Crítica
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Sinopse
Um dia na vida de Hans Castorp, que está internado num sanatório, lutando contra uma tuberculose. Por um lado, ele precisa descobrir a possibilidade da resinificação dos afetos através dos tempos e, por outro, como vencer as agruras do amor não pronunciado, uma vez que o protagonista só se declara para sua amada, Cláudia Chauchat, quando esta anuncia sua partida para enfrentar sozinha a doença que a acomete.
Crítica
Vá de coração e mente abertos para assistir ao trabalho de estreia do cineasta e filósofo Humberto Giancristofaro, Aquilo que Sobra. Baseada livremente em A Montanha Mágica, de Thomas Mann, a obra é uma daquelas que desafiam o espectador ao quebrar regras, propondo uma forma diferente de contar uma história. Como um experimento intenso que é, o longa-metragem nem sempre acerta a marca, mas é concebido de tal forma que pode ser conferido por qualquer espectador que goste do inusitado, que tenha verdadeiro fascínio pelo inesperado.
Selecionado para uma mostra de documentários na Dinamarca (embora seja um filme de ficção), Aquilo que Sobra foi corretamente visto pela comissão de seleção da CPH:DOX como “uma das obras mais estranhas e cabeça aberta do ano”. Na trama, uma história de amor que desafia tempo e espaço. De um lado, Claudia Chauchat (a atriz portuguesa Isabél Zuua). Do outro, Hans Castorp (Vicente Coelho). Através de uma narrativa onírica, na qual os personagens não ocupam o mesmo recinto em boa parte da história, vemos o casal conversar sobre desejos, doenças, oportunidades perdidas, e tudo o mais que uma conversa franca (embora distante) pudesse trazer à tona.
Se o texto por vezes chega um tanto rebuscado aos ouvidos, as sensações transmitidas pelo casal principal são muito mais inteligíveis. Aquilo que Sobra é uma daquelas produções que confiam totalmente em sua sala de edição para dar sentido a tudo que deseja transmitir. Nesse ponto, seria impossível imaginar o longa-metragem sem o ótimo trabalho da montadora Laura Magalhães, que dá a liga ao filme, calcado fortemente nos sonhos. Só assim para que passássemos do recinto de Claudia para o quarto de Hans sem maiores sobressaltos.
As performances de Zuaa e Coelho condizem com o tom mais teatral do filme, que acaba por ser um misto de cinema experimental, vídeo-arte, teatro e literatura. Giancristofaro não parece se preocupar com as amarras do audiovisual, conscientemente fazendo uma obra híbrida. Por querer criar algo diferente, não usual, o cineasta deverá enfrentar resistência ao chegar ao grande público. Ousado, não se preocupando em comunicar o espectador de forma mais didática suas intenções, talvez o filme pague por conta desse arrojo. Por essas e outras, Aquilo que Sobra parece mais uma produção voltada aos festivais. Um experimento, afinal de contas, que pode servir de pontapé inicial para uma promissora e nada previsível carreira como cineasta.
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