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Sinopse

Além de amigas e vizinhas, Carmen e Rosa possuem uma série de estranhas e peculiares coincidências entre si. Elas possuem o mesmo sobrenome, dão a luz no mesmo dia e seus filhos nascem no mesmo hospital. Mas quando os casais observam as crianças, eles notam que uma troca pode ter sido feita por engano e decidem dar o mesmo nome aos dois bebês para evitar maiores problemas.

Crítica

Carmen (Brenda Gandini) e Rosa (Valentina Bassi) são amigas e vizinhas de longa data. Ambas estão grávidas e entram em trabalho de parto ao mesmo tempo, dando à luz a duas meninas, ainda que Pedro (Luciano Cáceres), marido de Carmen, pelo fato de já ter duas filhas, aguardasse ansiosamente pelo nascimento de um garoto. Apesar da frustração inicial do personagem, tudo parecesse correr bem até que o companheiro de Rosa, o caminhoneiro brasileiro Ramón (André Ramiro), inicia uma discussão no hospital, acreditando que o sobrenome em comum compartilhado pelas amigas, Garcia, tenha gerado uma troca de bebês: uma criança loira foi entregue ao casal moreno (Rosa e Ramón), enquanto uma criança morena foi entregue ao casal loiro (Carmen e Pedro). Tal premissa poderia dar origem a um drama afetuoso e denso, lidando com sentimentos complexos e temas como o instinto materno/paterno, como fez, por exemplo, o japonês Hirokazu Koreeda no premiado Pais e Filhos (2013). Em As Ineses, contudo, o cineasta argentino Pablo José Meza opta pelo caminho oposto, o da comédia escrachada.

Ainda que por vezes tente injetar alguma dose de emotividade, o que prevalece no longa de Meza é o humor caricato, desde a trama composta de uma série de situações e resoluções pouco críveis às atuações em tom deliberadamente exagerado. Tal escolha resulta em um produto que se sente sempre artificial, não sendo capaz de se aprofundar nos conflitos sugeridos ou na construção de personagens e da empatia pelos mesmos e seus dilemas. Todo o foco de Meza é direcionado à tentativa de gerar a comicidade a partir, de maneira quase exclusiva, da ideia da suposta troca de bebês. Assim, ainda que no caminho o diretor passe superficialmente por questões como a do orgulho masculino ferido – a desconfiança da traição – ou o preconceito racial, nenhuma temática secundária se sustenta e diversas possibilidades de explorar arcos de interesse que pudessem dar estofo à história são deixadas de lado – como a relação conturbada entre Rosa e o ausente e mulherengo Ramón ou a tragédia que marca o passado de Carmen e Pedro.

As reviravoltas – um acidente e uma doença envolvendo personagens distintos – e as revelações entregues pelo roteiro também se mostram extremamente frágeis, expostas de modo fugaz, prejudicando ainda os atores, que acabam por oferecer interpretações em chave histriônica a estereótipos sem personalidade – cujo maior exemplo é o da sogra intrometida e supersticiosa. Exibindo uma condução burocrática, sem traços autorais perceptíveis, desde a tímida reconstituição de época – a história se passa entre as metades das décadas de 80 e 90, o que serve para justificar o prolongamento da dúvida central sobre as crianças trocadas, já que, hoje em dia, tudo se resolveria rapidamente com um teste de DNA – Meza, em seu terceiro trabalho, não demonstra também grande intimidade com o timing cômico, apostando todas as fichas no humor verbal, tendo em mãos um texto repetitivo e ingênuo, sem qualquer momento de maior inspiração – mesmo quando resvala em aspectos sociais e culturais tipicamente argentinos, como a paixão pelo futebol, com citação à Copa do Mundo de 1994, ou a crise econômica vivida na época.

Trazendo saltos temporais que soam quase aleatórios – variando de alguns meses para praticamente uma década – As Ineses apresenta uma narrativa sem ritmo, em que a noção de passagem do tempo não é sentida e eventos importantes perdem todo o seu pretendido impacto devido a um desenvolvimento apressado e sem substância. No terceiro ato, Meza até parece se desviar para um novo foco, que suscita a curiosidade: a amizade entre as duas meninas, já mais crescidas, que dão nome ao longa. Algo que, no fim das contas, não se concretiza, resultando em mais uma possibilidade não explorada. Com todas essas inconsistências, e ainda se entregando a um sentimentalismo pueril próximo ao desfecho, o trabalho do cineasta só poderia mesmo se salvar por seu potencial para a comédia familiar despretensiosa. Entretanto, da primeira à última tentativa de piada sugestiva, As Ineses se mostra uma obra inapta a provocar risos.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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