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Sinopse
Yusra e Sarah Mardini são irmãs nadadores que utilizaram suas habilidades para empurrar um bote cheio de refugiados da Síria. No ano seguinte, a mais nova delas disputou s Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Crítica
O encerramento de As Nadadoras traz a informação de que atualmente há 30 milhões de refugiados no mundo. O número assustador dá a dimensão da crise global ocasionada pelo deslocamento em massa de pessoas que, em sua maioria, fogem de guerras. E esse êxodo traz consigo uma série de implicações, como a ascensão da xenofobia, manifestações (especialmente na Europa) de lógicas supremacistas e políticos extremistas jogando populações locais contra essa gente que apenas deseja sobreviver, nem que isso precise ser feito longe de casa. Esse longa-metragem baseado em fatos mostra duas irmãs sírias tendo de deixar o seu país por conta de bombardeios que transformam quintais em campos minados. Yusra (Nathalie Issa), a mais nova, tem como propósito atender as expectativas do pai (e treinador) e chegar às Olimpíadas representando a Síria em modalidades de natação. Já Sarah (Manal Issa), a mais velha, tem um comportamento rebelde quanto a isso de se tornar o que dela esperam, algo que se acentua à medida que o perigo se aproxima de sua porta. Enquanto a irmã mantém a determinação de treinar, mas é atravessada pela realidade, ela prefere se refugiar numa lógica hedonista de festas e curtição. Aliás, plasticamente é muito bonita a cena das duas dançando ao som de Titanium enquanto ao longe o que parecia ser uma chuva de fogos de artifício é um bombardeio.
A cineasta Sally El Hosaini constrói um painel familiar dos Mardini antes de tocar no assunto da migração forçada pela guerra. O pai prefere Yusra porque ela provavelmente representa a maior chance de realizar seu sonho. A mãe é o pilar forte que segura a barra diante de qualquer adversidade ou turbulência interna. E a irmãzinha caçula é o dado de fragilidade e candura. No entanto, essas características pessoais e configurações familiares não são carregadas ao longo do filme como resíduos, assim se tornando uma forma de introduzir aquilo que as protagonistas estão deixando para trás. Desse modo, a ênfase na predileção paterna não se mostra tão importante ao todo, sequer como forma de determinar algum traço da personalidade de Sarah, a filha muitas vezes preterida por ser menos adequada ao plano olímpico. Aliás, se há uma fragilidade latente em As Nadadoras é o fato de seu roteiro não prever uma investigação mais profunda dos personagens, de nadar no raso e ficar atento prioritariamente aos dados visíveis das personalidades e das índoles. Sarah é a forte, Yusra é a sensível, o primo delas é o irmão postiço, o refugiado solícito que elas encontram em determinado momento é o homem gentil que se candidata a interessa amoroso, a mãe africana é um espectro de ternura, e por aí vai. A intenção do filme é realmente se ater à crise de refugiados que limita tudo à sobrevivência.
A história real na qual As Nadadoras se baseia é naturalmente dramática. Afinal de contas, essas irmãs saíram de um território de guerra, deixaram entes queridos para trás, foram colocadas numa rota perigosa repleta de contrabandistas mal intencionados e vigilância, entraram numa aventura marítima fadada a ser malsucedida e precisaram cair na água, completando boa parte da travessia à Grécia a nado, para todos sobreviverem. Além dos mais, ainda enfrentaram fronteiras hostis, aproveitadores, agressores e dificuldades burocráticas na Alemanha quando finalmente chegaram a Berlim. E isso tudo é contado com competência por Sally El Hosaini, mesmo que falte à direção um ímpeto mais crítico quanto a responsabilidades. Ao longo da trama não somos apresentados a porquês e senões, é como se a guerra fosse algo espontâneo e mesmo o tratamento europeu é observado como hostil individualmente (os gregos fechando a janela quando refugiados chegam), nunca como o sintoma de algo maior, de uma estrutura histórica e/ou da política de Estado. Por exemplo, quando elas chegam a Alemanha e são colocadas improvisadas para morar num aeroporto desativado, vemos o lamento pelo tempo de espera e certos instantes de melancolia, mas isso não carrega, sequer, um olhar questionador à política da Alemanha quanto aos homens e mulheres que viram nela uma oportunidade de recomeçar.
Então, em que pese essa falta de uma abordagem mais diretamente crítica, As Nadadoras atinge um bom resultado pela forma como desenha a história de superação que espelha outras tantas narrativas diariamente invisibilizadas. Diante de uma trajetória naturalmente melodramática, talvez o que nos ajude a medir a competência do filme seja justamente a sua capacidade de dosar elementos para não resvalar no sensacionalismo sentimentalista. Por um lado, a cineasta aposta num expediente de gosto duvidoso quando insere repetidamente os flashbacks de situações-limite durante desafios presentes. É como se ela impusesse à personagem a sentença “você já venceu coisa pior, essa melancolia de agora é praticamente fichinha perto daquilo”, o que evidentemente simplifica bastante as coisas. Por outro lado, Sally El Hosaini trata respeitosamente a jornada das irmãs Mardini, observando com semelhante responsabilidade os dramas que se desenvolvem ao seu redor, tal como o do primo corajoso que esmorece pela demora enquanto continua acalentando o sonho de ser DJ em Berlim. Às vezes pesando a mão desnecessariamente, noutras encarando com sensibilidade as questões humanas em jogo em algo tão radicalmente dramático, a realizadora constrói um filme interessante pela bem-vinda capacidade de levar a um grande público a discussão sobre a crise dos refugiados. Uma história bem contada que compensa a predominância das aparências com um clamor por mais empatia.
Filme visto no Festival do Rio em outubro de 2022.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Lucas Salgado | 4 |
Daniel Oliveira | 4 |
Miguel Barbieri | 3 |
MÉDIA | 4.3 |
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