Crítica

Poetiza italiana, Antonia Pozzi só recebeu reconhecimento após sua prematura morte na década de 1930. Seus poemas foram publicados pelo pai e, desde então, muito se falou a respeito da obra de Antonia na Itália, onde nasceu e morreu. Deixando claro desde o começo que o destino da protagonista não seria dos mais felizes, o diretor Ferdinando Cito Filarmino decidiu contar a história dos últimos 10 anos de vida da artista em Antonia. Seus amores, sua arte, sua vivência. O resultado não é dos mais intrigantes, mas se sustenta como uma cinebiografia honesta.

 

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A trama começa quando a poetiza (Linda Caridi) se despede de um importante professor - e amante, apesar da diferença de idade. A ruptura entre os dois não se dá logo, só quando ele tenta comunicar o romance ao enérgico pai da moça. Arrasada, Antonia tenta o suicídio, mas é impedida pela amiga Teresita (Perla Ambrosini). O tempo passa e a escritora coloca em seus cadernos, em versos, a dor de um amor perdido, de uma vida vazia. Outras paixões vêm, decepções também. Como tantos poetas, Antonia mergulhava em seus sentimentos e seu destino acabou sendo resultado dessa turbulência emocional.

Antonia. (o título acompanha o ponto final) possui bela fotografia e locações que impressionam por motivos distintos. Ora pela reconstituição de época, ora pela beleza natural das paisagens italianas. A montagem também guarda algumas surpresas, como cortes que revelam passagens da história ou antes ou muito depois de elas acontecerem. O primeiro beijo entre a protagonista e Dino, por exemplo, só nos é mostrado muito tempo depois, mesmo que tenhamos visto o início daquele mesmo encontro minutos e minutos antes.

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Quanto ao elenco, a única figura que brilha mais intensamente é Linda Caridi, que ganha tempo para mergulhar nas idiossincrasias de sua personagem. Ela percebe o quanto sua expressão corporal contribui para o entendimento daquela mulher (a cena do disco e sua coreografia meio desengonçada é prova disso). Seus gestos largos traduzem alguém que deseja abraçar a vida, mas as decepções pesadas que se desenrolam se mostram duras demais. Por falar em corpo, Filarmino parece hipnotizado pela beleza de sua protagonista, pedindo que ela se dispa – corpo e alma – para o papel. Em alguns momentos, de forma desnecessária, diga-se.

Mesmo que tenha bons momentos, falta mais lirismo – algo que uma cinebiografia de um poeta deve esbanjar. O andamento da trama é também um problema, com fatos se acavalando sem muita fluidez. No desfecho, parece que o diretor se deu conta nos últimos minutos que precisava terminar seu filme, mostrando a decisão final de Antonia de forma abrupta.

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Antonia. não é o tipo de produção que muda a vida do espectador, mas também não é ausente de predicados que justifiquem uma conferida – até para conhecer o trabalho da poetiza italiana. Uma boa sacada é a inclusão dos poemas impressos em livro permearem a narrativa, fazendo uma espécie de flashforward interessante. Era mais desse lirismo que o longa-metragem precisava para ser memorável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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