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Sinopse

Novata numa cidadezinha litorânea, a solitária Anna conhece Marnie. Logo elas se tornam grande amigas. Todavia, Anna fica cada vez mais intrigada com os mistérios de sua companheira querida.

Crítica

As animações do Studio Ghibli primam pela qualidade técnica e narrativa que faz a alegria de crianças e adultos há 30 anos. Anunciado como possível último filme da companhia, As Memórias de Marnie não deve nada aos trabalhos já lançados, seja pela sutileza do roteiro e das belas imagens pintadas como quadros à essência de suas histórias. Mais uma vez, lidamos com a passagem da vida de uma jovem solitária em sua adolescência para a descoberta de um novo mundo, ainda que, aqui, os personagens fantásticos de A Viagem de Chihiro (2001), por exemplo, deem lugar a humanos em conflito com qual lugar do mundo se encaixam.

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Assim conhecemos a história de Anna, órfã criada por pais adotivos que sofre de asma e tem graves problemas de comunicação. Sempre quieta, com dificuldade para lidar com outras pessoas, especialmente da própria idade, ela se refugia em seus desenhos pintados em um bloco. Em especial, de uma mansão à beira-mar. Quando a garota sofre um ataque muito forte, sua mãe resolve mandá-la para o interior na casa de um querido casal para que a garota respire melhor no contato com a natureza. Bem acolhida e livre para andar pelo campo, Anna se depara justamente com a mansão dos seus sonhos. Lá vive Marnie, uma garota tão solitária quanto ela e com quem cria um forte vínculo de amizade.

Como de praxe nas obras Ghibli, a narrativa é lenta e gradual, deixando muito espaço para os personagens serem desenvolvidos com seus mistérios e descobertas. Neste caso, a dúvida que paira sobre a existência de Marnie. Seria ela um fantasma, alguém do passado ou pura imaginação de Anna para fugir da solidão? Enquanto nada é revelado, o público é apresentado a cenários deslumbrantes e que, apesar de serem "do mundo real", assim digamos, contém elementos fantásticos. Um deles é a maré que separa a casa de Marnie da praia. De dia, com uma paleta de cores quente e vívida, ela está baixa, permitindo que a protagonista quase flutue sobre a água. Quando a noite, as cores dão lugar a um tom levemente sombrio, mas ainda belo. E a água sobe a ponto de quase afogar quem pretende adentrar o mar.

Um dos pontos mais importantes da obra é como se desenvolve a relação de Anna com Marnie e, especialmente, o que a garota faz para que isto aconteça. É graças a esta amizade que a protagonista começa a se libertar da falta de traquejos sociais, se permitindo ter contato não apenas com outras pessoas, mas com a própria natureza. Assim, ela anda descalça sobre a grama e o mar, se suja na lama, senta na areia da praia. Algo que na grande metrópole em que vive ela não conseguia fazer, já que nunca saía de seu quarto, apenas para ir à escola. Consequentemente, seus problemas asmáticos começam a diminuir drasticamente. Quando o delicado e belo clímax chega, a cura é percebida muito mais pelo seu emocional do que pelo aspecto físico.

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As Memórias de Marnie é mais um exemplo de como boas animações superam muito filmes chamados adultos no que se refere à sensibilidade de suas histórias. Baseado no conto da britânica Joan G. Robinson, When Marnie Was There, aqui se relata uma história de abandono, sofrimento e da superação de obstáculos através dos caminhos daquilo que todos buscam: o amor. Pode parecer clichê, mas não há nada de datado ou brega nesta pequena grande obra. Pelo contrário. Não há nada exagerado e feito com óbvias intenções de choro por parte do público, mas sim um relato emocionante e até realista sobre amizade e a relação de pais e filhos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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