Crítica
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Sinopse
Homens e mulheres cantam músicas que marcaram suas vidas, como o homem que canta e chora lembrando da mãe. Uma mulher reconstitui um complicado caso de amor. Um fã de Jorge Ben Jor utiliza a câmera para recordar as várias etapas de sua paixão por Jacira. Uma bela mulher canta a chave do epílogo de sua longa e tumultuada história de amor.
Crítica
Documentários, por sua própria definição, sempre partem de uma indagação, de uma dúvida, de um questionamento. O que tal fato, episódio ou pessoa possui de tão especial que mereça ser documentado, eternizado, guardado para a posteridade? Eduardo Coutinho, o maior documentarista vivo e em atividade do Brasil, possui uma concepção um pouco diferente. Ele não vai atrás de um episódio específico. Seu material de pesquisa, por outro lado, é muito mais amplo e, ao mesmo tempo, preciso. Coutinho se preocupa com as pessoas, com o que elas guardam dentro de si e que estão dispostas a compartilhar. E assim como na maioria dos seus trabalhos anteriores, da mesma forma é feito As Canções, seu mais recente e excelente longa-metragem.
Coutinho não sabia muito o que esperar quando decidiu colocar um anúncio no jornal e espalhar panfletos pelas ruas do Rio de Janeiro perguntando “qual a música da sua vida?” e convidando quem se interessasse a conversar a respeito. Dezenas de pessoas se manifestaram, e após uma primeira seleção mais de quarenta indivíduos, entre homens e mulheres, sentaram para uma conversa com o realizador. Destes, cerca de a metade entraram no corte final que podemos assistir agora durante os 90 minutos de projeção. O início do bate papo era sempre o mesmo, partindo da pergunta que gerou o convite. A partir daí, no entanto, cada um seguia por um caminho diferente, sem limites ou parâmetros pré-definidos.
Entre os depoimentos apresentados em As Canções chama atenção o fato de a maioria esmagadora ser relacionada com histórias de amor. Mas ainda mais curioso é perceber como, em questão de segundos, a mesma câmera que os atraiu até aquele palco é logo esquecida, e qualquer vergonha, inaptidão ou cuidado maior é deixado de lado para que cada um se abra como numa conversa entre amigos. Temos a mulher que confessa, após mais de 20 anos de relacionamento, acreditar que nunca foi amada de verdade; o marido que confessa arrependimento pelo modo como sempre tratou a esposa e que na velhice espera estar compensando o atraso; o ex-ladrão religioso que percebeu o erro de ter trocado de namorada e foi atrás da anterior, reconquistando-a; a mulher que, quando jovem, foi expulsa de casa pelos pais, carregando consigo dois filhos pequenos, e que hoje conseguiu se estabelecer profissionalmente; a viúva que durante décadas de casamento cantava diariamente para o marido, e vice-versa; ou a apaixonada que chegou a ameaçar de morte o amante, homem esse que ela divida com a esposa dele e com mais inúmeras outras. Dentre tantos relatos, talvez o mais individual seja o do jovem que lamenta a ausência do pai, falecido há alguns anos, e a saudade que sente dos poucos momentos que dividiam juntos.
De toda a filmografia de Eduardo Coutinho, o que melhor conversa com As Canções é o surpreendente Jogo de Cena (2008), grande vencedor do Prêmio Guarani 2009. Mas se aquele apostava muitas das suas cartas também no formato e na edição, combinando realidade com ficção, esse novo projeto é mais sensível e menos ambicioso. Delicado com cada entrevistado e simpático aos ouvidos dos espectadores, possui lances geniais, como a ausência de trilha sonora e o despreparo vocal percebido nos depoimentos. Afinal, que outra música seria necessária além daquelas ali expostas e que tantas histórias contam? E essa intimidade, que ocorre de modo fácil e natural, somente reforça a identificação em ambos os lados da tela. Um filme pequeno e precioso, para ser apreciado com um sorriso nos lábios e com a melodia de cada um no coração.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Edu Fernandes | 9 |
Francisco Carbone | 8 |
Bianca Zasso | 8 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 7.4 |
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