António Um Dois Três
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Leonardo Mouramateus
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António Um Dois Três
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2017
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Brasil / Portugal
Crítica
Leitores
Sinopse
Lisboa, Portugal. António é um jovem que, após passar a noite fora de casa, é cobrado pelo pai devido a uma carta anônima que recebeu, dizendo que o filho abandonou a faculdade há cerca de um ano. Diante da situação, António foge de casa e encontra refúgio na casa de Mariana, uma ex-namorada. Lá conhece Débora, uma brasileira que alugou um quarto por um único dia, com quem acaba se envolvendo.
Crítica
Livremente inspirado na obra As Noites Brancas, do escritor russo Fiódor Dostoiévski, António Um Dois Três é o primeiro longa-metragem de Leonardo Mouramateus, cineasta brasileiro atualmente radicado em Lisboa. A menção do dado extra fílmico é importante, na medida em que ele acaba propulsionando o estrangeirismo – especialmente o não pertencimento e a singela curiosidade quanto aos novos cenários – como um estado de espírito intrínseco ao exílio, componente que perpassa sutilmente a narrativa. António (Mauro Soares) começa sendo o rapaz lisboeta que lança mão de um estratagema curioso para voltar a ter contato com a ex-namorada. Expulso de casa pelo pai então advertido de sua desistência universitária, ele bate na porta outrora muito atravessada para pedir guarita. Querendo reconectar-se com algo familiar, acaba encontrando uma novidade, especificamente Débora (Deborah Viegas), brasileira que vai passar 12 horas em Lisboa antes de embarcar para a Rússia. Os enquadramentos rígidos, individualistas, rechaçam o campo/contracampo banal.
A efemeridade do relacionamento inesperado reflete a intensidade da juventude e tudo de positivo que vem a reboque dela. Contudo, também denota certa melancolia inerente à situação, pois a celeridade, elemento que, por um lado, impede a instauração da inércia (da acomodação), por outro, também inviabiliza a maturação do vínculo. Em António Um Dois Três, como explicita seu curioso título, o protagonista passa por uma trinca de momentos distintos, nos quais é diferente, embora o mesmo na essência. É como se ele amadurecesse de um segmento para o outro, mas sem perder o que lhe torna singular. A atitude um tanto infantil de correr do pai, sujeito ciente da verdade denunciada por alguém que deseja causar uma ruptura de potencial transformador, é adiante problematizada na encenação de uma peça de teatro. Os atores questionam “o personagem”, ou seja, uma das versões de António. O jogo cênico instigante cria camadas de leitura. Arte e vida se embaralham com tamanha naturalidade que, imiscuídas, as dimensões fomentam uma unidade totalmente indivisível.
De garoto imaturo, António passa a ser colaborador de uma montagem teatral de baixo orçamento, capitaneada por um brasileiro que assume riscos. Ele ganha uns trocados fazendo bicos na piscina do clube local. As transições entre as instâncias são orgânicas, feitas sem a necessidade de uma pontuação rígida. Leonardo Mouramateus é habilidoso no cerzimento dessas consideráveis e sintomáticas transformações que dão conta de apresentar o desenvolvimento daquele que passa de menino assustado, em meio à tentativa de refugiar-se nos braços da ainda amada, a diretor capaz de traduzir Dostoiévski aos palcos com sensibilidade. Todavia, mais que a demarcação de uma retilínea jornada, pura e simples, o realizador estabelece um espaço de interlocução entre esferas sutilmente diversas, entrelaçando componentes que se nutrem mutuamente. Assim, Débora, na segunda parte, apenas aparece dormindo, sequer tendo participação efetiva, porém volta a ser notável no terço derradeiro ao retornar da Rússia e utilizar novamente Portugal como breve escala.
A transitoriedade é intrínseca ao modo como António Um Dois Três é construído. Amores passageiros; apresentações, como convém aos palcos, únicas e de efeitos súbitos; anseios transmutados de acordo com os ventos. Tudo diz respeito à poética do cotidiano que Leonardo Mouramateus cria para amalgamar tramas siamesas. É bastante rica a encenação que escancara a filiação ao teatro, vide os diálogos caracterizados por uma fértil subserviência ao texto, bem como a movimentação marcada das pessoas em cena. Paradoxalmente, há uma liberdade reveladora, vista na forma como essa gente se articula e transita social e emocionalmente. Restringir os personagens a uma tela quadrada, negando-lhes o espaço amplo da equivalente retangular, é como provocar suas vontades de expandir limites, de experimentar as possibilidades à disposição, como num fecundo jogo de cena, em que nada é definitivo, em que cada movimento tende a gerar novas versões da história a ser contada, isso independentemente da reação da plateia, dos que somente observam passivamente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 8 |
Diego Benevides | 9 |
Francisco Carbone | 9 |
Cecilia Barroso | 8 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 8 |
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