Crítica
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Sinopse
Titta mora há quase 10 anos num hotel na Suíça à espera de que algo aconteça de excitante em sua vida. Ao quebrar suas regras internas e trocar umas palavras com Sofia, funcionária do hotel, ele começa a ter seu terrível passado revelado.
Crítica
Antes de ter chamado a atenção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood pela maquiagem de Il Divo (2008), de ter comandado seu primeiro trabalho em solo norte-americano com Sean Penn em Aqui é o Meu Lugar (2009) e de ter conquistado louros ao redor do mundo com o impecável A Grande Beleza (2012), o diretor italiano Paolo Sorrentino já fazia filmes interessantíssimos. Em seu segundo longa-metragem, As Consequências do Amor, o cineasta já mostrava uma impressionante habilidade em contar histórias que fugissem do lugar-comum, apresentando uma inventiva câmera sempre em movimento e um elenco afiado, encabeçado pelo competente Toni Servillo. Exibido em Cannes e vencedor do David Di Donatello (o Oscar italiano) em cinco categorias – Melhor Filme, Diretor, Ator, Roteiro e Direção de Fotografia – o longa-metragem era um indício mais do que certeiro de que teríamos um grande diretor no futuro.
Na trama, acompanhamos o taciturno Titta di Girolamo (Servillo) em sua rotina pouco excitante. Morador de um hotel respeitável há anos, seu dia-a-dia não muda muito. Jogatina com seus vizinhos, repouso no saguão com o olhar perdido para a rua, injeção de heroína toda quarta-feira, às 10h da manhã. Pode soar estranho, mas Titta é metódico até com suas drogas. Demoramos a entender o que faz aquele homem naquele hotel. Uma mala cheia de dinheiro começa a nos dar algumas dicas. Sofia (Olivia Magnani), a moça que trabalha no bar do hotel, passa a chamar a atenção de Titta e ele deixa se levar por esse novo sentimento. Mal sabia que sua vida mudaria completamente ao pensar em se entregar a esse momento.
Embora tenha um título que remeta a comédias românticas, As Consequências do Amor é um filme difícil de classificar. É um drama de um homem preso a uma rotina, tem alguns momentos de ironia que poderiam encaixá-lo no gênero comédia dramática, mas sua narrativa e personagens sugerem um realismo fantástico que nunca se confirma. Talvez por termos ciência das características do cinema de Paolo Sorrentino, esperemos algo mais excêntrico. Felizmente, aqui, o diretor não cai na armadilha dos seus trabalhos posteriores em tentar emular Federico Fellini – algo que faz muito bem em A Grande Beleza, mas extrapola em A Juventude (2015). Em As Consequências do Amor, Sorrentino ainda buscava sua identidade e se sai muito bem ao não apressar o desenvolvimento da trama e de seus personagens. Ainda que todos os segredos do personagem principal sejam entregues em um diálogo bastante expositivo próximo ao terceiro ato, essa confissão faz todo o sentido dentro do universo daquele homem. Ele se abre quando encontra uma luz. Curiosamente, este facho luminoso que balança em sua frente acaba sendo o início de uma virada, mas também de sua perdição.
Toni Servillo é muito competente em construir uma expressão fechada e entediada, uma carapaça praticamente impenetrável para as pessoas que circulam em seu convívio. A única pessoa que consegue fazer essa passagem é Sofia. Mesmo que ele não a conheça bem, o encantamento por aquela figura de olhos vivazes e beleza cativante o despertam de uma longa letargia. Sorrentino parece se divertir ao construir aquele universo fechado de Titta – o tratando como um agente secreto em dados momentos devido aos seus negócios escusos.
Com câmeras ágeis, montagem extravagante e grande talento para transformar um fiapo de história em algo que engaje facilmente o espectador, Paolo Sorrentino se sobressai em As Consequências do Amor, carimbando seu passaporte para voos mais altos no futuro próximo. O prêmio do Júri em Cannes para seu trabalho em Il Divo se deu poucos anos depois, sendo que seu Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por A Grande Beleza coroou um dos cineastas italianos mais talentosos da sua geração. Aqui, é possível ver os passos iniciais para tudo isso.
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