Crítica
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Sinopse
Ainda abalada por não ter conseguido salvar três pessoas de um incêndio, a bombeira Hannah se depara com um novo desafio ao conhecer um menino traumatizado que não tem a quem recorrer.
Crítica
Há tantas coisas implausíveis acontecendo ao mesmo tempo durante os eventos de Aqueles que me Desejam a Morte que não causará espanto se o espectador se pegar pensando em outras coisas, longe das ações expostas na tela. Como, por exemplo, um questionamento a respeito do próprio título. Afinal, uma vez que se tem Angelina Jolie como protagonista, seria natural imaginar que a referência no batismo fizesse respeito a ela, ou seja, como se sua personagem estivesse se referindo aos que querem vê-la eliminada. Qual não será o espanto, portanto, quando, lá pelo meio da trama, se perceber que não é ela quem precisa morrer. É quase um acidente do destino que Hannah acabe envolvida com o desenrolar dos acontecimentos. Isto porque sua presença em cena está tão distante do centro da trama, que somente através de muita insistência é que será possível vê-la sendo arrastada para o que de fato está se desenrolando. Somente mais um dentre os tantos exageros desprovidos de lógica que este filme oferece ao espectador incauto.
Em sua recente autobiografia, Woody Allen fala bastante a respeito do seu alcance enquanto intérprete. “Sei que sou capaz de interpretar um intelectual, um palhaço ou até mesmo um malandro. Mas não muito mais do que isso. Ninguém vai me chamar para ser o vilão do próximo James Bond ou um cientista nuclear, porque são coisas que não sei fazer e nunca conseguiria convencer nesses papeis”, afirma o cineasta. Pois bem, esse é o tipo de lucidez que falta à Angelina Jolie, por exemplo. A vencedora do Oscar por Garota, Interrompida (1999) parece acreditar que é capaz de dar vida a qualquer personagem, por mais distante da sua natureza que seja. Como, por exemplo, a líder de um esquadrão de bombeiros aéreos que precisa lidar no exercício do seu trabalho com as condições mais adversas da natureza ao defender matas e florestas. Mais ou menos como o tipo vivido por Josh Brolin em Homens de Coragem (2017) ou por John Cena em Brincando com Fogo (2019). Josh Brolin. John Cena. E Angelina Jolie. Pois é, é isso que se tem por aqui.
Mas é claro que não aceitaria ser apenas mais um brutamontes – até porque, com uma aparência que parece pesar não mais do que 40 kg (há até uma referência a isso no filme, quando alguém diz que ela está muito magra, ao que responde: “não sou magra, sou esguia”. Oi?), isso seria ainda mais difícil. Então, buscou-se desenhar um drama em seu passado que servisse de motivação para os atos que precisa levar adiante no presente. O problema é que não basta ter deixado umas crianças morrerem em um incêndio um ano atrás, devido a um erro de julgamento quando em ação. A questão é que esse mesmo flashback é exibido duas, três, cinco vezes. É como um martelar insistente que mais atordoa do que auxilia na compreensão dos dilemas enfrentados por essa mulher. Também não será surpresa alguma que o clímax seja... adivinhe: ela tendo que salvar uma criança, no meio de um incêndio! E, dessa vez, completamente sozinha. Isso, sim, é superação!
O que de fato está errado aqui é que Aqueles que me Desejam a Morte é nitidamente o resultado de uma necessidade de se gerar um veículo para o estrelato de uma atriz que andava há um tanto afastada das telas, ao invés da urgência de se contar uma boa história. Não foi o caso de “quem seria melhor para esse roteiro”, mas “qual projeto poderia oferecer maiores chances de brilho para essa estrela?”. Baseado num best seller de aeroporto – aqueles livros tensos para serem lidos de uma só vez e esquecidos quase que automaticamente logo após – escrito por Michael Koryta, o enredo é um típico caso de “queima de arquivo”. Um contador descobriu algo que não deveria, e por isso todos ao seu redor acabam sendo mortos por bandidos impiedosos (até na sinopse é complicado driblar dos clichês). No final, restará apenas o filho dele, um garoto dono de segredos que nem mesmo ele tem ciência e que se verá tendo que confiar em uma estranha para se manter vivo.
O que, enfim, provoca algum espanto por aqui é o fato de ser Taylor Sheridan o homem no comando de tantos desencontros. Indicado ao Oscar pelo roteiro do ótimo A Qualquer Custo (2016) e premiado no Festival de Cannes pelo tenso Terra Selvagem (2017), aqui dá a impressão de ter desaprendido o que lhe teria garantido uma posição de destaque em Hollywood – assim como no recente Sem Remorso (2021), também elaborado a partir de um texto dele e igualmente problemático. Não há ninguém desejando a morte dos outros – não estão preocupados com as pessoas, e, sim, com o vazamento de informações, e somente por isso que aqueles na posse delas precisam ser eliminados. E a Hannah vivida por Angelina Jolie, além de ser mal construída – trauma banal, comportamento irresponsável (abrir um paraquedas em cima de uma picape em alta velocidade?), habilidades além do verossímil (só Lara Croft ou a Malévola em pessoa para sobreviver ao ser atingida por um raio em campo aberto, certo?) e uma necessidade absurda de querer aparentar mais do que lhe é possível não fazem, desse conjunto, uma aposta minimamente razoável. Aliás, é justamente o contrário.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Francisco Carbone | 3 |
Lucas Salgado | 4 |
Daniel Oliveira | 7 |
MÉDIA | 4.3 |
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