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Sinopse

Willard é um capitão do exército norte-americano que recebe a missão de assassinar o comandante das Forças Especiais, Coronel Kurtz. Este aparentemente enlouqueceu e comanda um exército de fanáticos no Camboja.

Crítica

"Às vezes me pergunto se com toda essa distância realmente estou em um relacionamento com ela; já que no momento mal consigo me relacionar comigo mesmo", reclama Chef (Frederic Forrest), um dos marujos da embarcação liderada pelo Capitão Willard (Martin Sheen), enquanto cruzam um rio vietnamita e avançam rumo a um destino que apenas o Capitão conhece. Apesar de não assumir o status quo que algumas outras citações atingiram no decorrer dos anos, ela ilustra assertivamente toda a complexidade que as nuances da história de Apocalypse Now apresenta.

A premissa do clássico filme dirigido por Francis Ford Coppola é razoavelmente simples: o Capitão Willard, depois de quase surtar dentro de um quarto de hotel por causa da abstinência do combate, recebe uma missão confidencial. Ele precisa encontrar e exterminar o Coronel Kurtz (interpretado pelo assombroso Marlon Brando, que, convenhamos, dispensa comentários), acusado de, após enlouquecer, assassinar aliados vietnamitas e fugir para as matas do Camboja. Ali ele teria fundado uma seita de fanáticos que o idolatram como a um deus. Ao subir o rio junto com sua equipe que não entende bulhufas de seu propósito, somos gradualmente apresentados ao caos que é uma guerra. Não só físico – algo que é extraordinário, por sinal; talvez as melhores cenas de combate militar do cinema estejam nesse projeto – mas principalmente mental. Chef, o marujo que tem medo de descer do barco, percebe a dificuldade de lidar consigo mesmo em certa altura da empreitada – o que lhe faz proferir a frase do início. O que permite, se estivermos atentos, compreender o fio lúcido que nos conduz à profundidade da psique de um soldado. Uns mais calejados, outros ainda aterrorizados, todos completamente entorpecidos. Eles não se conhecem. Nem a eles mesmos. Eles não sabem do que são e do que os outros são capazes de fazer. E o drama que é o dilema "matar ou morrer", por mais que seja anestesiado pela empolgação da competição instintiva, vai corroendo toda a estrutura moral e equilíbrio mental que um dia já tiveram, ao ponto de terminarem completamente desumanizados ante ao "o horror, o horror" que se refere Kurtz no clímax do filme.

Como se sabe, todo o processo de pré e produção do filme foi arrastado e desgastante. Um verdadeiro conflito se armou entre a equipe, o diretor e o elenco. Porém, a obstinação de Coppola de concluir sua genial obra conseguiu aproveitar esse clima tenso que havia por trás das câmeras. As atuações estão impecáveis! Dentro de cada arco e cada núcleo, os atores competentemente conseguem retratar as mais variadas personalidades que compõem uma zona de guerra. Partindo de Martin Sheen, que monta um perfeito arquétipo de um homem em processo de destruição, passando pela figura soberana de Marlon Brando (que topou aparecer apenas na penumbra, por estar acima do peso) que justifica a devoção de seu exército particular, até pelos coadjuvantes (como Laurence Fishburne e Harrison Ford) e culminando na incrível participação de Robert Duvall, o coronel e surfista Bill Kilgore, que nos expõe uma hilária vertente do que é uma pessoa com o senso crítico completamente abalado: enquanto alguns de seus soldados trocam tiros com vietcongues, ele ordena que outros surfem nas "ondas de dois metros". Dele também é a mais clássica frase do filme – e uma das mais marcantes da história do cinema: "Adoro o cheiro de napalm pela manhã". Apesar de extremamente profundo, Apocalypse Now ainda é sobre a Guerra do Vietnã. Ou seja: a ação do filme está à altura do seu diretor. É simplesmente sensacional! O Coronel Kilgore, antes de mandar seus homens surfarem, ataca um vilarejo enquanto os helicópteros responsáveis pelo bombardeio dançam no ar ao som de A Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner. É lindo! Da mesma forma, a fotografia de Vittorio Storaro em alguns momentos quase faz você deixar de se atentar aos diálogos, de tão bela que é a composição de cores e sobreposições que auxiliam no processo de devaneio dos personagens – e do espectador.

No fim, você não sabe exatamente o que aconteceu com o Coronel Kurtz para que seu complexo de messias começasse; da mesma forma que você não sabe o que acontece com o Capitão Willard depois da conclusão de sua missão. Mas isso acaba não sendo relevante. Coppola propõe – entre tantas coisas – uma averiguação do que acontece com o ser humano quando dele é arrancado a civilidade, e o restante é arremessado junto às outras feras da natureza. Como conclui o Coronel Kurtz, resta "o horror". Apocalypse Now é o filme definitivo sobre a guerra. Não apenas a do Vietnã, mas a Guerra no seu conceito mais amplo. Entende-se aqui o conflito entre duas existências, o velho dilema de matar ou morrer, de ser um homem em um ambiente onde a melhor chance que você tem é se reduzindo a um animal.

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Eduardo Dorneles é estudante de letras, amante de cinema, literatura, HQs e mantém um blog de crônicas e contos (edorneles.blogspot.com) .
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