Crítica
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Sinopse
Em um hotel de luxo na Alemanha, um grupo de ministros de diferentes nacionalidades está para se reunir pronto a adotar uma manobra secreta que afetará gravemente alguns países. Além deles, também está ali um monge italiano, Roberto Salus. Um fato trágico e inesperado faz com que o encontro seja suspenso. Em um clima de dúvida e medo, inicia-se um embate: os ministros suspeitam que Salus, por meio da confissão de um deles, tenha descoberto sobre a terrível manobra, e fazem de tudo para que ele diga o que sabe.
Crítica
Em seu conjunto, é impossível ofuscar a força e a beleza com que As Confissões se apresenta em tela. Nele, acompanhamos Daniel Roché no dia do seu aniversário. Sem muito tempo para lazer, o presidente do Fundo Monetário Internacional aproveitará a localização idílica escolhida para a reunião do G8 – grupo dos países mais desenvolvidos e Rússia – para celebrar a data. Contudo, a beleza da paisagem à beira-mar, escolhida para distrair dos problemas econômicos, parece não ser suficiente frente ao peso que os anos trouxeram à consciência de Roché, que destinou um lugar entre os convidados ao monge cartuxo Roberto Salus.
Discrepante em um ambiente que exala poder, a figura do monge surpreende menos pelo contrastante espírito plácido frente à agitação dos homens de negócios ou pela vestimenta clara e larga diante dos ternos escuros e bem cortados do que pelo motivo de se fazer presente. A escolha de Salus, saberemos mais tarde, se deu em virtude da característica principal da sua ascese: o silêncio. Será ele o responsável por guardar o remorso de Roché quando este se confessar e entregar, para desespero dos demais líderes, os efeitos que o plano do G8 terá na economia mundial. Interpretada pela dupla Daniel Auteuil e Toni Servillo, respectivamente, Roché e Salus darão início a uma trama de mistério que se desdobrará em um discurso contundente sobre a crise do capitalismo.
Dirigido pelo italiano Roberto Andò (Viva a Liberdade, 2013), As Confissões procura apresentar um tema encoberto sob a estrutura de um thriller. Muito comum ao cinema norte-americano, o formato, como em Spotlight: Segredos Revelados (2015), costuma conquistar público e crítica, argumentos que de certa forma podem ter convencido – para além de qualquer preferência ideológica – o envolvimento de Servillo e Auteuil. No entanto, em pouco tempo o projeto se revela invadido pelo italianismo da direção. Não sendo um problema per se, as influências do cineasta encontram dificuldades em se adaptar à proposta.
Longe de ser clara e eficiente, a narrativa apresenta uma teoria pesada, rebuscada e lacunar, como sugerem as mais tradicionais conspirações mundiais. A linguagem visual, por sua vez, compartilha da ornamentação do compatriota Paolo Sorrentino, com movimentos de câmera preparados para o deleite visual. Entretanto, o que funciona ali não se replica aqui, e nem mesmo a montagem de Clelio Benevento (Mia Madre, 2015), que alterna momentos de maior e menor eficiência, pode imprimir uma evolução lúcida e com significância necessária às sequências pictóricas da fotografia de Maurizio Calvesi (O Primeiro que Disse, 2010).
Enquanto juntos, Servillo e Auteuil entregaram ao filme intensidade dramática digna do que se espera de grandes atores, nível que já não se mantém a partir do segundo ato do filme. A aposta em um elemento religioso, por muitos considerado antiquado, como mediador de uma época secular, surge ainda para adicionar graus de complexidade ao longa. O elemento, porém, assim como os demais destacados, sinalizam para um resultado promissor, mas que, reproduzindo o vícios das mais contestáveis obras, acaba perdendo-se em uma prepotência excessiva, transmitindo a impressão de que tamanha confiança dissimula nada mais do que uma essência frágil e insegura.
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