Crítica
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Sinopse
Um corretor da bolsa de valores francesa leva uma vida burguesa ao lado de sua esposa nos anos 1960 na capital Paris. A chegada de uma nova empregada doméstica, a espanhola Maria, muda a rotina desse lar.
Crítica
Se o cinema brasileiro anda em baixa (basta observar os medonhos e recentes 2 Coelhos, Reis e Ratos e Billi Pig para chegar a essa conclusão), a produtividade dos nossos amigos franceses está em plena ascendência, tanto em quantidade quanto em, principalmente, qualidade. E o bom e atual exemplo é o divertido e tocante As Mulheres do 6° Andar, que alia a esse alto padrão de qualidade um sabor todo temperamental e explosivo, cortesia das irmãs espanholas que dominam grande parte da trama. E entre elas está a diva Carmen Maura, musa de Pedro Almodóvar e estrela de tantos títulos memoráveis. Sua participação aqui é pequena, quase de luxo, mas ainda assim suficiente para tornar esse programa imperdível.
Os protagonistas de As Mulheres do 6° Andar, no entanto, são dois intérpretes franceses bastante em voga no momento: Fabrice Lucchini, de Paris (2008) e As Aventuras de Molière (2007), e Sandrine Kiberlain, vista há pouco no emocionante O Pequeno Nicolau (2009). Os dois formam um casal de meia idade bastante pacato, com filhos num internato e poucos amigos. Ele vive para o trabalho, ela para as futilidades sociais. Tudo começa a mudar quando a antiga empregada da família se demite e eles precisam arrumar uma nova. Para resolver a delicada situação, recorrem aos vizinhos do prédio e conseguem a jovem María (a argentina Natalia Verbeke, de O Filho da Noiva, 2001). Ela é recém chegada em Paris e está com a tia (Maura) e outras amigas espanholas, todas trabalhando como faxineiras e moradoras do mesmo prédio, no tal sexto andar do título. Nos cinco primeiros andares, a vida é corriqueira, ordenada, ostensiva e entediante. Já no sexto e último piso pode faltar muita coisa, como um bom banheiro, água encanada e outros pequenos luxos, porém sobra alegria, descontração e companheirismo. E quando o casal Joubert entra em contato com esse mundo, mesmo que por relance através da figura da nova criada, o modo como eles próprios viam o mundo em que estavam habituados começa a mudar.
Apenas pela sinopse já é possível perceber que As Mulheres do 6° Andar pisa fundo nos estereótipos que rodeiam estes dois povos: aqui os franceses são chatos, enfadonhos, monótonos, enquanto que as espanholas são apaixonadas, vivas, quentes. Não há muitos meio termos entre as duas descrições, e esse poderia ser apontado como a principal falha da obra. Mas é algo menor, que adquire proporções quase que insignificantes diante do bom humor e das importantes lições que essa história de descobertas e mudanças de paradigmas nos oferece. Nos vemos nas atitudes daquele homem que se vê novamente apaixonado pela vida, ao mesmo tempo em compreendemos as amarras que tiraram da esposa a liberdade de sonhar. E acima de tudo conseguimos nos colocar nos mesmos lugares ocupados pelas intensas mulheres que habitam o sexto andar, que sofrem, estão longe de suas famílias, possuem diversas limitações e, ainda assim, conseguem sorrir a cada novo dia com a cabeça erguida e a certeza de que tudo irá melhorar.
Com muito bom humor e um elenco de primeira, este é um trabalho acima de tudo universal, pois encantará desde os mais desavisados até aqueles mais exigentes. Carmen Maura ganhou o César – o Oscar francês – de Melhor Atriz Coadjuvante, mas esta conquista seria melhor colocada se fosse dedicada a todo o conjunto, desde as performances absolutamente naturalistas até os diálogos primorosos escritos pelo diretor e roteirista Philippe Le Guay, um experiente realizador da televisão europeia que somente agora entrega um trabalho mais popular e, ainda assim, dono de uma inteligência bastante perspicaz. O segredo da felicidade talvez não esteja a alguns andares acima das nossas cabeças, mas certamente não está muito longe. E é isso que esse pequeno grande filme quer nos dizer: tudo é muito simples, e se olharmos com cuidado é bem possível que a solução de nossos problemas esteja muito mais próxima do que imaginamos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Ailton Monteiro | 5 |
MÉDIA | 6 |
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