Crítica
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Sinopse
Lauro aparentemente tem uma vida feliz. Contente em seu casamento com Erika, ele é um pintor que consegue viver da arte. No entanto, sua infelicidade vem à tona após um encontro com Théo, amigo de infância. Os dois se embrenham pelo passado enquanto fazem um longo passeio.
Crítica
Baseado no romance Reino das Medas, de Reinaldo Santos Neves, As Horas Vulgares teve sua primeira exibição em 2011 em Vitória, no Espírito Santo, onde foi filmado. No entanto, levou cerca de dois anos para chegar, aos poucos, às salas de exibições de todo o país. Essa demora, infelizmente, poderá prejudicá-lo diante o cinéfilo mais apressado e atento às novidades do cinema nacional e suas principais tendências. Pois, se por um lado muito se fala de comédias escrachadas e de cinebiografias como apostas certas de bilheteria, entre as correntes mais autorais estão produções que apostam no diálogo, no discurso, na conversa, beirando à verborragia. Há elementos ainda similares, como o foco no público mais jovem, na desorientação familiar e profissional e num curioso e bem aproveitado uso do preto e branco e sua fotografia.
Tudo isso foi visto recentemente no premiado Febre do Rato (2011), de Claudio Assis, e também em Cores (2012), de Francisco Garcia, apenas para citar dois exemplos recentes. Rodrigo de Oliveira e Vitor Graize, ambos diretores estreantes, escapam com tranquilidade da polêmica fácil (como o primeiro) ou do vazio inútil (do segundo). Em As Horas Vulgares, o foco está nos personagens, em suas reações aos movimentos do destino e, principalmente, nas relações que estabelecem entre eles. Como o título já anuncia, as horas – que passam ininterruptamente, quer queiram ou não – podem ser vulgares, se não aproveitadas, mas também representam sentimentos perdidos, anseios esquecidos e sonhos abandonados. O que fazemos – ou não – com elas é que acaba moldando nossas personalidades, e é a partir destes registros que a condição humana irá se estabelecer. Para o bem, ou para o mal.
Lauro (João Gabriel Vasconcellos) é um pintor que já viveu uma grande paixão por Clara (Thais Simonassi), mulher essa que acabou se envolvendo também com Theo (Romulo Braga), o melhor amigo dele. A incompletude existencial de Lauro, no entanto, está além deste imbróglio amoroso. Sua dor é mais profunda, e mesmo amparado por uma ciranda diversa de amigos, que lhe fazem companhia em noites regadas a muita bebida e música, ele não parece conseguir encontrar a paz que tanto anseia. As desilusões do passado parecem representar um problema que ainda persiste, porém já superado – ou seja, a frustração de ter vivido estes momentos segue presente, mesmo que ele esteja resignado em não mais superá-los. Essa angústia se reflete em muitos dos seus companheiros, e não deverá se aplacar tão cedo, a não ser que se opte por caminhos mais radicais em suas existências.
João Gabriel Vasconcellos novamente encarna um personagem rico em detalhes, assim como fez no anterior Do Começo ao Fim (2009), sua estreia cinematográfica. Trata-se de um ator extremamente sensorial, que carrega muito nos olhos, emocionados e encantadores. Há muito dentro dele, e tal arrebatamento age de acordo com o sofrimento do seu personagem. Por outro lado, Romulo Braga mostra uma crueza singela, como já havia feito em O Que Se Move (2012), cuja criação aqui relembra sua participação neste outro filme. Os dois interagem como opostos que se complementam, e talvez esteja no relacionamento deles – e na escolha destes intérpretes – o maior mérito de As Horas Vulgares. Assumidamente inspirado em títulos da atual nouvelle vague francesa, como Amantes Constantes (2005), de Philippe Garrel, este é um trabalho que merece ser absorvido com cuidado, pois oferece mais do que um primeiro olhar pode revelar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
MÉDIA | 7.7 |
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