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Sinopse

Responsável pela segurança de arranha-céus, Will Ford, veterano de guerra e ex-líder da operação de resgate do FBI, é acusado de ter colocado o edifício mais alto e mais seguro da China em chamas. Cabe ao agente achar os culpados pelo incêndio, salvar sua família que está presa dentro do prédio e limpar seu nome.

Crítica

As peripécias de Dwayne Johnson em Arranha-Céu: Coragem Sem Limite fariam diversos super-heróis, tantos os da Marvel quanto os da DC, corar de inveja. No princípio da trama, há uma maltrapilha tentativa de criar cenários que comportem determinadas facilidades. O ex-militar Will (Johnson) presta serviço de inspeção de segurança no maior espigão do mundo, situado em Hong Kong. Então, ele o conhece bem. Majestoso, com seus mais de 220 andares, o prédio altamente tecnológico, aparentemente à prova de qualquer perigo, é atacado por um bando de mercenários exatamente quando a família do norte-americano está situada quase no centésimo andar. Aliás, há a delineação prévia de uma idealização doméstica. Sarah (Neve Campbell) vive a diligente e disponível mãe dos filhos desse homem que outrora salvou da morte. Aliás, a circunstância que motivou o afastamento do protagonista da ativa é marcada por uma fatalidade e seu decorrente trauma. Logo, o roteiro empilha situações estapafúrdias como sintomas da bravura do cidadão fraturado.

O cineasta Rawson Marshall Thurber manda a verossimilhança às favas, sequer concebendo lógicas internas para validar os absurdos. Temos de engolir, por exemplo, que Will escale tranquilamente o guindaste ao lado do Pérola – nome do empreendimento nababesco – por mais de 100 andares. Em praticamente cinco minutos, o homem está acima da linha do fogo, pronto para o salto no vazio com enormes probabilidades de falha. Haja suspensão de descrença. Arranha-Céu: Coragem Sem Limite é completamente calcado no heroísmo do ex-soldado que faz o impossível para garantir a integridade física dos seus. Em meio às cenas focadas, principalmente, na luta contra o improvável, é constantemente ressaltada a retidão moral de Will, sua abnegação pretensamente comovente, bem como a inteligência e a força física que o fazem invencível. Nem um arranha-céu em chamas é capaz de derrotar o astro conhecido como The Rock, ultimamente bastante empenhado em interpretar bons moços nas telonas e asseverar o surgimento dos finais felizes.

Arranha-Céu: Coragem Sem Limite subaproveita até as boas passagens em que a ação se achega do precipício. Excetuando um par de boas sequências, em que o cineasta utiliza a altura como elemento de puro suspense, o decurso do longa-metragem é absolutamente previsível, inclusive com figuras, a priori, dóceis trocando de lugar, avolumando as ameaças ao herói que chega ao cúmulo de andar na parte externa do Pérola utilizando uma corda amarrada ao corpo e silver tape a fim de proporcionar aderência no vidro (quente). Tom Cruise e seu Ethan Hunt, da saga Missão: Impossível, também ficariam impressionados com o que Dwayne Johnson faz por aqui. São necessárias muitas doses de condescendência para uma fruição sem sobressaltos. A cena de Will segurando a grande estrutura em ruínas enquanto a esposa atravessa na estreita tábua, então utilizada como ponte, é um sintoma do tom excessivo, do prevalente recorte fantasioso. Desprovido de habilidade para trabalhar os momentos marcados pelo drama, Rawson Marshall Thurber depende do carisma dos atores.

Dwayne Johnson não convence como marido devotado, embora se saia relativamente melhor enquanto pai desesperado e ganhe pontos como o fortão que salva o dia. Neve Campbell tem uma participação periférica, limitando-se a permanecer em perigo e a apertar os botões certos em instantes-chave. O dinamarquês Roland Møller encarna o vilão da vez, pura e somente a personificação do obstáculo entre Will e a família, sem nuances. Diferentemente de filmes como Inferno na Torre (1974), que investem no tônus humano e no potencial do thriller, Arranha-Céu: Coragem Sem Limite é simplesmente um veículo para Johnson consolidar-se como o maior tipo de ação da atualidade. A necessidade de centralizar tudo no ator é tão acintosa quanto a inexpressividade dos demais componentes. Os policiais locais são anódinos; o proprietário do Pérola está ali para cumprir uma função, nada mais; as crianças são exploradas como vulneráveis, sem qualquer traço desenvolvido para além do superficial. The Rock tenta ser Homem-Aranha, John McClane e até Conan, o Bárbaro, no Pérola em chamas, prestes a colapsar. Aí fica difícil.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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