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Crítica


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Sinopse

Narumi Kase está com uma desconfiança enorme e não faz ideia do que fazer. Isso porque seu marido, Shinji Kase, voltou para casa depois de dias desaparecido e, misteriosamente, parece ser outra pessoal, mais gentil e amável. O que ela nem imagina é que, na verdade, o corpo de Shinji foi assumido por um alienígena que veio anunciar uma invasão à Terra.

Crítica

Numa dinâmica narrativa em que a exceção confirma a regra, Antes que Tudo Desapareça é um filme essencialmente leve, embora fale acerca do iminente extermínio da raça humana. Na trama, três alienígenas perambulam pelo Japão a fim de preparar o terreno a uma invasão que promete dizimar os habitantes da Terra. Para adquirir ciência das coisas, já que seu sistema de aprendizado não se baseia necessariamente em palavras, mas na assimilação de conhecimento, eles extraem integralmente os conceitos das pessoas, compreendendo gradativamente o alvo de seu ataque à medida que “esvaziam” as vítimas. O foco se desloca dos aliens àqueles que funcionam como seus guias no planeta azul. Narumi (Masami Nagasawa) demora um pouco, mas descobre que Shinji (Ryûhei Matsuda) não é mais simplesmente o seu marido. Ele apresenta um comportamento estranho, algo que deixa num segundo plano o desconforto anteriormente instaurado no casal por conta da infidelidade masculina, um dado, portanto, banalmente arremessado na telona.

Paralelamente, o jornalista Sakurai (Hiroki Hasegawa) se envolve com os alienígenas juvenis Amano (Mahiro Takasugi) e Akira (Yuri Tsunematsu). A conduta violenta desta destoa da dos colegas igualmente encarregados da missão interplanetária. Ela, inclusive, protagoniza momentos cuja função dramática é desviar ligeiramente da graciosidade predominante neste longa-metragem assumido cada vez mais enquanto ficção científica com pitadas de romance. Entremeando a jornada (repetitiva) de descobertas, com os forasteiros absorvendo saberes imprescindíveis que, de forma óbvia, os aproximam da humanidade prestes a ser praticamente extinta, surgem cenas brutais, algumas sanguinolentas. Essas passagens conseguem sinalizar a carga de perigo que as presenças insólitas denotam, mas não passam de meros respiros, ou de subterfúgios para tornar sobremaneira vistosa a importância dos vínculos construídos ao largo das diferenças. Outro ponto negativo é o uso de efeitos especiais ruins, o que não ajuda no processo de fruição.

Há um instante capital em Antes que Tudo Desapareça, ao qual converge uma problemática pouco discutida. Os invasores não encontram muitos percalços em seus caminhos, mas simplesmente um deles “trava” quando diante da impossibilidade de entender o sentido do amor, a sua complexidade. A sequência, que leva Shinji por puro acaso a uma sala onde crianças cantam sob a supervisão de um padre, revela a mensagem principal do longa de Kiyoshi Kurosawa, realizador experiente, mas que aqui se deixa guiar pelo lado mais simplório de uma possibilidade expressiva como o impasse instaurado. Nesta fábula açucarada, até alguém vindo do espaço sideral sabe – ou, melhor, entende rapidamente – que não se pode viver sem amor, ou seja, é uma temeridade rouba-lo de alguém, mesmo isso gerando a sua incapacidade de definição do sentimento multifacetado. A história prossegue num processo constante de reiterações ao ponto em que se assume puramente romântica.

No que diz respeito ao aspecto visual, Kiyoshi Kurosawa constrói o mistério que circunda os extraterrestres pelo registro à distância. Mais que contextualizar os personagens na eventual amplitude dos cenários, o expediente, utilizado em oportunidades-chave, visa criar espaço entre nós e eles. Antes que Tudo Desapareça lança mão de determinados ardis, como a pronta adesão dos humanos Sakurai e Narumi aos pedidos de auxílio vindos dos "estrangeiros", isso sem criar bases suficientemente sólidas para esses comportamentos inesperados. Há uma tentativa de revestir conveniências de artifícios, nem sempre uma operação orgânica de acordo com os desdobramentos que levam à centralidade de uma paixão crescente. Tal sentimento, verdade seja dita, se assume nuclear apenas quando tudo está próximo da resolução. Embora sejam identificáveis qualidades, sobretudo no que tange ao estilo, o filme acaba sendo uma experiência tão e somente curiosa.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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