Crítica

Paul Potts é uma pessoa exatamente igual a milhares de outras em todo o mundo. Se há algo que o diferencie da maioria, no entanto, é a incrível paixão que nutre pela ópera. Porém, ao mesmo tempo em que se dedica com total entrega ao canto erudito, ele também sofre com uma baixa autoestima, acentuada por várias fatores: o físico avantajado e sempre acima do peso, a falta de apoio do pai, que é contrário ao seu empenho, e o bullying que sofre constantemente dos colegas e vizinhos. Mas, assim como tantas outras histórias em que por maiores que sejam as situações adversas elas não são suficientes para impedir alguém destinado ao alcançar seus sonhos, também Apenas Uma Chance conquista pela simplicidade e simpatia de seu protagonista. Um feito e tanto, ainda mais por se tratar de um enredo do qual qualquer pessoa mais antenada já conhece o final!

E não porque Paul Potts seja uma celebridade – o que, para sermos precisos, ele até é, porém dentro de um círculo restrito. Mas sim pela forma como ele alcançou essa notoriedade: ao ganhar o reality show Britain's Got Talent, versão americana do American Idol (ou dos nacionais Fama e Superstar, ambos da Rede Globo) e igualmente comandado pelo irascível Simon Cowell (que, aliás, é um dos produtores do filme). O roteiro de Justin Zackman (diretor e roteirista do constrangedor O Casamento do Ano, 2013, que dessa vez alcança um resultado melhor, tendo muito menos ao seu dispor), no entanto, é inteligente em não se focar nessa parte mais conhecida – porém não menos emocionante – da trajetória do artista e investigar aquilo que ficou para trás, seus anos iniciais e os tropeços e dificuldades enfrentados até a consagração. Uma aposta arriscada, mas que acaba sendo feliz em seu resultado.

Para se ter uma ideia, a competição no programa televisivo surge finalmente em cena quando restam menos de quinze minutos de projeção. Afinal, a partir daquele momento, por mais inacreditáveis que sejam, os fatos falam por si só. O que torna Paul Potts e seu sucesso tão peculiares é justamente o que ele passou até conquistar a posição que desfruta hoje, com reconhecimento do público e da crítica e se apresentando em lugares como o Royal Albert Hall para pessoas como a Rainha Elizabeth da Inglaterra. Os anos difíceis no subúrbio, o primeiro – e único – amor, a dedicação do estudo em um conservatório em Veneza, a problemática apresentação para o grande Luciano Pavarotti, os subempregos, a redescoberta do talento e muitos outros acidentes desse incrível percurso são explorados com parcimônia e delicadeza, sem apressar os passos, o que permite ao espectador não só reconhecer o protagonista, seus dramas e ambições, como também torcer por ele de maneira irremediável.

Apenas Uma Chance é quase como uma volta às origens para o diretor David Frankel, que após os incríveis sucessos de O Diabo Veste Prada (2006) e Marley & Eu (2008) realiza aqui um trabalho menor, mais discreto, porém não menos eficiente. James Corden tem sua primeira oportunidade à frente de um elenco, e a agarra com vontade e dedicação, compondo um personagem com múltiplas camadas, o que facilita a identificação com o público. Conduzido de forma bastante convencional, este é um daqueles filmes em que tudo ocorre exatamente como o esperado, e, no entanto, nos sentimos recompensados por isso. O clima geral é tão envolvente e empolgante que será difícil não se deixar levar por esse conto de fadas que, felizmente, teve um final feliz – e absolutamente real!

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