Apolônio Brasil: Campeão da Alegria
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Apolônio Brasil: Campeão da Alegria
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2003
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Brasil
Crítica
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Sinopse
Crítica
Hugo Carvana há anos anunciava que desejava prestar uma homenagem honrosa à época de ouro das chanchadas no cinema brasileiro, quando as produções da Atlântida dominavam o nosso mercado nacional cinematográfico. Apolônio Brasil: Campeão da Alegria, que integrou a mostra competitiva de longas brasileiros do Festival de Gramado 2003 – onde recebeu o Grande Prêmio do Júri, uma espécie de “prêmio consolação” – é a realização desse sonho. A se lamentar, apenas, que seus intentos originais tenham ficado pelo meio do caminho.
A questão de ter sido chamado inicialmente de Tempestade Cerebral, e alterado posteriormente para o atual Apolônio Brasil, talvez revele a verdadeira natureza que se encontra por trás dessa obra singular. O filme de Carvana, aqui atuando como diretor, apresenta um resultado dúbio. Afinal, temos em cena duas tramas paralelas. E o pior: uma boa e outra bem irregular. No entanto, como não há química suficiente para conectar o público a ambas histórias, a disparidade entre elas tende a aumentar durante o desenrolar dos acontecimentos, e a sensação que se tem após a sessão é de sentimentos antagônicos: prazer e desilusão, contentamento e descaso.
Apolônio Brasil começa quando um cientista maluco (José Lewgoy, em seu papel derradeiro) reúne vários amigos do já falecido personagem-título, para que cada um conte suas memórias sobre ele e confrontem suas versões na tentativa de procurar entender quem foi o pianista. Isso porque o inventor está de posse do cérebro (!) de Apolônio, e, segundo seus estudos, ele possui a fórmula da alegria (!!) – daí o subtítulo Campeão da Alegria. Conhecendo a figura através dos relatos de quem o conheceu, talvez se consiga desvendar os segredos escondidos no disputado cérebro, numa operação que poderia render milhões e solucionar inúmeros problemas no mundo (!!!). Essa, não precisa muito esforço para perceber, é a parte complicada do filme.
Mas há mais, e a graça de Apolônio Brasil surge quando seu verdadeiro protagonista entra em cena, através das lembranças que vão sendo contadas. Vivido por Caio Junqueira (Tropa de Elite, 2007) na adolescência e por Marco Nanini quando adulto, Apolônio ganha vida com seus intérpretes e suas experiências. Misturando números musicais, bom humor, romance e a dose certa de drama, Carvana atinge suas ambições, recriando com competência um cinema para massas dotado de conteúdo e características próprias, ancorado numa tradição de anos e repleta de destaques. Entretanto, o fato de não ter se decidido por apenas essa segunda linha narrativa (a outra, moderna, não faria nenhuma falta), impede o espectador de ser presenteado com algo mais enxuto e eficiente.
Apolônio Brasil: Campeão da Alegria merece ser conferido por sua proposta original, que se destaca do panorama do cinema brasileiro, que prefere ir atrás de adaptações literárias ou seguir fórmulas mais convencionais. Afinal, em primeiro lugar está a ousadia de inovar – opções nem sempre bem empregadas, mas válidas pelo seu significado enquanto experiência. Contando ainda com um elenco estelar (com destaque para Nanini, mostrando uma excelência próxima àquela que costuma entregar nos palcos), uma trilha sonora encantadora e uma qualidade técnica de respeito. Produção nacional, sim, desde sua concepção à realização, que atinge um resultado que merece ser seguido como exemplo.
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