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Sinopse

Nate sonha em ser uma estrela da Broadway, apesar de não ser muito popular na escola e morar longe de Nova York. Quando fica sabendo de uma audição para um novo espetáculo, ele e sua melhor amiga decidem embarcar em uma aventura na cidade grande.

Crítica

Better late than never é uma expressão em inglês que poderia ser traduzida para como antes tarde do que nunca. O nome do protagonista de Apresentando Nate, como o próprio título já adianta, permite a brincadeira better Nate than never, que perde seu sentido em outras línguas – por aqui, seria antes Nate do que nunca, talvez? Na adaptação, não apenas se desfaz o trocadilho, como também fica esvaziado de significado, porque não há pressa nenhuma relacionada aos personagens em cena. Afinal, estamos falando de um garoto de apenas 13 anos com tempo suficiente para alcançar o sonho de se tornar uma estrela dos palcos. Mas como bom millennial – ou ainda mais adiante, como representante da Geração Alfa – a sensação de que tudo é para ontem permeia a narrativa do início ao fim, sem que a mesma, no entanto, se justifique. Assim, a despeito do carisma dos personagens e de uma ambientação de grande potencial afetivo aos iniciados no tema, o conjunto carece de algo a mais que torne, de fato, relevante.

Apresentando Nate é uma sacada nacional que funciona melhor do que o batismo original – é raro um acerto assim acontecer, e, por isso mesmo, merece ser reconhecido. Na história do diretor e roteirista Tim Federle (responsável pelo roteiro da animação O Touro Ferdinando, 2017, aqui estreando como realizador), tudo nasce (ou morreria, caso fosse desprovido de talento, o que felizmente não se confirma) no jovem Nate, um pré-adolescente que passa seus dias e noites aguardando pela oportunidade de liderar o elenco da montagem teatral de fim de ano da escola onde estuda. Quando é selecionado para o papel de uma “árvore”, toda sua expectativa vem abaixo, como se fosse o fim de sua jornada. Mas veja bem, ele tem pouco mais de uma década de vida. Há muito ainda a ser percorrido, mesmo que ninguém faça questão que pontuar isso – nem mesmo o próprio parece ter consciência dessa realidade.

Abalado pela notícia “devastadora”, é salvo pela melhor amiga, Libby, que descobre que no dia seguinte a produção do inédito Lilo & Stitch: O Musical estará entrevistando candidatos para a montagem que irá estrear na Broadway – sim, a real, em Nova York – nos próximos meses. Apesar de uma resistência inicial, os dois decidem pegar um ônibus – sem avisar pais ou irmãos – e viajar por muitas horas até chegar no destino almejado. A facilidade com que eles, não mais do que crianças, conseguem seguir com seus planos, denuncia o maior problema da trama: a total ausência de conflito. Esse é um filme que se esforça em prender a atenção de sua audiência mais por uma estrutura episódica, enumerando desencontros, confusões, armadilhas e soluções milagrosas de última hora como se fossem apenas tarefas a serem cumpridas em uma lista de afazeres, e menos por questionamentos ou dúvidas se irão ou não conseguir ser bem-sucedidos em suas intenções. Afinal, disso, ninguém tem dúvida.

Rueby Wood está longe de ser um novato, por mais que Nate seja sua estreia no cinema (ou no streaming, afinal, trata-se de uma produção original da Disney+). O personagem que aqui defende – e que reveste de um charme hipnotizante e uma impressionante naturalidade, tanto nos momentos mais “normais” (família, escola), como também quando se vê tendo que dançar e cantar – é bastante próximo de si mesmo. Ele próprio é um pequeno astro dos palcos, tendo sido ninguém menos do que Charlie na mais recente e bem-sucedida montagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate (2018-2019) durante a turnê norte-americana. Apesar de atuar ao lado de nomes como Aria Brooks (Harriet, 2019), como Libby, Joshua Bassett (High School Musical: A Série – O Musical, 2019-2022), como o irmão mais velho, e Lisa Kudrow, como a tia Heidi, que cai do céu para ajudar o sobrinho quando esse mais precisa, o garoto em nenhum momento é eclipsado por seus colegas, mostrando desenvoltura e segurança suficiente para justificar o interesse despertado.

Nate é uma figura adorável, e mesmo aqueles não muito afeitos pelas mesmas aspirações deverão se identificar em certo nível com o comprometimento e a força de vontade que demonstra quando em busca daquilo que mais almeja. O problema é ser tudo tão facilitado, além da previsibilidade de seus passos. É certo que se trata de um longa voltado ao público infantil, sem exagerar em características que poderiam ser apontadas como diferencial – há poucas músicas, e mesmo o universo da Broadway não chega a ser explorado de forma marcante, podendo ter sido substituído por qualquer outro exercício de recrutamento. Ao amenizar o que lhe tornaria único, é de uma provável personalidade que termina por abrir mão. Não fossem aqueles à frente dos acontecimentos e um ou outro ponto de originalidade, como a relação com a familiar distante e o desfecho emocionante muito em parte por não se permitir ousar em uma fantasia desenfreada, o resultado seria não mais do que descartável. Porém, do jeito que está, é certo que Apresentando Nate ao menos cumpre o propósito de introduzir uma figura, no mínimo, singular. Resta esperar, agora, para descobrir o que dela será feito em um eventual desdobramento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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