com justificativas e motivações menos substanciais, Andrade e Baldo atingem um grandioso êxito ao costurar a história junto dos conflitos culturais do personagem. A atuação de Anderson Tikuna também é na medida, muito bem desenvolvida através de olhares expressivos que refletem a complexidade que se passa. Muitas vezes, não há nem a necessidade de externar em palavras, o público nota o que se passa. Até mesmo quando fala ou grita em seu dialeto indígena é possível subentender o clamor de libertação e a confusão do íntimo. Afinal, apesar de tratar de um recorte tão próprio e regional, essa zona arenosa do amadurecimento juvenil é universal.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Renato Cabral | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Edu Fernandes | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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