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Crítica


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Sinopse

Aos 50 anos, Cheyenne é um antigo astro do rock que conserva o estilo gótico em Dublin, na Irlanda. A morte do pai o obriga a voltar à cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. É então que ele se depara com uma obsessão do pai.

Crítica

Definitivamente, se há algo difícil de discordar, é de que Aqui é o Meu Lugar não é um filme dos mais fáceis. Trata-se de uma daquelas obras que já começamos gostando, seja pela estranheza provocada pelo personagem principal, seja pelo tema familiar ou ainda pelo visual cuidadoso e trabalhado. Mas o decorrer da trama, ao invés de aumentar essa admiração, se ocupa em desmontar qualquer interesse, provocando reações adversas e submetendo o espectador a uma confusão generalizada para, no fim, apostar no clichê mais convencional. Promete-se muito, e entrega-se pouco. O caso, aqui, é o típico daquele em que muita expectativa geralmente nos leva à frustração.

Produção italiana filmada nos Estados Unidos, Aqui é o Meu Lugar tem dois nomes em sua produção que respondem pela atenção detalhada que recebeu: Sean Penn e Paolo Sorrentino. O primeiro, vencedor de 2 Oscars de Melhor Ator, entrega uma performance que parece ter se bastado na sala de maquiagem e figurino – o visual chama tanta atenção que sobra pouco para o intérprete. Já o segundo, um dos cineastas da Itália atual mais premiados internacionalmente, parece tão preocupado em se posicionar como autor em sua estreia em um filme falado em inglês que desperdiça uma grande oportunidade de debater um tema sempre relevante – o nazismo e suas consequências até hoje – abrindo mão do conteúdo em nome de uma forma que cansa pela insistente repetição.

O protagonista de Aqui é o Meu Lugar é Cheyenne (Penn, obviamente inspirado por Robert Smith, do The Cure), um músico que abandonou a carreira há mais de vinte anos. Vive em estado de constante torpor em sua mansão, tendo como companhia a esposa (Frances McDormand, em participação especial), que ocupa o próprio tempo trabalhando como bombeira. Até que recebe o chamado de que o pai, que não vê desde a adolescência, está para morrer. Para assumir sua responsabilidade de filho, precisa abandonar a Dublin onde vive e seguir para os Estados Unidos – trajeto que faz de navio, por medo de voar. Como demora para chegar, encontra-o já morto. Tomado pela culpa, parte pelo interior da América em busca do homem que teria sido o carrasco do pai durante a Segunda Guerra Mundial. Decidido a cumprir a vingança paterna, precisará, no entanto, que primeiro se reencontrar e vencer suas próprias culpas e pecados, para enfim conseguir fazer justiça.

O enredo é linear e até bastante simples, podendo render uma obra competente, mas sem muito brilho. No entanto, Sorrentino procura fazer de Aqui é o Meu Lugar algo mais, e é justamente nessa pretensão em que ele se perde. Estruturado como um road movie, carece principalmente de alma, problema similar enfrentado pelo recente Na Estrada (2012), de Walter Salles. Nos deparamos com imagens exóticas, com personagens singulares, com tomadas que fogem do corriqueiro e com diálogos que buscam ser marcantes, mas há um desejo tão grande em se diferenciar que é o contrário que acontece, pois acabamos amortizados diante o excesso. Selecionado – e vencedor do Prêmio do Júri Ecumênico – para o Festival de Cannes, foi premiado também no David di Donatello, o Oscar italiano, em seis categorias, entre elas Roteiro e Trilha Sonora, para o trabalho primoroso de David Byrne, um dos poucos verdadeiros destaques do projeto. No fim, menos teria sido mais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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