Crítica
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Sinopse
Num ambiente legislativo majoritariamente masculino, cerca de 26 mulheres que participaram da Constituinte de 88 levantaram, de modo suprapartidário, questões para garantir igualdade de gênero, além de fomentar várias discussões que tangem aos direitos sociais e políticos. Esse filme é um breve resgate dessa história.
Crítica
O primeiro ponto positivo de As Constituintes de 88 é o resgate histórico da importância da articulação feminina no legislativo federal à discussão de tópicos concernentes a questões da igualdade de gêneros. Nesse recorte breve, porém essencial, proposto pelo cineasta Gregory Baltz, algumas coisas chamam imediatamente a atenção, sobretudo quando confrontadas com a nossa contemporaneidade bipartida, e uma das frações pouco afeita a discutir pautas inclusivas de cunho progressista. Uma delas é a união suprapartidária que colocou, no fim dos anos 80 do século 20, cerca de 26 mulheres de ideologias distintas sob uma mesma bandeira, a dos direitos femininos então em ampla discussão no plenário da câmara dos deputados. O que atualmente é lido como utopia, aqui retorna à baila pelo curta-metragem como um projeto em curso.
O realizador se vale de imagens de arquivo, tanto estáticas quanto em movimento. Esses excertos, principalmente audiovisuais, surgem com as marcas do tempo, distorções provavelmente oriundas de uma falta de recursos para restaura-las. O ruído, no entanto, é assumido como elemento estético, uma espécie de ponte para um passado não tão distante assim em que assuntos como aborto, equiparação salarial e demais demandas não eram vistas exclusivamente como reivindicações da esquerda ou de algo que a valha. Esse acúmulo de depoimentos, a maioria deles dada a emissoras de televisão, resgata um momento bastante específico em que essas mulheres clamavam por direitos em meio ao penoso processo de redemocratização do país, tentando colocar-se na linha de frente do cenário político amplamente dominado por homens.
Gregory Baltz, basicamente, dispõe os fragmentos desse outrora a fim de reforçar um movimento de união que, infelizmente, hoje soa datado, ultrapassado por uma lógica política cartesiana que rechaça outros recortes que não os partidários. São sintomáticos alguns registros, como a fotografia em que a então deputada Benedita da Silva assina um documento diante dos olhares esmagadora e majoritariamente masculinos. Essa imagem, sozinha, oferece um comentário importante acerca dos trâmites das pautas femininas avançando, naquela época, apenas se chancelados pelos homens que, via de regra, não deveriam arbitrar sobre coisas que não lhe dizem respeito. A voz é valorizada nas cenas em que o único elemento visual é a legenda com o nome da parlamentar se expressando veemente. Um bom trabalho de arqueologia e de articulação cinematográfica.
O grande pecado de As Constituintes de 88 é o seu encerramento, no qual Gregory lança mão de um efeito de gosto duvidoso – os rostos das mulheres mencionadas surgem desenhados como numa animação feita em apresentações de Power Point. Embora não diminua a importância do resgate e a forma criativa como os elementos são dispostos, essa escolha evita um fechamento mais impactante e condizente com a luta. De toda forma, Gregory Baltz revolve com afinco os baús da história, especialmente os arquivos da própria Câmara dos Deputados e da Fundação Getúlio Vargas, a fim de trazer à tona um levante de força considerável, no qual as mulheres eleitas democraticamente pelo povo lutaram, deixando de lado suas diferenças ideológico-partidárias, por entender que certas causas as tocam independentemente da bandeira e da sigla da legenda.
(Filme assistido durante a 29ª edição do Cine Ceará)
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