Crítica
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Sinopse
Sage decide pedir a ajuda da avó, Elle, para resolver uma questão complicada. As duas batem de porta em porta pedindo apoio financeiro de velhos amigos e amores da senhora. Mas, elas encontram mágoas e ressentimentos.
Crítica
É com imenso prazer que assistimos a Lily Tomlin simplesmente pegar Aprendendo com a Vovó para si e fazer deste uma jornada absolutamente deliciosa. Aos 76 anos de idade, a atriz tem aqui um dos momentos mais iluminados de sua carreira, o que não quer dizer pouco: indicada ao Oscar por sua performance em Nashville (1975), de Robert Altman, em mais de quatro décadas à frente das câmeras ela trabalhou com nomes como Carl Reiner, Woody Allen, Jim Abrahams, David O. Russell e Franco Zeffirelli, entre tantos outros. Mas poucos lhe olharam com tanto carinho e atenção como Paul Weitz, cineasta que estreou com o besteirol American Pie (1999) e aos poucos foi revelando uma sensibilidade ímpar – títulos como Um Grande Garoto (2002) e Em Boa Companhia (2004) são bons exemplos que atestam este fato – e que dessa vez cria o ambiente perfeito para o estrelato de sua estrela, porém sem excessos ou elementos desnecessários. Muito pelo contrário, tudo aqui é mínimo, o que serve para ampliar ainda mais os talentos em cena.
Realizado ao custo de meros US$ 600 mil – Robert Downey Jr. recebeu US$ 50 milhões apenas para atuar em Homem de Ferro 3 (2013), para termos uma comparação – Aprendendo com a Vovó não tem a menor vontade de se imaginar campeão de bilheteria. Aliás, é o tipo de filme que não possui pretensão alguma – e, justamente por isso, acaba conquistando sua audiência sem muito esforço. Em menos de 80 minutos acompanhamos a jovem Sage (Julia Garner), uma garota que se meteu em uma roubada não muito difícil de se imaginar: engravidou do namorado. Ainda adolescente, tem medo de recorrer à mãe (Marcia Gay Harden, tensa e controladora), e por isso acaba indo pedir ajuda à avó (Tomlin). Mas esse não está sendo um dia fácil para a velha senhora: ela recém terminou o namoro de poucos meses com uma mulher muito mais nova (Judy Greer, finalmente diante de um papel de verdade e não em mais uma ponta de prestígio, como fez recentemente em Jurassic World, Tomorrowland e Homem-Formiga, todos neste mesmo ano). Pra completar, está quebrada – em um acesso de fúria cortou todos os seus cartões de crédito e possui somente alguns trocados consigo.
É neste encontro de extremos que Aprendendo com a Vovó desenvolve sua trama. De um lado, a garota que está recém começando a vida e não sabe qual caminho seguir. Do outro, a madura e experiente que tanto já quebrou a cabeça que começa a perceber que, talvez, seja o momento de baixar um pouco a crista e começar a ser um pouco mais humilde. Uma tem o que aprender com a outra, ainda que estas lições não sejam óbvias e nem venham com anúncio prévio. Assumidamente episódico, o roteiro vai sendo elaborado a partir da necessidades das duas visitarem amigos, conhecidos, familiares a até um ex-amante em busca de quem lhe empreste a quantia mínima necessária para que a garota possa fazer um aborto e se livrar daquela situação. Veja que não há julgamento sobre sua decisão, ainda que o único momento em que talvez se questione essa postura – ao se dirigirem à clínica, são abordados por uma mãe e sua filha pequena, ambas árduas defensoras pró-vida – tenha tons de pastelão. Um deslize menor que até rende uma risada inesperada, mas termina por destoar do todo.
Neste percurso elas encontram a tatuadora Deathy (Laverne Cox, ótima), uma antiga amiga intelectual (a sumida Elizabeth Peña), o namorado da menina (Nat Wolff, mostrando versatilidade), e até um sensível machão das antigas (Sam Elliott, com boa presença e desfecho emocionante). O melhor, no entanto, ainda são os embates de Lily com a amante e com a filha. Greer e Harden, respectivamente, são boas intérpretes e seguram com tranquilidade os tipos que defendem, indo da carência à antipatia sem maiores problemas. Mas é através delas que percebemos a profundidade da personagem que Tomlin cria, aquela que sabe dos erros que cometeu no passado, mas ainda reluta a dar o braço a torcer, por mais evidente que seja a atitude certa a ser tomada. Um trabalho construído nos detalhes, em olhares e pequenos gestos, demonstrando um controle e uma segurança ímpar que somente uma veterana de longa história poderia entregar sem tropeços.
Paul Weitz oferece o seu melhor apenas em criar o cenário ideal e abrindo espaço para sua protagonista. Lily Tomlin, por outro lado, aproveita como poucas vezes antes o que lhe é oferecido, fazendo de Aprendendo com a Vovó um deleite emocional e reflexivo. É inevitável a confusão que alguns poderão incorrer entre o ser ficcional e a persona da atriz fora das telas, mas é curioso ir aos pouco se dando conta de como ela usa essa mesma percepção a seu favor, como mais um mérito a ser pontuado. Um filme absurdamente simples, e que ganha seus pontos justamente por isso. Sem reviravoltas nem surpresas de última hora, deixa de lado artifícios corriqueiros que mais servem para distrair e se apoia em diálogos afiados, figuras fortes que os defendem com razão – ainda nem sempre estejam ao lado dela – e desenlaces intensamente críveis, que envolvem pela dura realidade que abraçam, sem contornos lacrimosos ou melodramáticos. Humano, e por isso mesmo falho. E absolutamente irresistível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Marcelo Müller | 8 |
MÉDIA | 8 |
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