Crítica
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Crítica
Há um visível clima de intimidade em Aqualoucos, documentário sobre o famoso grupo de saltos ornamentais e palhaçadas do Clube de Regatas Tietê, de São Paulo, na ativa (e com sucesso) dos anos 50 aos 80. Também pudera, afinal de contas o seu diretor, Victor Ribeiro, é filho de Caçarola, um dos membros desse time que aprontava poucas e boas nos trampolins ou à beira da piscina. Tem-se, portanto, a benesse de depoimentos despojados, pois os remanescentes, além de acessarem um passado saudoso, o fazem à câmera de um conhecido. Todavia, o clima de descontração e familiaridade não é o único mérito do documentário, haja vista sua habilidade para condensar a rememoração de uma trajetória atravessada por lembranças emocionadas sem prejuízo ao viés informativo, especialmente aos que não sabem previamente acerca dos atletas de roupas listradas que mesclavam acrobacia e bom humor para criar algo irreverente.
Embora possua uma estrutura convencional, Aqualoucos é bem-sucedido no intento de deflagrar uma benigna nostalgia durante o processo de revolver o passado. Num clima leve, bem ao gosto da patota cujos integrantes atualmente exibem cabelos brancos e maturidade, Victor Ribeiro vai encadeando os fragmentos da memória de cada elemento, construindo um painel relativamente abrangente, da gênese ao ápice dos artistas/esportistas, deixando-se levar pela peculiaridade das histórias contadas. Do ponto de vista puramente cinematográfico, é sobressalente a sacada inteligente de utilizar, de determinado ponto em diante, o suspense. Gradativamente, o foco vai se distanciando da esfera mais abrangente e se fechando sobre a figura de Manolo, citado constantemente nas entrevistas como o mais louco do bando, culminando na citação da perigosa tentativa de quebrar o recorde mundial de salto em piscina.
As falas dos veteranos são entrecortadas por imagens de arquivo, sejam as estáticas ou as em movimento, principalmente oriundas de registros amadores. Aqualoucos se apropria do espírito dos então rapazes capazes de estripulias inimagináveis, com o intuito de fazer jus tonalmente à animação que os caracterizava. O precursor da atividade no Brasil, o bonachão Fiore, relembra com saudade os anos de plena juventude, mas, assim como os colegas, não parece absolutamente disposto a remoer o outrora, preferindo olhar para trás com um sorriso no rosto. Aliás, esse homem de, na época das filmagens, 84 anos, chega a se aventurar novamente nos trampolins durante certa homenagem, deixando evidente que uma vez aqualouco, sempre aqualouco, algo que o realizador procura cristalizar a todo o momento. A cumplicidade dos amigos é destacada, tornando-se força motriz do longa-metragem.
Mesmo evitando investir na melancolia intrínseca à obsolescência de elementos caros aos depoentes, Victor Ribeiro não se furta de mostrar o Clube de Regatas Tietê, cenário imprescindível aos causos contados, sendo demolido, passando por transformações solicitadas pelos novos tempos. Afora uma cena específica, em que Fiore demonstra tristeza por pisar no solo onde antes era a piscina de sua juventude, esse viés acaba sendo minimizado em detrimento de uma flagrante positividade. Aqualoucos evidentemente não foi feito com o intuito de cutucar feridas ou para lamentar o que não pôde ser realizado, pelo contrário, porque busca celebrar os feitos de uma turma animada, que soube aproveitar os verdes anos para levar riso e divertimento às arquibancadas e consolidar amizades à vida toda. Especialmente bonita é a cena final, a da comunhão dos agora senhores no ambiente que os une alegremente ao ontem.
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