Crítica
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Sinopse
Renomada autora da série de livros de espionagem que acompanham o agente Argylle, Elly logo percebe que a ficção está se tornando realidade. Ela então é colocada no centro de uma teia de trapaças e assassinatos e contará com a ajuda de Aiden e do gato Alfie.
Crítica
O britânico Matthew Vaughn estabeleceu um estilo particular de abordagem cinematográfica. A julgar, principalmente, por filmes como Nem Tudo é o Que Parece (2004), Kick Ass: Quebrando Tudo (2010) e Kingsman: Serviço Secreto (2014), essa assinatura contempla releituras bem-humoradas de filões e arquétipos consagrados da história do cinema, em tramas repletas de ação hiperbólica. Há quem o defina como a mistura entre Guy Ritchie (com quem ele colaborou antigamente) e Quentin Tarantino, com destaque para um sarcasmo tipicamente britânico sobressaindo no tecido narrativo de suas releituras pop. Argylle: O Superespião reafirma essas tendências observadas no cinema de Vaughn, desta vez visando a exploração do mundo da espionagem como se ele fosse uma matrioska – aquelas bonecas russas que revelam camadas escondidas. A protagonista é Elly (Bryce Dallas Howard), escritora que está lançando o quarto volume da sua série de livros sobre o espião Argylle (Henry Cavill). Tanto que a primeira cena do longa-metragem é uma agitada missão na Grécia, cheia de movimentos estapafúrdios, lances praticamente impossíveis e interpretações propositalmente canastronas. Isso porque vemos a encenação daquilo que está escrito no candidato a best-seller. Para isso, o realizador representa a ficção impressa nas páginas deixando à mostra seus artifícios, vide o CGI pouquíssimo realista.
Prestes a colocar um ponto final em sua criação, Elly envia o manuscrito do quinto livro à sua mãe, Ruth (Catherine O'Hara), que sugere a ela evitar um encerramento aberto e escrever outro capítulo. Porém, a autora está relativamente bloqueada, não sabe como terminará a história desse agente secreto prestes a expor uma organização daquelas típicas conspiracionistas que agem nas sombras, à margem de toda e qualquer legalidade. Há diferenças de tons entre os níveis narrativos de Argylle: O Superespião. Por exemplo, os trechos encenados do livro são claramente mais antinaturais que os da realidade. Brincando com as interseções entre o real e o inventado, Matthew Vaughn propõe uma situação inusitada: e se Elly tivesse tanta propriedade sobre o mundo obscuro da espionagem que fosse capaz de “pescar” várias situações realmente acontecendo nas sombras? É mais ou menos o que sucedeu factualmente com David Chase, o criador de Família Sopranos (1999-2007), que chegou a ser interpelado por membros da máfia norte-americana por conta da fidelidade da série aos acontecimentos cotidianos do submundo mafioso. Então, Elly se torna alvo de uma caçada incessante, protegida por Aidan (Sam Rockwell), enquanto tem conversas ligeiras com o seu personagem que aparece para conselhos durante os momentos mais difíceis da empreitada. E as revelações não param por aí, mas é bom ocultá-las.
Matthew Vaughn faz de Argylle: O Superespião uma homenagem estilizada ao imaginário dos espiões, consolidado ao longo das décadas em filmes como os da saga 007 James Bond. Por isso quase todos os personagens desse longa-metragem atendem a arquétipos desse tipo de história, como o chefão vilanesco (Bryan Cranston), o hacker cuja habilidade pode desmantelar impérios criminosos (Stanley Morgan), além dos coadjuvantes que reaparecem inesperadamente vivos depois de serem dados como mortos. Completam a fatura as criptografias que precisam ser decodificadas e os arquivos comprometedores enviados a pessoas com sede de verdade. Fazendo jus ao estilo hiperbólico e reverencial que caracteriza o seu cinema, Vaughn aposta em cenas grandiosas de ação: perseguições, tiroteios e brigas entre mocinhos e bandidos. Quem é escolado na tradição dos filmes de espionagem sabe que é bom suspeitar de todos, pois os agentes duplos certamente também habitam esse mundo cinematográfico. E o roteiro de Jason Fuchs vai apresentando habilmente a verdade em parcelas, como se fosse tirando as camadas da cebola até chegar ao seu núcleo. E, cuidando aqui para não dar spoilers que possam estragar as surpresas do leitor, quando pensamos que tudo de importante foi relevado e o interesse maneirista se manifesta na habilidade de Elly como escritora, o filme oferece outras reviravoltas.
Até mesmo esse gesto pronunciado da virada absolutamente transformadora pode ser colocado na conta da vontade de Matthew Vaughn de retrabalhar o filão por meio das hipérboles, esgarçando os seus componentes até atingir um patamar que fica entre o paródico e o satírico. Isso ganha ainda mais evidência com o surgimento dos absurdos especulativos que parecem retirados de produções setentistas, sobretudo a possibilidade de controlar um corpo assassino por indução mental (com direito a gatilho). Destacam-se, ainda, o par das cenas mais empolgantes: a matança em meio a nuvens coloridas e o enfrentamento, com dezenas de baixas, que mostra certa personagem patinando numa pista de petróleo com a ajuda de duas lâminas afiadas acopladas de modo improvisado em suas botas. Aliás, esses dois instantes de Argylle: O Superespião escancaram a assinatura de Vaughn, seu manifesto favorável a um cinema que retrabalhe códigos tradicionais dentro de uma perspectiva pop hipercolorida, divertida e reverente. Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell formam uma dupla muito boa, ao mesmo tempo em fuga e indo rumo aos esclarecimentos do que está realmente motivando as perseguições e mortes. O resultado é uma ótima homenagem aos filmes de espionagem, uma tiração de sarro espirituosa que não visa ridicularizar as suas matrizes, mas as retrabalhar de modo extravagante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 4 |
Ticiano Osorio | 3 |
Alysson Oliveira | 4 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Suzana Uchôa Itiberê | 4 |
MÉDIA | 4.3 |
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